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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Tenho a sensação que não mudámos de ano... estou constipada desde Novembro. Ando a arrastar-me para o trabalho todos os dias. Não encontro um pingo de inspiração se esventrar as minhas entranhas. Parece tudo igual, mas ainda mais insuportável. Se calhar, à medida que nos fazemos maiores, torna-se mais complicado lidar com as ilusões (e desilusões) das mudanças de calendário. Ano novo, vida nova? Nop, same shit again. E olhem que eu fechei 2024 de boa com todos os episódios que vivi. Não sou propriamente de olhar para o copo meio vazio, mas neste momento, sinto que os meus poros exalam desesperança a quilómetros de distância. Tenho receio que 20-25 nos f#d@ a todos. E não, não o mereço. Em minha defesa, fica já registado. Pode que este arranque desengraçado seja só um reajuste hormonal. Vá sistema imunitário, colabora! Pelo amor de Deus, colabora! A única coisa de louvar é que ao fim de quase 4 anos estagnada nos 80 quilogramas, a balança finalmente cedeu. E cedeu por uma margem segura. Estou nos 78 e isso representa MUITO para mim. Especialmente numa época tramada para qualquer dieta... but I've made it! Espero que esse desbloqueio seja um bom augúrio para o resto.

 

Não tenho grandes objectivos para este ano, mas existem obviamente coisas que gostaria de melhorar. O ano passado comprometi-me a experimentar pelo menos algo novo todos os meses. Queria dominar um bocadinho a ansiedade que o desconhecido me provoca. Na minha análise, correu bastante bem, embora seja um eterno work in progress. Este ano sinto que as minhas "necessidades espirituais" são outras. Um possível namorado? Ou relação? Sim, CONTINUA nos planos. Cresci tanto nos últimos anos que gostava muito de me testar novamente na modalidade pares. As circunstâncias que me rodeiam não são as mais prósperas, MAS TEM DE DAR CERTO! Sinto uma certa nostalgia de coisas que nunca tive. E isso é MUITO URGENTE em mim. Tive várias aventuras nos últimos anos - que foram óptimas para me fazer crescer - mas nenhuma que me preenchesse totalmente como eu esperava. E estou muito consciente também de que não me abri o suficiente para que isso acontecesse. Gostava de perceber se depois de tanto aprendizado, estou pronta para testar em campo tudo o que fui interiorizando. O problema é que na modalidade pares não basta querermos. Tem de haver um OUTRO e ele NÃO APARECE. Esse é de facto o grande problema. Object not found.

 

Confesso que as previsões astrológicas que fui lendo assustaram-me um bocado. Falam em grandes mudanças para o meu signo. Em sair das zonas de conforto. Em fazer diferente para ter diferente. Em surpresas. Em negociações. Em gente que aparecerá (e provavelmente desaparecerá, como sempre). Em casamento. Será que essa cambada de garimpeiros não percebe que  estou em mudanças e negociações há não sei quantas vidas passadas? CASAMENTO? Really?  E claro, todos dizem também que será um excelente ano para os negócios. Será o que tiver de ser. Estou muito dessinteresada em projecções. Espero que seja sobretudo um ano com saúde e poucos desgostos. O resto é o resto.

Fecho o ano - espero não estar a atirar foguetes antes da festa - em profunda serenidade. Tenho-me sentido completamente feliz a fazer o que faço (e olhem que existiram muitos momentos - alguns bastante recentes - em que coloquei isso em causa). Naturalmente, um projecto profissional também é feito de ciclos. Esta linha ligeiramente ascedente está a saber-me bem. Tive o ano passado o pior Dezembro económico de sempre. Foi dificil olhar para 2024 com boa cara. Até ao Verão as vendas não mexeram o esperado, mas do Verão para cá notou-se mais entusiasmo. Sinto que talvez tenhamos todos percebido que pior não ficava. Outubro - que assinala o fim da época alta e a entrada na época baixa - foi um segundo Setembro. O Verão demorou-se e talvez por isso esteja optimista em relação ao desfecho deste trimestre. Estou empolgada com o Natal. Não me lembro de estar assim tão empolgada há muito tempo... até pondero comprar  uma árvore de Natal. Estou nesta casa há 3 anos e nunca fiz uma.

 

Este entusiasmo todo dá para desconfiar, não dá? Diria que estou plena para utilizar um adjectivo da moda. Plena e em paz. 2024 implicou um grande jogo de cintura. Se houvesse um exercício para defini-lo, eu escolheria o de uma prancha. Foi duro sem ser terrível. Soube sempre ao segundo dia, depois dos abdominais, onde até rir custa!  Sinto que cresci imenso e que - ao contrário de outros momentos na minha vida - não ofereci resistência. Entreguei-me, o que pude, ao processo e isso já é alívio suficiente para estar de consciência tranquila em relação à minha prestação. O ano não foi mau e eu também não. Sinto também que as pessoas que conheci ou quem me cruzei trouxeram-me muita coisa boa. Talvez não aquilo que eu esperava, mas - quero acreditar que sim - aquilo que eu precisava. Sinto, no geral, que não conheci ninguém nefasto e que olhando para a soma das trocas que se deram, não saí delas mais pobre. Olho para trás e sinto-me - não queria dizer agradecida - mas vou arriscar, feliz. E esta felicidade só pode vir de mim porque nenhuma das circunstâncias exteriores se alterou. E esta é talvez a grande clarividência do momento. Continuo solteira, continuo no mesmo projecto, continuo na mesma cidade, continuo com as mesmas rotinas. Portanto, o que pode ter mudado fui eu.

 

Sinto-me também mais madura. Tenho tido esta sensação estranha de observar-me como se estivesse de fora. Esta filosofia do "é o que é e não tem necessariamente de ser mau" chega com a idade. E com a vida. Quando a vivemos, claro. Tive uma psicológa que se debatia muito comigo por causa dos cenários hipotéticos que eu criava na minha cabeça e que eram só poeira que me atrasava o caminho. 10 anos depois das sessões de terapia que tivemos, acho que começo a limpar um pouco a areia que me jogava para cima. Em termos concretos, a única coisa que mudou recentemente foi a minha alimentação. Não queria atribuir-lhe esse peso todo, mas realmente tenho-me sentido óptima, com menos altos e baixos espirituais. Acho que já consegui perder algum peso porque noto a barriga ligeiramente mais pequena. Recorri recentemente aos serviços de um osteopata. Esperei 6 meses para conseguir uma vaga, mas se alguém me ia trocer o pescoço, eu queria que fosse o melhor a trocer pescoços, pelo menos para garantir que a pessoa anda por cá mais uns anos. Foi fantástico. Não foi um show-off de barulhos estranhos como se vê nas redes sociais, mas o pós sessão foi muito bom. Sinto-me mais "elástica" e todos nós sabemos como a "elasticidade" é importante nesta vida, sobretudo pós 40. Foi revitalizante e curativo.

