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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

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Só para relembrar que o ano passado, assim logo nos primeiros dias de 2020, dei de caras, por mera casualidade, com um  horóscopo amoroso que vaticinava um reencontro, inesperado, com alguém do passado. Por acaso a minha cabeleireira, perguntou-me outro dia: "e um namorado ou affair antigo que não tenha dado certo na altura e agora até podia dar, não te ocorre ninguém?". A verdade é que não. E tenho cá para mim, com a sorte que tenho, que à segunda ia voltar a não dar certo.

 

Quer dizer, há um em quem penso sempre com muita estima - que foi assim uma espécie de lusco fusco - sei lá eu se a coisa tivesse durado mais tempo, não tinha descoberto, afinal, que o odiava...  Mas enquanto durou - uns míseros 3 meses muito mal aproveitados, diga-se de passagem - foi assim aquela química fácil, cheia de pica, que só acontece uma vez na vida. Pelo menos eu sentia isso. Da parte dele não sei. A criatura era tipo íman, só me apetecia atirar-me para cima dele a toda a hora e ele não era giro nem grande coisa na cama, dá para acreditar? Será que era da idade e das hormonas estarem a funcionar nos níveis normais? Eu sei lá, o que eu sei é que nem antes nem depois da dita criatura, me apeteceu jamais estar em cima de alguém como me apetecia estar em cima dele. Quer dizer, apetece-me bastante estar em cima de alguém, pelas razões óbvias. Mas não de qualquer um. A verdade é que nunca mais senti o mesmo. As ditas borboletas na barriga.

 

Era aquele tipo de química fácil, sabem? Não dava trabalho e fluía como óh caraças. Ele era muito bom de conversa. Dizem que o sexo começa no cérebro, não é verdade? Ora aí está. Era inteligente. Era pacífico. Se calhar um menino da mamã sem grande queda para bad boy. Combinávamos programas simples num abrir e fechar de olhos. Não precisávamos de grandes cenários. Corriam sempre bem. E com a sensação que estávamos ali os dois. A curtir o momento. Ou a cena. Não fizemos planos. Não nos levámos a sério. Não falámos do passado. Melhor, não falámos do presente. Era o que era. E enquanto foi assim, foi do caraças. Não apreciava muito o estilo dele, confesso. Fazia-o parecer mais velho e descuidado. E no sexo, acho que se preocupava demasiado com a performance, como se a coisa fosse uma prova olímpica, mas o beijo... aiiiii o beijo! Fazia-me levantar os pés do chão. Tinha os ingredientes todos e encaixava perfeitamente no meu. Era alto e tinha uns ombros grandes tipo o Cristo Rei. Sentia-me the only girl in the world quando o gajo me abraçava. Vixe Maria, que arrepio!

 

O que é que correu mal? A verdade é que eu não sei, desconfio. Um dia, cobrei um bocadinho mais do que era suposto. Mulheres, né? Sempre a mesma coisa. Dei a entender que não me bastavam só uns programinhas com queca a seguir. E? E foi aí que se deu o remake do Lost in Translation. Não entendi nada, só sei que a criatura desapareceu e eu nunca mais lhe pus a vista em cima. Uma história tão pouco original. Nunca mais pensei muito nisso, mas às vezes tenho curiosidade em saber se tantos anos depois - com tantas merdas em cima do lombo - como seria reencontrar-nos. Será que seria a mesma coisa? Provavelmente não. Cenas boas não se repetem muito.

 

Entre as relíquias do passado, há também um desgraçado a quem não dei a minima hipótese, mas era tão dedicado, tão dedicado, que tenho a certeza absoluta que deu um bom marido. Às vezes penso, "fogo, uma alma como a dele era tudo o que eu precisava agora", mas estou pagando pelos pecados de o ter usado e deitado fora. Bom, não foi bem assim. Ele gostava muito de mim e eu gostava muito de outro. Ele era super tímido e não se dava muito a conhecer, não dava aquela pica que alimenta um bocado a combustão da coisa, então eu sentia que quando estava com ele, estava sozinha comigo, porque não fazia grande diferença. Parecia mudo. Nunca dizia nada. Tinha de ser sempre eu a preencher os espaços vazios e isso é uma enorme canseira. Homens, por favor, vendam o vosso produto, mas sem exageros. Façam-se interessantes e demonstrem interesse, mas sem dar muito canal, tá? E nunca, mas mesmo nunca, fiquem calados, tá?! É claro que sou a primeira a admitir, que nunca, jamais, me devia ter metido com ele. Fiquei a sentir-me super, mega mal. E ainda por cima nunca houve uma conversa honesta sobre o assunto. Ficou assim uma grande nódoa no curriculum. Espero que não tinha ficado (muito) traumatizado. 

