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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

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Então... depois dos pedidos de amizade no facebook (e das conversas indecentes) dos amigos dos meus pais, casados, com filhos e com pouco bom senso, seguiram-se os pedidos de amizade no facebook de homens casados, desconhecidos, cujas fotos de perfil são eles e as suas respectivas. Até que chegámos, hoje, aos pedidos de amizade no facebook de alguém chamado Mohammed. Estamos a subir de nível ou a entrar na rota da decadência? Digam-me vocês.

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Outro dia perguntaram-me a idade e eu bloqueei. Parece que tinha sido apanhada de surpresa. E fui. Tive de fechar as tabs que tinha abertas para processar a pergunta... e a resposta. (Não há uma combinação qualquer que diz que a partir de idade X não se pergunta mais?) Daqui a dias faço 37 e portanto estou tipo o Evergreen encalhado no Canal de Suez. Não dá bem para seguir em frente, mas também já não dá p'ra meter marcha trás. É dragar. 

 

Acho que foi a primeira vez que senti o peso dos números. Fogo, vou fazer 37. Aquela idade que eu julgava - aos 15 - ser já uma espécie de terceira idade. Como é que é possível eu ir fazer 37 minha gente? Não me sinto com 37. Não me vejo com 37. Acho que não pareço uma pessoa de 37. Tenho a sensação que sobrevoei os trinta e estou quase a aterrar nos 40. Sei lá. Houve um tempo sim em que a minha vida andava pesada (bastante pesada) e eu sentia que tinha tipo 70. Quando olho para as fotos mais recentes percebo que já se vai notando qualquer coisa por fora. No esqueleto, nota-se muito. Vejo umas rugas, uns tecidos moles, uma certa flacidez, uns cabelos brancos que às vezes, em determinados dias, me dão uns certos calafrios. Mas vá, a flacidez não é só desculpa da idade. Cada vez que faço um agachamento no ginásio, só ouço ranger. O fisioterapeuta tornou-se no meu melhor amigo. Sempre que me ajoelho, nem vou tentar rezar. Não dá. As costas andam feitas num oito. Portanto, sim, sinto a idade no corpo, mas não consigo imaginá-la colada à minha alma. E à minha pessoa. Talvez porque ainda me falta fazer tanta coisa. Talvez porque ainda não desisti de vez. Talvez porque vou ficar para a história como a mulher que começou um negócio aos 37 e quiçá casou aos 45. O importante é continuar a dragar para o cargueiro, com as suas muitas toneladas e compartimentos, seguir caminho.

 

Talvez dê para trocar estes últimos 7 anos da minha vida por uns créditos extra. Que 7 anos do catano! Parece que cresci 10! Então como uma pessoa teve sempre a apagar fogos durante este tempo todo e a gerir uma série de catástrofes, pode ser que dê para negociar e ficar uns anos sem precisar de andar a correr de um lado para o outro de mangueira na mão. Se me faz confusão os 37 por causa das expectativas? Não. Nem por isso. Acho que tenho bem claro as coisas que já não vou ser. O que vier de bónus será bem-vindo. E lá o tentaremos encaixar no resto do puzzle. Nunca serei patinadora artística infelizmente. O meu sonho de criança. Sei lá se alguma vez pisarei uma pista de gelo sequer. Há que aceitar. Teoricamente dói menos. É o que dizem. 

 

Aos 24 eu pensava que aos 37 estaria casada, teria 3 filhos, teria a casa dos meus sonhos, o carro dos meus sonhos, o marido dos meus sonhos, o emprego dos meus sonhos. Estaria no topo da carreira, magra, linda, equilibrada. Que parvoíce! Como se isso fosse possível! Que plano mais dessinteressante, né? O que é que uma pessoa faria a seguir? Saltaria de um penhasco, só pode. Não tenho nada disso e como vocês sabem estou solteira há 5 - vai para 6 - anos. Filhos é quase um não assunto. Se houver alguma coisa assim mais à mão, quer-me parecer que é capaz de ser um par de patins. E a pista de gelo. Envelhecer implica ir abandonando uma série de coisas para ir abraçando outras e a vida é mais ou menos isso, uma sucessão de despedidas e boas-vindas.