 

Moral da história: ninguém cresce sem sair da sua zona de conforto. Ninguém cresce sozinho. Ninguém cresce sem arriscar. Portanto, aquela listinha que eu fiz no inicio do ano para me obrigar todos os meses a experimentar uma coisa diferente e que acabei por abandonar mais tarde fez muito por mim. Abandonei-a quando percebi que o sentido de dever e obrigação já faziam parte de mim. Eu devia-me coisas diferentes e eu passei a fazê-las. Agora que já se tornou mais ou menos um hábito, não quero perdê-lo. Só este ano fiz duas viagens com "desconhecidos", ou melhor com grupos com quem nunca tinha viajado ou privado o suficiente para. Nunca na minha vida o teria feito, mas este ano fi-lo. Estou profundamente orgulhosa disso, mesmo que as viagens não tenham sido - in loco - um momentão. Estou a saboreá-las melhor agora do que quando as fiz. A nossa relação com o mundo e com os outros é a viagem mais importante.

 

Sempre associei as viagens mais a pessoas do que a lugares. Ainda não estou no nível de pensá-las sozinha. Talvez nunca esteja. Não sei. Consigo ir sozinha, sei que sim, mas prefiro a companhia. Sozinha estou eu - e os meus pensamentos - a maioria dos dias. Tinha um trauma gigante com viagens. Muito devido ao meu ex. Sempre que eu me propunha a sair da minha zona de conforto, ele aproveitava para tornar as coisas um bocadinho mais dificeis. Não fizemos uma viagem juntos que fosse boa. Foram todas memoráveis, mas por más razões. Ainda bem que decidi inconscientemente a arrumar isso este ano. Agora é que me apercebo de como as viagens me aterrorizavam e de como pequenos detalhes tomam conta de nós durante anos a fio. 

 

Fartei-me de ler, este ano, que o tema do meu signo seria a cura. Ria-me cada vez que lia isso. Achava - uma vez mais - que se tinham enganado, que já estava o suficientemente curada. Enganei-me. Acho que a sensação que tenho e que não sei explicar nem colocar em palavras é exactamente essa: cura. Talvez porque tenha encontrado verdade por onde andei e amor. O meu  ano poderia resumir-se a esta imagem: o álcool em contacto com a ferida. Ardeu imenso, mas agora faz sentido. 

Hoje acordei com o sabor a segunda na boca. Fui ao ginásio, mas o treino foi uma trapalhada (éramos basicamente 3 meninas a lutar por um glúteo... e por uma barra olímpica). Começar um treino sem seguir a ordem habitual dos exercícios faz-me mal ao sistema nervoso. Fiz o que pude (mas não me tenho esforçado como devia, há muito tempo que estou a cumprir os minimos com esforço e sacríficio). Voltei a casa. Inventei um pequeno almoço que não me soube nada bem (a nova nutri jura que a proteína vegetal é mais fácil de digerir do que as outras, mas só Deus Nosso Senhor sabe o esforço que tenho feito para a conseguir engolir) e fui trabalhar. O dia está chocho e eu também estou. Desconfio que estou com a TPM (e é mesmo bom que esteja!). Sinto-me assim meio meh. Bateu aquela saudadezita de um chameguinho, mas depois lembrei-me da burocracia que isso tudo envolve. Se há coisa que as pessoas da minha idade já não suportam, essa coisa é burocracia. EM TUDO. Principalmente nas relações. Deixa estar como está. É fim de ano e estou numa fase em que sinceramente pago para não pensar.

 

Tenho trocado mensagens com o meu amigo. O da escapadinha. Tudo dentro do que já era habitual. Falamos das coisas banais do dia a dia sem grandes dramas. Com ele não há burocracia. Nunca houve. Envia-me fotos, memes, notícias e eu, às vezes, faço o mesmo. Aprecio quando me envia alguma coisa sobre algo que partilhei. Acho um gesto bonito. Não sei se consciente... mas é bom sentir que a pessoa está atenta ao que partilhámos e que as palavras não caíram no imenso vácuo que é a galáxia onde vivemos. Este fim de semana ligou-me. Videochamada. Uma novidade. Nunca tínhamos feito. Ajudou-me a instalar um programa na TV. Foi querido. Falámos um pouco enquanto ele adormecia. Temos, enquanto amigos, uma relação engraçada. E tranquila. Ninguém questiona nada. Também não dá para questionar, né. É estranho. E pacífico. Não sei porque é que continuei a falar com ele. Pergunto-me muitas vezes o porquê. Faltam-lhe uns 0,05%. Sendo muito honesta, não sei se dá para melhorar. Srá que as pessoas são mesmo como os vinhos? Não é propriamente uma pessoa com quem eu deseje estar. Ou em cima de quem me apeteça sentar. Parece-me edóneo. Agora eu não sei se edóneo é a palavra certa quando falamos de relações. Ainda p'ra mais quando venho de uma tempestade tropical chamada R. Não tenho nada com nenhum dos dois. Às vezes, penso que o me incomoda é exactamente isso: o NADA. Todos queremos pertencer - ainda que hipoteticamente - a alguma coisa ou a alguém. Todos queremos a possibilidade. Histórias sem possibilidade não são histórias memoráveis. Este meu amigo, o da escapadinha, é alguém com quem às vezes sinto que posso estar a construir alguma coisa, mas como não percebo nada disto nem quero sequer pensar muito no assunto nem me dou ao trabalho. Construir o quê mesmo? Gosto da "companhia" que ele me faz. Está ali. Onde sempre esteve.

 

Isto tudo tem sido muito confuso confesso. Estou - como disse - a evitar pensar. Não há muito em que pensar sequer. A vida é estranha às vezes e eu não sei o que é que ela me está a tentar demonstrar. Estou cansada de experiências sociológicas, quero sopas e descanso e acabar o ano no quentinho, em casa, sem sobressaltos e trepidações. Portanto, a menos que alguém decida dar 0,06% eu não me mexo do sofá (ainda por cima agora que tenho Netflix, isso é que era bom). Estou até a pensar investir num belo sofá com chaise longue incluída. Depois que uma pessoa começa a pensar no conforto que pode ter dentro de casa, não há nada que a convença mais a sair. Sinto que estou cada vez mais com menos paciência para os affairs... pode ser só uma fase, mas eu acho que é mesmo a idade. Há frases feitas e truques malabaristas aos quais já te tornaste imune e nem sequer dás crédito. Relacionar-se aos 40 não tem lá muita graça... 

