A minha resposta.
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A minha resposta.
Então, diz que esta pessoa que vos escreve e que anda com os chacras todos desalinhados por causa de negócios, foi ao supermercado abastecer-se. Para quem não sabe, mas já deve desconfiar, esta mesma pessoa que vos escreve sofre imenso - desde pequena - com a (maldita) síndrome do cólon irritável, o que significa que em tempos de grande ansiedade e nervosismo, já se sabe, o corpo é que paga. Mas isso agora não interessa nada. Adiante.
De repente, passei de vislumbre entre corredores e reparei que havia um repositor a olhar para mim. Sabem, quando a gente passa por alguém e parece que ambas as pessoas testemunharam algo que não deviam testemunhar e fazem de conta que nada aconteceu? Yap, foi mais ou menos isso. O moço levantou os olhos da prateleira (a do supermercado, claro) e bateu de frente com os meus. E no mesmo segundo, tipo relâmpago, como se tivesse sido apanhado a roubar chocolates, voltou a enfiá-los nas caixas de cereais Fitness.
Aquilo deixou-me intrigada, com a pulga atrás da orelha. Safada, ainda pensei, "vou voltar atrás e repetir a cena só para me certificar que eu vi o que eu vi". O que é que eu vi? Vi um individuo que deve ter pr'aí metade da minha idade (e metade do meu peso) a tentar flertar comigo. Fenómenos do entroncamento. Segui para a caixa.
Voltei de novo ao supermercado passado uns dias e lá na quadragésima volta ao bilhar grande, vi que o piqueno dirigia-se na minha direcção. Peguei no carrinho e pensei "cá está a minha oportunidade para desenvencilhar o mistério". Ao longe, olhei directamente para ele de uma forma muito assertiva e bati com o olho assim mesmo de frente. E???? Ele correspondeu, desviando logo a seguir o olhar como se tivesse caído em pecado. "Não pode, está a brincar." Eu com os meus botões. Desviei o olhar por uma questão de educação e para não ficar assim uma atmosfera muito concêntrica e ao aproximar-me dele, antes do momento lado a lado, jogo outra vez o olhar pr'a cima dele para me certificar que não sou a única que ensandeci. Não é que a criaturazinha voltou a corresponder? Olho com olho. Como quem consente e diz: sim, confirmo. Nossa. Que clima.
Será possível que o repositor do supermercado esteja a dar em cima de mim? Ajudem-me lá! Vocês sabem que eu não tenho jeito para estas coisas... Se achei graça? Achei. Pela situação. Pelo caricato. Pelo fora da caixa. E pelo PRESENCIAL. Ponto muito importante a registar. Ele parece-me bastante mais novo do que eu e por conseguinte, tem um ar muito baby, mas devo confessar que antes de usarmos máscaras, quando eu ia ao supermercado costumava descansar o olho nele. Guilty! Porquê? Ora nem sei bem. É magro demais para o meu género, falta-lhe um bocadinho de masculinidade, só um bocadinho... Tipo uma barba por exemplo. Mas acho que é a forma diligente como arruma as prateleiras que me chamou a atenção. Parece sempre muito focado. Isso e os braços ligeiramente musculados. Uma pessoa pensa, se aguenta arrumar prateleiras o dia todo, também há-de ser capaz de me jogar contra uma parede.. Verdade? Tem os olhos e os cabelos escuros. Parece assim um actor de bollywood. Daqueles em inicio de carreira. Oh God, onde isto já vai! E olhem, eu vou sempre um bocado desleixada ao supermercado, nem sei como é que reparou em mim.
A verdade é que há uns anos atrás, fiz um quizz daqueles que saem nas revistas juvenis e o resultado foi que ia encontrar a minha alma gémea num supermercado. Não achei descabido, afinal de contas eu gosto de comer, todos precisamos de comer, logo as probabilidades jogavam a meu favor. Agora um puto de um repositor a tentar "meter-se" comigo tem a sua graça. Não estava nos planos. De qualquer das formas não vamos atirar foguetes antes da festa. Ele pode achar que eu sou só doida e que falo sozinha nos corredores do supermercado. Ou então pode sofrer de TOC e quer bater-me por lhe desorganizar as prateleiras. Ou então, pode efectivamente estar interessado na minha prateleira. Veremos.
Cada vez que insistem e me dão lugar na fila do supermercado, a 1ª coisa que eu penso é "f#d@-se, a barriga ainda não está pequena o suficiente" seguido de "preciso de comprar roupa nova urgentemente". É tão dificil acreditar na simpatia dos outros, sem suspeitar de algo de errado, não é?