 

E pronto, tirando essas duas pessoas, e por razões diferentes, não penso em mais ninguém. Então não 'tou enxergando grande chance da profecia se concretizar. O que eu não dava para sentir aquelas borboletas na barriga outra vez... Será que elas existem mesmo ou são só um curto-circuito no sistema? De qualquer das formas, 'tou esperando, 'viu? O universo que me mande o que bem entender. Ou quem bem entender. Faltam 6 dias para o tal gajo que escreve o guião da minha vida se orientar. 

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Há um ano atrás, quando me inscrevi no ginásio, perguntaram-me se eu queria fazer contrato de fidelização. Perante a proposta, eu respondi 'não, obrigada. não estou preparada para assumir compromissos'. Sim, fui a tipa, estúpida, que escolheu pagar mais que os outros sócios todos, mas isso não interessa nada. O que interessa é que um ano depois, (e que ANO minha gente!), eu sou aquela pessoa que acorda cedo, num feriado, em Dezembro, para ir malhar. SALVÉ, SALVÉ!

 

Calma. Não desatem já a aplaudir-me, tá? Continuo a lá ir sem vontade nenhuma, mas em 2020 não restam grandes alternativas, pois não? Onde é que a malta pode 'socializar higienicamente'? No ginásio, lá está. A malta não sai à noite, não se esfola, acorda cedo, cheia de pica, portanto vai para onde? Vai trabalhar o glúteo para depois o sentar no sofá. O plano é simples. E doloroso! Então, não é que nestes dois feriados de Dezembro eu trabalhei o glúteo e a vista? É verdade... vislumbrei um pseudo-candidato interessante. Se bem que é uma análise a olho nu e portanto não posso aferir, com exactidão, se os atributos do piqueno não estarão a ser sugestionados, um pouco, pela miopia. A ver vamos.

 

O Vasili, atenção!, o piqueno não se chama Vasili, mas como é assim de pele clara, cabelo e barba meio louros, meio ruivos e olhos escuros, deu-me assim uns ares, não sei, a ucraniano ou a qualquer nacionalidade com um sotaque esquisito. Corri os planteis de todas os clubes aqui da terriola a ver se o descobria e não o encontrei, isto porque nunca o vi na vida e gente nova só vem aqui parar ou a trabalho ou então como atleta de um dos clubes federados. Vai na volta, o Vasili é apenas trolha e veio desenrrascar a construção de mais hotel ou assim. Mas... pareceu-me... pareceu-me letrado. Sei lá. Talvez pela postura. O Vasili não usa manga cava, nem leggings, nem calções pelas virilhas, nem lycra coleante presa ao corpo. Portanto, benefecia, logo à partida, dos 10 pontos possíveis no desfile de traje desportivo. Reparei, também, que não passa o tempo todo na zona dos pesos a levantá-los e a gemer como se fosse dar à luz. Faz antes um treino super completo e vi-o a fazer uma série de abdominais que até a mim me doeram, o que me leva a suspeitar que de facto deve ser atleta de algum clube. Ou então, o trolha dos trolhas.

 

Nunca nos cruzámos antes, provavelmente porque vamos ao ginásio em horas diferentes, mas gostei. Vi ali um potencialzinho escondido que acho que podia ser explorado e/ou investigado. Infelizmente não cheguei nem perto, mandei apenas uns olhares do alto da minha air bike. Noutros tempos eu ainda me dava ao trabalho de fazer uma pequena investigação para bem de descobrir a criatura ou as suas redes sociais, mas apenas isso. Não consigo adicionar ninguém. Quer dizer adicionei o meu mecânico, uma vez, mas ele nunca demonstrou assim muito interesse em fazer um test-drive. Nestas coisas do engate, eu sou mais do tipo reactivo, espero sempre que seja o outro a dar o primeiro passo. Já aconteceu. Agora não acontece muito. E quando acontece, não estou muito interessada. Oh vida.