Procuro redoma em vidro em bom estado de conservação para enfiar-me dentro e criopreservar-me. Calma, não é uma partida antecipada de Halloween, é só o meu desejo mais profundo neste momento. Ando a sentir-me TÃO BEM - (deixem-me colocar isto em CAPS) - TÃO BEM... que até é estranho! E não aconteceu nada de especial a não ser a vida. O trabalho pós Verão anda a acalmar, mas não de uma forma depressiva, ando cheia de ideias novas e com vontade de pô-las em prática, mas não é só isso... ando mesmo a fazer coisas and I'm so happy for that! Estou também a tentar dedicar-me mais um pouco ao ginásio, mas desta vez sozinha, sem orientação de ninguém. Consultei apenas uma nutricionista com formação em fitoterapia para ajudar-me na questão da alimentãção. Não estou a amar as omeletes de cogumelos que ela me mandou lanchar, mas o saldo geral até agora é muito positivo. Sinto-me realmente bem. Alarguei o detox às redes também. Bom, no fundo estou apenas a evitar assistir aos stories do R. Não é que ele tenha partilhado muita coisa entretanto, mas a verdade é que parece que está a ter resultado não "segui-lo". Sinto que aos poucos se vai esfumando. Tenho evitado também promover alguma partilha que suscite o contacto. Estava a precisar disto depois do drama e da tensão que ele provocou.

 

Estive de férias. Fiz uma escapadinha. Passei muito tempo na natureza e foi bom. Acho que está a ser ainda melhor agora do que no próprio momento. A novidade: não fui sozinha. Yap. Agora vocês vão ter de puxar por essas cabecinhas... Lembram-se de vos ter falado de um rapaz com quem trocava mensagens diariamente, mas que não se chegava à frente? Este, o mocinho que me levou ao Mac no nosso 1º date. Falamos há sensivelmente dois anos, já o bloqueei, já o desbloqueei, já estive sem falar com ele, já voltei a falar com ele. Deu-me um beijo horroroso da 2ª vez que fomos comer um gelado. Desisti completamente depois disso. Até que ele me falou, este Verão, de um fim de semana perto do sítio onde vivo. Convidou-me, mas eu fiz-me cara (apesar de ter reservado alojamento quase na hora). Era um sítio que eu queria muito visitar e depois de tanta experiência sociológica estranha, achei que não tinha muito a recear.

 

Foi estranho. Ele não é muito espontâneo. Nem é do toque nem do contacto físico. (eu também não). Não o acho o homem mais sexy do mundo. A barba dele incomoda-me bastante, mas confesso que tenho uma certa admiração por determinadas coisas. Coisas menos físicas (apesar dele ter tudo no sítio). Gosto que ele se mantenha firme em relação à barba e diga que se gosta de ver assim e que não a vai cortar só porque eu não gosto. Gosto que tenha uma opinião formada e fundamentada sobre vários assuntos. É uma pessoa curiosa e interessada. Não acho que tenhamos grande quimica. Já partilhei isso com ele. No passado. Aliás, ao longo dos últimos dois anos partilhei muita coisa com ele e ele nunca deixou de me falar. Teve o gesto simpático de me ceder a Netflix e enviou-me o link de um site onde posso comprar proteína mais barata. Achei muito querido. Tratou-me bem. Não me senti insegura nem incomodada... mas partilhámos o mesmo quarto. Não houve quimica, mas houve muita vida doméstica. E houve sexo também, obviamente. Não de uma forma natural. Sabíamos ambos dessa possibilidade, deixei que acontecesse. E foi estranho também. Não foi estranho de mau, mas foi estranho de estranho. Ele não é muito afetuoso e eu não me sentia muito envolvida, então foi assim uma coisa meio meh, com algumas barreiras pelo meio e pouco à vontade, mas também foi uma surpresa em determinados aspectos e eu sinceramente não sei o que pensar. Estou bem e baralhada. Não me vou iludir, nem me vou cansar a pensar nisso, sempre tive as expectativas muito baixas em relação a ele, além disso não vivemos perto um do outro e já voltámos às nossas vidinhas normais. 

 

Acho que ele é um gajo com eles no sítio. Boa pessoa e bom amigo. Sobretudo bom amigo antes de qualquer outro título. Não quero pensar muito nisto. É o que é e o que tiver de ser. É a vida e a vida deve saber o que faz. Mas acho que esta experiência, no geral, teve um efeito muito positivo. É curioso, agora que penso, partilhei fotos nossas naturalmente. Há muita coisa que faço / fiz na companhia dele ou com ele que noutras circunstâncias provavelmente não faria. Porque raio o fiz?

Nem sei por onde é que hei-de começar: pelo fim - para parecer mais épico - ou pelo século passado. Tudo o que me sucedeu aos 39 carece de explicação científica. Já lá vamos. O preâmbulo: fui de férias - regressei de férias. COM UMA GRIPE. Há lá coisa mais divertida do que passar 8 dias a tentar engolir a própria saliva e não conseguir? Não foram, obviamente, dias fantásticos, mas olhando para a big picture, correu tudo bem. Fiz muitos quilómetros e vi muita coisa. Nada impressionante na verdade. Já estou de regresso ao trabalho e à vida doméstica. Continuo exausta e abatida. Não esperem demasiada emoção. Ando drunfada de paracetamol.

 

O que é que aconteceu de relevante então? Tivemos - TAL COMO EU JÁ DESCONFIAVA E PREVIA - a oficialização da relação do R. com a "nova" namorada. No espaço de 6 meses, a criatura divorciou-se, envolveu-se comigo e voltou a meter-se numa relação. Nos próximos 6 meses, suspeito que tenha mais um filho. Visitei o perfil dele num dia, ao acaso e não havia "oficialização". Uns dias depois, voltei a visitá-lo e já havia... MAS COM UMA DATA ANTERIOR AO DIA EM QUE EU LÁ TINHA IDO CUSCAR. Houve uma certa dúvida em partilhar a notícia comigo. O porquê? Não sei. Têm palpites? Não era nada que eu já não soubesse. Oficializar uma relação no facebook para mim só significa uma coisa: AZEITE! Acho que esta manobra dele é - para além de imaturidade e falta de consciência - um contra-ataque muito direccionado à ex-mulher. Eu sou só uma peça fora do puzzle que ele não sabe bem onde encaixar. 