Médico de Família - Avaliação: Morno
Diz que tive de ir ao Sr. Doutor porque tinha "comichão" num determinado sítio. (como se vocês já não soubessem). Pensei, "ora alguém vai ver a minha querida amiga ao fim deste tempo todo", mas não. O Sr. Doutor não quis ver nada. Na verdade, até acho que foi o último que a viu. E imagine-se, não lhe apetece repetir. Mesmo sem a ver, a deprimida, o homem disse que é capaz de ser um fungo. E, a parte optimizada da coisa é que ao menos sabemos que não foi transmitido sexualmente. Oba! Deve-se à medicação permanente que faço e que fragiliza o sistema imunitário, logo as bichezas atacam o que lhes der na real gana e decidiram meter-se com a coitada da amiga que vai pr'a anos que não se mete com ninguém. Ingratas! Apesar de não ter sido um date memorável, tenho de confessar que aprecio muito a paciência do Sr. Doutor. Por enquanto, (provavelmente apenas por enquanto), ele ainda explica - com muita paciência e detalhe - a razão de cada diagnóstico. Uma coisa que os pacientes hipocondríacos (me, myself and I) valorizam muito.
Contabilista - Avaliação: Quente, Quente, Quente
A arder foi como eu fiquei quando o homem me pôs à frente folhas e folhas de cálculos e apresentou, num registo super pedagógico, tudo aquilo que eu hipotetico-provavelmente terei de pagar. Não comecei a suar porque está um frio do catano, mas cheguei a hiperventilar por debaixo da máscara. Quem é a criatura que decide assumir a empresa familiar e ressuscitá-la em plena pandemia? Eu, a louca. E há gajos que ainda me perguntam, no Tinder, porque é que eu não gosto de correr riscos e colocar uma fotozinha? Mais do aqueles que eu tenho corrido? O Tinder é p'ra meninos. Tenho dito. Apesar de não ter sido um daqueles dates que apetece repetir, adorei a forma eloquente como o senhor das contas me explicou tin tin por tin tin. Aliás, adoro homens que sabem muito e não se importam de partilhar isso com os outros sem que seja preciso passar-lhes um atestado de burrice. Lamentavelmente é um pouco velho demais para mim... E caro.
Eu moro no rés do chão. A minha vizinha do lado vive sozinha. Tem uns 50 anos e fala alto com'ó cacete. Para animar a festa, há uns 3 meses atrás ela arranjou uma cadela. Uma pinscher miniatura que, imaginem, consegue fazer mais barulho do que ela. São ambas histéricas. Muito, mas mesmo, muito histéricas.
A mulher passa o tempo todo ao telefone e - como as paredes infelizmente não são suficientemente insonorizadas - eu ouço tudo. Disse-me, quando se mudou para cá, que já se tinha divorciado duas vezes. E, olhem, acho que está com muita vontadinha de se divorciar uma terceira. As conversas telefónicas são sempre, SEMPRE, sobre homens com quem ela se envolve. Haja alguém com uma vida amorosa interessante neste prédio, não é verdade?
No entanto, não deixa de me causar um certo espanto: como é que uma pessoa aos 50 ainda tem paciência para excrutinar as relações como se fosse uma pita? "Ah, ele depois disse-me que ligava e não ligou e quando nos despedimos, agarrou-me e deu-me um beijo, mas disse que não podia assumir nada por causa da mulher". Ah, claro, falta esse pormenor. Os homens com quem ela se envolve são sempre quase todos casados. Eu comparativamente a ela, sinto que estou tipo reformada. Não tenho cão para passear, é verdade, mas também não tenho a paciência que ela tem para as relações. (talvez seja por isso que eu estou SOZINHA e ela tem um gajo diferente metido em casa a cada duas semanas).
Outro dia telefonou-lhe um amigo gay que lhe contou que andava a sair com alguém. Adivinhem lá o que é que ela lhe perguntou? Não arriscam?! "E então, a pila dele é gostosa?". E that's all folks. Uns oferecem-me suspiros, os outros trazem os assuntos verdadeiramente importantes para cima da mesa. Preciso de mudar de casa. Urgentemente.
Estava aqui a pensar no que é que é o amor... e como pode ser tão diferente para cada um de nós. O meu ex-namorado, o último, defendia que as relações ou davam certo naturalmente ou então não valia a pena insistir-se nelas. Até certo ponto, não estava errado. Há de facto relações nas quais não se devem insistir. A que tentámos ter é um bom exemplo. Outra das coisas que ele costumava balbuciar era que as relações não precisavam de ser alimentadas. Ou se gostava ou não se gostava. Para mim precisam. MUITO.