Postado do meu aifone :P

 

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Bom, ao tópico 'aplicações para encontros' já lá vamos porque o tema dá, no minimo, posts até 3030. Depois das aplicações, pensem lá comigo, para onde é que uma pessoa solteira, muito afastada do circuito da decadência (a.k.a as bares e discotecas) e pouco entusiasta das redes sociais em nome próprio vai, se quiser analisar o mercado local? Eu achei que o ginásio seria uma opção win-win! Como disse, uma vez, uma ex-colega do liceu, "ser solteira já é mau, ser solteira e gorda é bastante pior". By the way, ela é psicológa hoje em dia. 

 

A minha psicóloga - que não é a minha ex-colega - apoiou imenso ideia, na verdade não há muitas ideias minhas que ela não apoie, e até chegou a dizer "eu conheço imensos casais que se conheceram no ginásio". Claro. Toda a gente conhece, mas o tipo, aquele que escreve o guião da minha vida, deve ter reservado para mim outra coisa qualquer. Estou lá há um ano, tirando as devidas interrupções do confinamento, e ainda NÃO ACONTECEU NADA. Estou a ser injusta. Perdi 13 kgs, sagrado seja o bendito coração de Jesus! Amén.

 

No horário a que vou - preferencialmente a primeira hora do dia - vão essencialmente os reformados. Portanto, a amostra não é assim grande coisa. Quando já estou na fase dos alongamentos, começam a chegar os atletas profissionais e a malta que trabalha por turnos e que aproveita para dormir mais um bocado quando está de noite ou de folga. Há para todos os gostos, mas nada, N-A-D-A!, que me chame muito a atenção. Acho que estou à espera disso, de uma certa energia capaz de me roubar à minha vida e aos meus pensamentos. Alguém que me surpreenda. Um personagem novo que venha chocalhar a cena e transformar isto numa telenovela da TVI, com umas 500 temporadas on air mas menos mortos ressuscitados como é habitué.

 

O único homem com quem troquei uns olhares malandros foi o tipo que trabalha lá que por acaso, só por acaso, é casado com a instrutora das aulas de grupo. Não faz muito o meu género, mas tem uma certa pinta. No entanto, não passa disso: um incentivo extra para ficar GOS-TO-SO-NA! Homem casado é aquela cena, gosta de variar o prato uma vez por outra, mas é muito fiel ao dono do restaurante. Portanto, not worthy. Para além desse, houve um puto, pr'aí 12 anos mai novo, que mexeu com o meu alter ego uma semanita, mas não passou de um falso alarme. Estava a ver que o tipo que escreve o guião, aquele que vocês já conhecem, me ia dar um papel assim assanhadito, tipo cougar, mas nop. Não foi desta. Uma pessoa gosta de parecer assim durona, pode-tudo, mas na realidade é muito básica e muito simples.

 

O que é que me agrada no ginásio? Parece uma discoteca sem a parte de nos destruirmos. Vamos com pouca roupa; há música alta e luzes psicadélicas, se o treino for bem feito acabamos de rastos, despenteados, desgrenhados, derreados e a cheirar mal e os batidos proteicos não batem ao ponto de acharmos que trouxemos o Brad Pitt para casa. Portanto, passa-se tudo num nível muito mais transparente, tão transparente quanto as leggings de algumas meninas.

 

Então, maneiras que é isto, já dizia a outra. Não parece muito promissor na verdade, mas pode ser que um dia, a meio de um alongamento, uma pessoa olhe para outra de outro ângulo. Não está a funcionar comigo, tirando os kgs a menos que eu muito agradeço ao Bom Jesus das Magras, mas olhem, só vos posso dizer uma coisa "conheço imensos casais que se conheceram no ginásio". Boa sorte!

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