 

Esta urgência dele de ter que dar nomes às coisas é obviamente um defeito de criação. A história de vida dele justifica isso. Não o posso condenar. Alguém que nunca teve casa e família deseja muito ter uma. No entanto, eu não consegui lidar com a pressão. Ele precipitou-se e eu também. Lembrava-me imenso o meu ex e isso afligia-me bastante. Fui-me afastando e quando ele percebeu, não contou mais comigo e eu compreendo. Não deixa de ser uma cobardia. Às vezes sinto isso. Eu ter-me afastado porque não queria lidar com as impaciências dele e ele ter-se afastado porque viu que não me dava a volta como pode dar a alguém mais simples e menos complicado. É um misto de remorso, cobardia, tristeza e admiração, tudo junto. E é uma das misturas mais estranhas da minha vida.

 

O problema é que essas misturas estranhas trazem sempre adrenalina. Shots de vida. Pilas tesudas. Não consigo apagar da minha cabeça o melhor sexo da minha vida (pelo menos até agora). Havia muito tesão entre nós. Muito, mesmo. Não o queria propriamente para namorado, seria demasiado arriscado para alguém tão medricas como eu. Queria divertir-me. Ele disse-me uma vez que ninguém traía ninguém e não estou com vontade de testar isso... embora eu tenha descoberto, recentemente, que também tenho um lado bem perverso. Ele visualizou e reagiu a alguns stories meus durante as férias, mas desde que oficializou a dita relação, nunca mais "apareceu". Não pode, né? Eu também nunca mais postei nada. Acho que tenho algum receio de o fazer porque não sei como me vou sentir 1) se tiver alguma reacção ou 2) se não tiver nenhuma reacção. O que eu sei é que ele seguiu o seu caminho e eu tenho de seguir o meu. Fartei-me de pedir nas igrejas todas por onde andei que o saquem fora se ele não for para mim. Não é fé, é desespero.

 

Esta história sai tão fora do guião que eu temo não ter controlo sobre ela. Mais honesta não posso ser. "Não sou capaz de andar com homens casados, não gosto de  homens mais novos". Não quero dizer que nunca mais nada porque pode correr mal. Não percebo como é que eu estava a ir tão bem e a mensagem dele veio reacender tudo. Na altura em que me senti usada, fiquei muito desiludida. O meu corpo crashou, não conseguia aproximar-me dele apesar dos convites que ele me fazia. Tinha medo de me magoar. Agora, agora não posso garantir como reagiria se tivesse oportunidade e esse pensamento atormenta-me um pouco. Não vos vou mentir. Nem sei como explicar isto... mas, estando ele namorado é como se existisse também uma determinada "segurança". É mais um motivo para não podermos ter uma relação e ter uma relação com ele era o que me angustiava mais e o que eu embora desejasse, não queria... No entanto, não deixa de ser um sistema em que sempre joguei, o dos homens indisponíveis. Bom, não vale a pena tentar o capeta. Tenho de confiar no meu discernimento. Vou ser capaz. Vou aguentar-me. 

 

Contudo, volto a dizer o que já disse antes: há uma certa velocidade nisto que eu não deixo de invejar. Ele tem sido o centro da minha vida este ano e por mais que eu o queira ignorar, é evidente. Conheci-o na sequência de uma série de experiências tristes. Envolvi-me com ele. Resisti e ele desarmou-me. Quando fiquei com o coração apertado, enfiei-me num avião e fui ter com um amigo meu. O aperto não melhorou. Fui resistindo. Voltámos a falar. Apertou mais. Enfiei-me noutro avião, outra vez. Tenho a 3ª viagem deste ano agendada para Outubro. Durante as minhas férias senti-me a Elizabeth Gilbert do Eat, Pray & Love. Estou quase a dar a volta ao mundo pr'a nada. E olhem que me custa muito entrar dentro de um avião. Se ele não servir para mais nada, serviu pelo menos para uma coisa. Toda a minha vida a minha grande preocupação foi sempre a de aprender a dizer NÃO. Aprender a seleccionar. Aprender a escolher. Aprender a rejeitar. Acho que estive quase sempre errada. Tudo o que sinto que preciso é do contrário. Eu nunca disse SIM. Eu não sei como dizê-lo. Eu não consigo. 

 

É por isso que talvez esta história - e este ano - estejam de certa forma a ser tão penosos. Estão a levar-me o cebo. Não é que seja a história nem a pessoa ideais para dizer SIM, todos sabemos isso. Ele funciona num sistema diametralmente oposto ao meu. Eu sempre achei que o meu era seguro e funcional e se calhar não é tão verdade assim. Nunca se metam com crianças. Elas são terríveis.

Não me controlo né? Cá estou eu outra vez... trazendo de volta o mesmo assunto. A Solteira aqui só para vocês! Estava longe de imaginar que a vida amorosa das quarentonas fosse assim tão... animada?! Nem sei bem que adjectivo utilizar. Só sei que me sinto uma daquelas adolescentes que quer contar às amigas os pormenores todos da história, ele disse assim, ele fez assado. O último post foi uma tentativa de "encerrar" o capítulo R. ou de pelo menos colocá-lo em standby por algumas semanas (até ele se chatear com a actual ou mudar de namorada). Pensei que não iam existir mais contactos. Pelo menos por agora. Mas... no fundo, no fundo, guardava escondidinha uma esperançazinha, não vou mentir. Assim muito "inha". O último post foi escrito de acordo com a minha necessidade de arrumar tudo em gavetas (sempre a tive, não é de agora). Ou é ou não é. O problema é que na maioria das vezes não é assim tão fácil simplificar processos, quanto mais sentimentos. Existem gavetas com as quais temos de aprender a viver entreabertas. 