As pessoas quando entram na nossa vida, podem vir mais ou menos combalidas. Podem até nem querer uma relação. Podem até nem estar disponíveis emocionalmente. Podem estar a tentar resolver-se. Podem estar a recuperar. A forma como amam ou como não amam, não pode ser desculpada pelos desfechos das relações anteriores. Amar é CUIDAR do outro. Cuidar é, à falta de melhor palavra, uma RESPONSABILIDADE. Um compromisso. E, infelizmente, o que mais há por aí é gente irresponsável.
Quando eu dizia ao meu ex "gosto muito de ti" sabem o que é que ele respondia? "Hãn-rãn". Uma espécie de onomatopeia que nunca consegui descodificar. Não me lembro de termos corrido para os braços um do outro. Não me lembro de nos termos abraçado. Espontaneamente. Não me lembro de um elogio nem de um "estás bonita" sem que eu o tivesse suplicado pedagógicamente como se estivesse a treinar um cão.
Lembro-me de birras, chantagens e reinvindicações, "tu não me desejas", "tu não me beijas", "tu adormeces cedo e deixas-me sozinho", "tu não te esforças para me vir ver", "tu não sabes o que é ter uma relação", "nunca ninguém te vai querer", "ninguém te vai aturar". Tu que reflectes tudo aquilo que eu faço e tudo aquilo que eu não consigo fazer. É chato, não é? Deve ser muito.
O amor... ora, o amor é aquilo que todos nós sabemos que é. Se nos deixa na merda, é porque provavelmente não o é. Gostava de vos escrever coisas mais bonitas, mas não deu. Happy Valentiiiineeees!
Eu a tentar pôr ordem na minha vida, no meio de uma pandemia, e a minha mãe pergunta-me se lhe posso criar um segundo perfil de facebook com uma foto dela quando era jovem. No meio do choque só consegui inventar que ter mais do que um perfil de facebook é crime. Ela respondeu que não entende porque é que me recuso a fazê-lo porque existem pessoas com vários perfis e ela podia perfeitamente ter mais do que um. Ainda bem que ela não se orienta com o facebook. (a não ser para fazer o que não deve).
Vou só ali agendar uma sessão de psicoterapia. Volto quando estiver mais restabelecida do sucedido. Ou então não e peço que me internem durante uns meses. Estou a precisar de umas férias. No Butão.
Sábado à noite. O meu vizinho de 63 anos desce 25 degraus até ao rés do chão para me oferecer suspiros caseiros. Rapazes, aprendam. Não espero nada menos que isto.
Querem um conselho? Assim daqueles mesmo, mesmo importantes? Nunca, mas mesmo nunca, recuperem discos rígidos. Nunca. "Faz o que eu te digo, não faças o que eu faço". É claro que fiz essa besteira. E o que é que a caixa de Pandora tinha lá dentro? Centenas de fotos. Isso mesmo. Provas irrefutáveis da minha vida não solteira. Sabem o que é que me fez mais confusão? As cores. As cores que eu tinha. As cores que eu vestia. Não foram as pessoas, não foram os lugares, não foram os cortes de cabelo nem as modas, foram as cores.
Consegui perceber que aquilo que a minha mãe me está sempre a dizer - "parece que não tens mais nada para vestir senão roupa preta" - é afinal, verdade. Tornei-me uma pessoa escura. Damn it! E não, não tem nada haver com a roupa. Acho que é a alma. A minha alma apagou-se um bocadinho. Porquê? Não sei. Terá sido por causa de uma série de episódios improváveis que me amolgaram os sentimentos de uma tal forma que o peito nunca mais expandiu igual? Muito provavelmente. Deve ser por essa razão que o espectro de cores com que eu via a minha vida se reduziu aos tons que não sinto meus.
Sei lá, a idade era outra. Acho que a partir de uma certa altura, não se vestem as mesmas calças padrão tigresse que já se vestiram antes. Se é que me entendem. Se tenho saudades? Tenho. E não é por causa de todas as coisas que me faltam. Aprende-se a viver sem elas. É porque quando olho para aquelas fotos sinto o peso das dores que me separam delas. Como eu a invejo, agora, aquela miúda. Quando eu usava cores, eu não tinha medo. Ou tinha muito pouco. Ou no o conhecia bem. Agora tenho muito. Demasiado. Medo de que a vida volte a doer como já doeu antes.
Não estou zangada. Aceito um saudosista sem exagero. Apesar de tudo aquilo que me foi acontecendo, a vida tratou-me muito bem. Só me roubou algumas cores, mas acho que isso faz parte da masterpiece. Nunca, mas mesmo nunca recuperem disco rigídos. Nem escrevam durante o TPM. Tomem nota.
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