 

O R. enviou-me uma mensagem. Uma mensagem simples, nada comprometedora atenção! Partilhei um post antigo sobre a inauguração do espaço onde trabalho e ele enviou-me - na sequência disso - uma mensagem a dar-me os parabéns e a desejar-me muito sucesso, "mereces muito mesmo". Enterneceu o meu coração. Como sempre. Nunca ninguém me desejou tanto! Se há coisa que ele consegue fazer com muita habilidade, essa coisa é exactamente isso: pôr-me a sentir tudo à flor da pele. Respondi-lhe com um obrigada e acrescentei um coração e o emoji do beijinho, não quis parecer seca, mas também não fiz mais conversa. Hoje partilhei um story e ele reagiu com um coração. Eu disse que parecia uma adolescente, não disse? Sempre que partilho algum post a falar do meu trabalho - na página da marca que criei e que ele segue - ele também reage e é óbvio que eu GOSTO MUITO DISSO. Isto significa que ele anda atento, certo? Assim como significa também que a intenção dele não é cortar o contacto. São coraçõezinhos demais nos stories. Tal como ele disse, nós podemos ser amigos. Quando o convidei para tomarmos café, fi-lo porque tenho muitas saudades dele, de estar com ele, de falar com ele, independentemente do resto. Não sei se ele percebeu isso, se entendeu o convite assim. Só queria abraçá-lo, vê-lo, estar com ele. Ele sai fora de todos os parâmetros da minha vida e se calhar é por isso que acrescenta tanto. Não vou negar que também tenho muitas saudades de me enrolar com ele e há obviamente o perigo muito grande de nenhum dos dois se aguentar no que a isso diz respeito. Talvez seja por isso que está bom assim como está. Mas que há qualquer coisa entre nós, lá isso há.

 

Continuo a acreditar na minha teoria: ele não está totalmente descansado em relação ao nosso café pendente (nem à sua relação emergente). Creio que me anda a rondar. Claro que uma mensagem de parabéns e desejo de sucesso não significa mais do que isso, mas porque é que ele se iria incomodar? É um bom pretexto para voltar ao contacto, não é? Ou para ser lembrado. Pode ser apenas uma estratégia para não perder território. Nem sei explicar isto de outra forma, mas sinto-me muito mais triste sem notícias dele do que com notícias dele com a outra. Até porque as outras - posições que todas nós já ocupámos - podem contribuir e muito para o desenvolvimento de competências necessárias. Por vezes, quando me leio, fico assustada com as coisas que digo. A outra não me preocupa assim tanto. Não tem grande relevância para mim, mas também não me surpreende nada que daqui a dias apareçam casados. Eu não quero ocupar o lugar dela, só não quero que ele desapareça da minha vida. Pelo menos por agora (é provavelmente que me venha a arrepender do que acabei de escrever).

 

Tenho ânsias de vê-lo, nem vos passa pela cabeça. Tenho ânsias de tudo. De irmos ao Mac às tantas da noite comprar gelados enquanto ele conduz só com uma mão porque a outra está entrelaçada na minha. De caminharmos, à noite, debaixo das estrelas enquanto partilhamos coisas bonitas. De chegarmos a casa e ele sentar-me na mesa da cozinha enquanto me beija e me abraça. De irmos para o chuveiro juntos. Ele acordou qualquer coisa que estava adormecida em mim (ou que se calhar nunca tinha sido realmente acordada). E como eu acho que nunca vivi nada assim, tenho de fazer o esforço para deixar acontecer naturalmente (um formato que não casa de todo com a minha pessoa). Como eu queria que a minha amiga tivesse razão quando ela diz que é recíproco. Viajo amanhã. Durante os próximos dias teremos o acontecimento do mês: o aniversário da respectiva. Veremos quão românticas serão as declarações de amor nesse dia (e quantos corações os meus stories receberão). Uma amiga minha disse-me uma vez que eu conseguia dar-lhe a volta à cabeça em 3 tempos se realmente quisesse. Tem uma certa razão. Nunca acredito muito em mim, nem me faço valer... mas cheira-me, não sei porquê, que fui diferente para ele sem precisar me esforçar assim tanto. E tudo o que é diferente, a gente não esquece. 

Nos últimos meses tenho tentado passar mais tempo com a minha mãe. Nem sempre consigo. Não é que me falte tempo, porque tempo não me falta (comparado com outras pessoas e outras vidas tenho bastante liberdade), mas o meu trabalho consome-me tanto que preciso de intervalos longe de toda a gente. Creio que ela entende, pode não gostar, mas no fundo compreende, embora eu sinta que precisa cada vez mais de mim, da minha companhia e do meu apoio. Este ano cansei-me tanto de tanta gente que preferi estar mais com ela do que com os outros. A nossa relação tem melhorado com os anos. Melhora enquanto se esgota. Os conselhos dela têm realmente feito (mais) sentido. Muitos deles sobre o amor, as pessoas e as relações. Acho até que o humor dela se tornou mais refinado, eu que sempre substimei a sua inteligência. A minha mãe tem defeitos detestáveis, pelo menos até há bem pouco tempo eu via-os assim, mas tem se revelado uma surpresa nos últimos anos e isso de certa forma tem preenchido o meu coração. Espero que o pouco tempo que partilhamos, ela o sinta rico e especial como eu o estou a sentir. Sinto que agora somos mais melhores amigas do que alguma vez fomos. Espero que para ela o sentimento seja o mesmo. É o que esperamos sempre. Que os outros se sintam felizes connosco nas suas vidas como nós nos sentimos com eles nas nossas.

 

Nunca mais voltei a falar com o meu amigo e isso obviamente também o deve ter deixado um pouco remordido. Gosto de pensar que sim. Tenho partilhado stories e ele tem-nos visto todos. Visto e reagido. A alguns com muitos corações. A minha teoria continua a ser a mesma: suponho que ele esperava que eu fosse atrás dele e voltasse a insistir no café. Suponho. Desconfio. Não tenho a certeza. Desde essa altura que os seus stories são todos muito... românticos, digamos. Stories que eu não clico para ver, apenas visualizo no feed. A namorada é identificada, aparecem as iniciais de ambos unidas por corações, até fotos da festa da empresa onde ela trabalha validam o compromisso. Parece sério. Por um lado fico feliz, confesso. Feliz porque até agora ele parece coerente com o seu estado civil (mesmo que isso não me beneficie). Por outro, não posso negar que cada vez que vejo uma mesa posta com o pequeno almoço para dois, a minha garganta aperta. Quando nós gostamos de alguém e não queremos perder essa pessoa, não nos arriscamos. Ou porque não nos convém ou porque não queremos. Enquanto ele esteve comigo, ele não fez isso, mas eu também nunca disse nem verbalizei que queria ter uma relação com ele. Sempre me comportei da forma oposta e sempre afastei essa possibilidade, portanto assumo a minha responsabilidade quanto à táctica empregue. Essa é talvez a grande lição disto tudo. A mesma de sempre. Eu a dissimular que quero alguma coisa (querendo). Não resulta, pois claro.

 

Ele está apaixonado e não é por mim. Compreendo que eu não seja uma escolha (por todas as razões e mais algumas). Ele também não foi... mas houve muita coisa boa entre nós. Houve muita coisa boa em mim que eu pensava que não existia cá dentro. Sinto que ele me respeita assim como sinto que ele me admira. E isso também é uma forma de amor. Talvez o melhor amor que podemos oferecer aos outros. Ele foi provavelmente das poucas pessoas na minha vida que me disse coisas bonitas (e não estou a exagerar). Talvez seja melhor ficarmos assim. Ele pode até esquecer-me, mas eu prometo que não será fácil. Conto continuar a partilhar stories e a deixar de esconder-me entre as minhas quatro paredes. Talvez ele tenha vindo lembrar-me aquilo de que me estava a esquecer. Outra vez. Curiosamente, li isto recentemente numa página sobre astrologia: "você precisa parar de jogar pelo seguro e se acomodar. Você não arrisca no amor por causa do medo da rejeição que enfrentou no passado. Você aposta em pessoas que sabe que pode ter porque são confortáveis para si, mas... você merece alguém que a assuste um pouco e não quem é seguro". A história da minha vida resumida em 3 frases. Talvez eu seja o maior obstáculo da minha vida amorosa.

 

Os 40 tem sido uma lição muito dura de maturidade. Estou agradecida, mas estou combalida. Tenho plena consciência de tudo o que perdi. Saber porque perdi dezenas de coisas é positivo, mas não deixa de ser duro. O que é que se faz com isso? Tenta-se não repetir. O R. não tem consciência com o que é que mexeu, mas mexeu com tudo o que eu sempre escondi de todos. Cedi tão facilmente em tanta coisa que acabei por entrar em pânico. Ele levou-me a fazer coisas que eu nunca tinha feito na vida inclusive um teste de gravidez. Estão a imaginar como isto foi assustador para mim, não estão? Eu tive as minhas razões, mas como ele me disse uma vez, "em vez de falares comigo, desapareceste". Tem razão. Tem toda a razão. Um rapaz de 25 anos tem toda a razão. O meu ano astrológico prometia um grande amor, quando eu menos o esperasse. Um amor capaz de derreter o meu coração de gelo. Um amor capaz de me fazer voltar a acreditar porque é que a poesia existe. Terá sido ele? Ainda faltam 4 meses para 2024 terminar. Parto esta semana. Espero regressar mais leve. A vida segue. Tenhamos coragem para ela.

Parece, segundo li, que Mercúrio retrógado terminou ontem (quantas vezes é que o raio desse planetinha vai andar pr'a trás?). Li também que ficará estacionado em Leão, "nos encorajando a falar com clareza e coragem". Até que não calhava mal! "A mudança de movimento de Mercúrio é especialmente relevante para aqueles de nós nascidos com planetas em signos fixos (Touro, Leão, Escorpião e Aquário) bem como Gémeos e Virgem". Espero que tenham apreciado a minha versão Maya. Estou calminha - não porque Mercúrio encontrou finalmente um lugar de estacionamento - mas porque... ora porque continuo a ter reacções diárias aos meus stories. Desde as primeiras conversações estabelecidas para a realização da cimeira do café (sem açúcar e sem cheirinho) que não há story que não tenha o dedo do menino. Não representa obviamente nada, claro, não pode, mas... segue atento, como eu o sigo a ele. Penso que ele ainda não se retirou das negociações. Vocês não imaginam como é rídiculo - e simultaneamente cómico - alguém com a minha idade adaptar-se a estas modernices. Uso pouquíssimo o face, prefiro de longe o instagram, mas só estamos "amigados" na primeira rede (ele nunca me adicionou no insta e eu também não o fiz, se bem que no insta eu tenho uma personalidade bem mais interessante, penso eu). Tive de andar a restringir metade dos meus contactos, imagine-se! Os stories precisam de ser cirúrgicos e não mal interpretados. Partilho basicamente quadros domésticos pouco comprometedores: paisagens da praia num dia de mergulho, as máquinas do ginásio num dia de treino, esse tipo de banalidades. Às vezes, mas só às vezes, o progresso dos treinos (uma pessoa não anda a lamber o chão para depois guardar os resultados só para si) e convenhamos: os homens gostam dessas coisas, somos todos muito visuais. Porque é que eu não hei-de celebrar isso? Uma foto do pump do treino (com a pessoa vestidinha, claro) é melhor do que uma frase feita. Ele costumava reagir bastante a esse tipo de conteúdos, agora que está "namorado", não sei. Testamos? Porque é que eu não hei-de me promover? Uma mulher bonita, inteligente, patroa, se ele não quer, pode haver outro que queira.

 

Esta experiência não deixa de ser um laboratório de inovação (como são todas as que nos permitem isso). Quando abri o facebook esta manhã, (tenho de abrir sempre por causa do trabalho), dei de caras com esta frase: "se você não está buscando um nome específico nas visualizações do seu story, seu equilibrio mental está em dia". Curiosamente o que me veio à mente foi isto: já estive dos dois lados e é uma tristeza, um autêntico deserto, não ter por quem procurar. Eu - que sempre me achei uma alma velha e solitária - à medida que a idade avança, tenho vindo a perceber que a vida tem muito mais graça ao lado dos outros e com os outros e os outros são naturalmente imperfeitos. Não quero com isto dizer que temos de fechar os olhos a tudo e mais alguma coisa; não, não é isso, mas temos de ter a capacidade de conseguir conviver com ambas as partes. Com as nossas também. Há 20 anos atrás eu não pensaria assim. Seria muito mais radical. Nunca teria olhado para ele nem lhe dado dois minutos da minha atenção (quanto mais a minha preciosa - ouvi esta referência num podcast com a Tânia Graça e achei delicioso). É preciso um jogo de cintura muito grande para praticar a aceitação, não é? É preciso também alguma maturidade. Levo um ano profissional do mais esgotante. Tive dezenas de situações caricatas com clientes e fornecedores, episódios desagradáveis que exigiram imensa energia para os gerir sem lhes endereçar um grande pirete em vez de melhores cumprimentos. Não imaginam como me sinto esgotada. Gerir um negócio e dar a cara por ele é das coisas mais duras que há. Quem está atrás de um balcão tem neste momento uma visão terrorífica da humanidade. Fui-me muito abaixo este ano. É por isso que as crianças são simples. Elas dizem o que pensam. E é por isso que o meu amigo, uma criança também, era um bálsamo. A vida para ele resume-se a coisas bem simples e eu aprecio muito as pessoas que trazem leveza e simplicidade à minha vida. Ao lado dele, eu não pensava muito. Conseguia desligar o quadro e baixar as luzes por um minuto. É raro isso acontecer, mas é muito bom quando acontece. 

 

Acho que sempre procurei simplificar as coisas a preto e branco e a verdade é que há imensos tons de cinzento nas nossas vidas. À medida que cresço tenho cada vez mais noção disso. Noção de que não posso continuar a polarizar o mundo em duas partes: os bons e os maus. É um ajuste directo dificil. Os novos discursos do amor próprio - que defendo a 100% - vieram impolar muito os extremos. Toda a gente é tóxica (o que não é mentira) e tudo o que te consome energia (não é saudável). Eu lido com muitos clientes dificeis, com gente com auras tão escuras que nem dá para ver bem de que cor elas são, mas se os enxotasse porta fora sempre que eles se aproximam de mim, estaria na falência (ou a trabalhar por conta de outrem e a queixar-me do patrão). Tento aguentá-los conforme posso, uns dias melhor, outros dias pior. Preciso deles assim como espero que eles continuem a precisar de mim (não todos os dias claro, mas quanto mais vezes, melhor). As relações não são um negócio, mas implicam trocas e paciência. Considero-me extremamente paciente, mas nas relações sou pouco tolerante. Ao minimo sinal de desconfiança, faço marcha atrás (tal como o raio do planeta). Uma amiga minha disse-me "o amor dá trabalho". Tudo o que dá trabalho assusta-me. Soa a mau, a esforço, a dor. Tenho tendência a descartar e a repelir. Depois olho para a quantidade de gente que aparece apaixonada, namorada, casada. Alguma coisa deve ter dado trabalho, não?

 

Estas férias - das quais já pensei desistir inúmeras vezes - vou tentar fazer isso. Vou abraçar um grupo novo (com imenso receio claro) e tolerar a vibe de uma amiga (com alguns defeitos). Não é má pessoa, nunca fez mal directamente a ninguém, mas se puder atirar areia para os olhos de alguém para se safar, é bem capaz disso. A típica chica esperta com a mania. Mente com os dentes todos que tem na boca e é sempre a vítima em todas as histórias que conta, mas também já me apoiou e ajudou - a mim e à minha família - numa altura em que precisei muito. Nunca me falhou, na verdade. O convite surgiu e como eu não tinha outras opções, aceitei. Já me arrependi, mas estou a tentar relativizar. É a oportunidade de conhecer um sítio onde sempre sonhei ir, portanto sorrir e acenar, sorrir e acenar. Tenho de contornar a tendência de olhar para tudo com desconfiança e desgraça. Talvez esteja a precisar de mudar a graduação das minhas lentes.

Drama queen on the scene. Estou a sentir-me um bocadinho irritada. Por minha culpa. Minha tão grande culpa. Enviei mensagem ao moço. Sobretudo porque devia isso a mim. Devo-me alguma praticabilidade. Não podemos levar a vida a supôr o que é que as coisas poderiam ter sido. Devo-me também alguma ilusão. Porque não? Sei que corro o risco de afundar completamente as poucas esperanças que tenho. Achei que devíamo-nos sentar frente a frente, olho no olho. Disse-lhe que não estava louca, que sabia o que é que lhe tinha dito (que não devíamos ser amigos, nem aproximarmo-nos, que a vida tinha seguido e estávamos bem assim como estávamos). Disse-lhe também que nunca mais nos tínhamos visto e que gostava de o ver. Um café. Sem açúcar e sem cheirinho. Fi-lo com medo. Com receio. Sabia que ele não ia ser estúpido comigo, nunca foi, mas sabia também que essa ousadia - depois da última conversa entre nós - me podia custar mais caro do que aquilo que estava à espera de pagar. Fez-se dificil, mas não me deu uma nega. Disse que sim, que havíamos de tomar um café sem concretar datas, disse que andava muito cheio de trabalho (nesta época, acredito bem que sim). Insisti. Reforçei a ideia, ele brincou, voltou a dizer que sim, que podíamos tomar café, que afinal éramos amigos, acabou por sugerir que fosse no dia x. Disse-lhe que era um bom dia para mim e ele pediu para lhe dizer a hora para depois ver se podia.

 

Deixei passar o fim de semana, expectante se o plano iria sair ou não. Tinha um feeling que não ia acontecer, mas apercebi-me, durante esses dois dias, como eu queria muito que acontecesse. Queria. Bastante. O que eu queria no fundo era abrir uma porta... ou, na mesma tentativa, fechá-la definitivamente. O que eu queria no fundo era que ele tivesse algum gesto que corroborasse aquilo que diz. Que se chegasse à frente e que demonstrasse que as pessoas como eu também se enganam. Eu queria tomar café com ele, mas queria também que fosse ele a vir até mim. Estou errada? Acho que mais do que isso, eu queria que ele tomasse uma posição, que ele comunicasse claramente, que ele cumprisse com a palavra dele e eu não ficasse pendurada na dúvida. Chegou o dia x enviei mensagem, mas ele não respondeu em tempo útil. Respondeu no dia seguinte. Como sempre fez inúmeras vezes. "Como é que fica o nosso café?". Respondeu que estava a trabalhar no sítio x (um pouco afastado de mim, nada que não se pudesse fazer). Não percebi o que queria dizer com isso. Pareceu-me uma resposta vaga depois do que eu tinha proposto. Não podia ter dito "estou a trabalhar até x horas", "saio perto deste horário", "queres passar por aqui?" qualquer dica que pudesse servir de GPS seria bem-vinda. Ir atrás dele é - neste momento e sem garantias - inegociável para mim. Acho que já o fiz vezes suficientes para validar o meu interesse e que agora não é suposto ser eu a fazê-lo novamente, embora reconheça que fui eu que sugeri o café e portanto, quem sugere, mexe-se. Devia ir atrás dele? Acho que em todas as coisas da vida tem de haver o básico: vontade e a vontade, quando é recíproca, é bonita. Não estava a sentir que fosse. Uma amiga minha - a que acompanha melhor a telenovela desde o inicio - diz que é recíproco. Não sei em que dados ela se baseia, mas diz que ele tem o cuidado de me responder sempre, de nunca se negar e de nunca me deixar pendurada. Que é atencioso, carinhoso. Valido, mas não interpreto completamente assim.

 

Sinto que o que ele queria era que eu dissesse "vou aí ter contigo". Quando estávamos razoavelmente bem - em plena lua de mel - fui várias vezes ter com ele, visitá-lo. Talvez ele precise de alguma segurança, tal como eu. É legitimo... Mas depois só me ocorrem pensamentos negativos. O overthinking é uma merda. Limitei-me a enviar um "tá bom, beijinhos". O que é que havia de dizer? Vou até aí? Na loucura acho que devia ir. Chegar lá, marcar território, assumir posição. Encostá-lo a uma parede como diz a minha amiga... mas depois... depois começa o curto circuito. A gasolina está cara e não vale a pena perder o lugar de estacionamento. O problema é que assim, isto não desenvolve. Assim, a porta nem abre nem fecha. Esmoreci um bocadinho. Estava a contar com o café. Não é um drama, aconteceu tudo dentro do que era expectável, ele não fechou a porta, mas também não me convidou propriamente para entrar. Se é a minha paga, cabe-me aceitá-la. Respondeu ao meu "tá bom" com um "Ohhhh" e mandou beijinhos tal como eu mandei. Sempre detestei mensagens com onomatopeias. O que querem realmente dizer? Estou a tentar não ir de um extremo ao outro, não polarizar as coisas. Estou irritada, isso estou. Às vezes apetece-me bloqueá-lo. Esfumá-lo da minha vida. Fazê-lo desaparecer. Outras, apetece-me virá-lo do avesso. 

 

Não tenho nenhuma esperança que nos vejamos em breve. Vou de férias na próxima semana, vou ter menos acesso às redes sociais e quando não publico nada, ele raramente mete conversa, portanto, desfecho prevísivel. Quando escrevo estas coisas "não tenho esperança" fico sempre na dúvida. Na dúvida efectiva se o que a vida espera de mim é uma atitude... penso naquelas frases feitas "se continuares a fazer o mesmo, terás sempre os mesmos resultados".Tive várias situações profissionais este ano que mo demonstraram isso. Situações em que foi preciso tomar o pulso, impôr-me, liderar o processo. Em relação ao plano amoroso, sempre fui muito mais reactiva do que proactiva. Se calhar nunca obteremos dos outros o que realmente queremos se não actuarmos de acordo com isso. Eu, contente da vida, a achar que ia safar-me e só me compliquei mais a vida, não foi? O certo é que nesses dias em que ele disse que estava cheio de trabalho, os stories dele foram todos dedicados à construção civil (o que não deixo de ter uma certa graça). Parece que ele sente a necessidade de comprovar que está efectivamente cheio de trabalho. Cheia de trabalhos estou eu, meus amigos, estou eu! 

Estou com dores de consciência. O destino - se acreditarem nisso - pôs-me a criatura de 25 anos de novo à frente. Não foi um encontro de 3º grau, não batemos olho com olho, mas estávamos bem perto um do outro, a escassos metros de distância. Nunca mais o tinha visto desde a noite em que nos enrolámos no carro. Não sei se ele me viu. Sei que o meu coração acelerou um bocadinho, não vou mentir. O meu corpo respondeu antes do meu cérebro e o vinho todo que bebi nesse dia, depois de o ter visto, só veio confirmar as suspeitas que todos tinham: ando-me a fazer de forte não sei porquê.

 

Ele tem 25. Eu tenho 40. Faz sentido? Não. Afastei-me dele e afastei-o de mim. Era o que eu queria? Se a minha cabeça estivesse na guilhotina, eu responderia não. Nunca tinha percebido que gostava tanto dele. A minha vida inteira foi sempre assim. Um exercício duro de evitação. Fuga. E falta de fé. Sempre me foi mais fácil fugir. Sempre fugi. Uma parte de mim diz-me que está certo. Que estou a evitar problemas. Que estou a limpar o caminho. Que vou ser recompensada com o certo. Outra parte de mim diz-me que estou a virar a cara outra vez. Que estou a ser cobarde. Que não estou a viver o que me prometi e que estou a mentir porque tenho - efectivamente - muitas saudades dele. Os meus 40 tem sido isto, um dilema. Um dilema entre o que devo e não devo, o que acho que preciso e não preciso. Não estão a ser tão divertidos como eu os esperava.

 

Estive a reler mensagens que trocámos. Não pode ser mentira. Não pode ser mentira quando o nosso corpo responde antes do nosso cérebro. Não pode ser mentira o que algumas pessoas nos fazem sentir e o que só conseguimos sentir com algumas pessoas. Não pode. Ele fez-me sentir viva. Fez-me sentir especial. E fez-me sentir que tudo se pode reiniciar outra vez. Será que uma mulher de 40 não tem o direito de viver isso? Sinto um nó na garganta. A apertar-me. Às vezes passa para o peito. Disse-lhe que estávamos bem como estávamos, afastados. Que não era boa ideia sermos amigos. Que a vida tinha seguido... mas não seguiu. E a dele talvez também não tenha. Sinto falta dele, mesmo como amigo. Peguei num livro que me tinham oferecido pelo meu aniversário, há uns meses, e comecei a lê-lo. "O que é que é mais importante: a viagem ou o destino? A companhia". Sinto que é urgente admitir que não disse a verdade, mas não sei como fazê-lo. Ou melhor, sei, mas tenho imenso medo. 

 

Ele não me restringiu. Continuo a ter acesso aos stories e à página dele. O meu cérebro é que pensou isso. Como pensou e pensa tantas outras coisas negativas. Aos 40 anos sou esta pessoa. A mulher que diz "não podemos ser amigos, estamos bem assim" e que agora não suporta isso. Já tenho idade para me desenvencilhar melhor, não? Não quero perdê-lo. E agora? Divertiamo-nos muito juntos. Foi intenso. E quero muito crer que também foi verdade. Daqui a dias vou de férias. Achei que percorrer o mundo faria sentido. Estar em casa com ele sabia-me a mundo também. Porque é que é tão dificil dizermos às pessoas que sentimos a falta delas? Que temos saudades... que elas nos faziam felizes? Ele é muito querido. Nunca me disse nada feio. Continuo a achar que tem o coração no lugar certo. A cabeça talvez não, mas qual deles é que ganha nesta equação? Qual deles é que é importante que esteja no lugar certo?

 

É jovem e falta-lhe muita estrutura, mas sobra-lhe sentimento. Tive alguns namorados e uns tantos casinhos que tinham estrutura, mas não tinham sentimento e isso é bastante pior. E no meio estou eu, convencida de que não me nem falta estrutura nem sentimento. Ele não esconde nem disfarça quem é (algo que me seduz sempre), tem o coração na boca (é muito genuíno e puro no que diz, às vezes explosivo quando lhe atacam os nervos) e quer ser feliz e amado como todos nós queremos. Nisso somos todos iguais. Corre de capelinha em capelinha onde lhe dão guarida e onde o coração dele pode descansar. Não o posso censurar. Metade de nós não faz isso se calhar por mera vergonha. E também não posso censurar que procure algo que satisfaça as dores que ele tem. Aos 25 eu também pensava que sabia muita coisa e não sabia nada. 

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