 

Há dias em que olho para trás e penso: "caramba, é realmente uma pena não ter netos a quem possa contar tudo o que vivi". Não fiz tudo o que queria, mas sinto que até agora tive uma vida recheada e isso de certa forma tranquiliza-me. Posso não ser muito boa nestas coisas de arriscar e viver no limite, mas a vida já me testou tanto e de formas tão inesperadas que se alguém escrevesse uma biografia sobre mim teria muito para dizer (e algumas coisas para omitir). Se calhar é isso que me falta. Poder dividir ou compartilhar a viagem com mais pessoas. À medida que envelhecemos o nosso círculo de amigos e conhecidos também vai ficando mais pequeno. Fechamo-nos mais em casa. E em nós próprios. E às vezes esta sensação atropela-me. Chego a pensar que é uma incapacidade minha. A de fazer amigos. A de dar-me, assim, espontaneamente. Não me custa, mas também não me sai fácil. Enfim. Às vezes parece que o prato do antes está mais cheio do que o depois, mas eu gosto de pensar que o melhor ainda está pr'a vir. Há-de vir. Oxalá que venha.

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Ando de rastos. Hoje, em particular, estou num daqueles dias em que só me apetece mergulhar numa banheira e ficar ali, a boiar, até que o resto das burocracias se resolvam sozinhas. Estou KO. E derreada das costas. Às vezes, (muitas vezes por sinal), penso que isto de ter decidido começar um negócio próprio foi só assim uma grande besteira (tal como a maioria das coisas que optamos por fazer na vida). Espero que o negócio - e a minha capacidade de administrá-lo - perdurem o suficiente no tempo para eu poder olhar para trás e dizer: "que bela ideia que eu tive". Agora, entre o caos e a loucura não tenho discernimento para perceber se fiz bem ou se fiz mal.

 

Porque é que eu comecei um negócio próprio? A melhor resposta que eu vos posso dar é porque nunca me esqueci disso. É verdade. Nunca consegui colocar de lado a ideia de ser dona do meu nariz. Sempre quis poder fazê-lo. Era um grande "SE" na minha vida. E depois de ter percebido que nem sempre temos o dia de amanhã, decidi arriscar. Isto da vida é um bocadinho como os primeiros carros, "se não for para partir, não tem tanta piada". Ou seja, um arranhãozito aqui, uma raspadela ali até dão a sua graça. A ironia das ironias é que isto de ser dona do meu nariz é uma ilusão. Sou dona do meu nariz, das minhas dívidas e das minhas contas para pagar (a parte mais dolorosa dos negócios). 

 

De há uns anos para cá, quando eu vivia na capital e trabalhava de sol a sol, comecei a querer mais. Sim, mais! Comecei a querer mais tempo para mim e mais qualidade de vida. Comecei a revoltar-me muito contra o trabalho das 9H às 17H (o meu até era mais daqueles das 9H às 21H), comecei a pensar que não podia ter estudado tanto (piadas que se fazem sozinhas, só tenho uma licenciatura) para passar os meus dias agoniada num escritório. Tinha de haver mais. Tem de haver mais. Essa revolta foi crescendo, crescendo, crescendo e disseminou-se. Não foi um processo linear. Nunca é. Despedi-me, por vontade própria, da empresa onde já estava efectiva há 5 anos e decidi mudar de cidade. Uma espécie de começar de novo ainda sem saber muito bem o que queria. Como estas coisas nunca são claras - e a vida é sempre muito irónica naquila que destina para cada um de nós - acabei a trabalhar noutra empresa das 9H às 17H até que tive que pôr baixa, várias vezes, por causa de problemas de saúde muito graves. Um dia o patrão chamou-me, conhecendo de antemão a condição de saúde pela qual eu estava a passar e disse-me: "claro que a situação pela qual estás a passar é muito complicada, mas não é justo para os teus colegas que faltes tanto". Nenhum dos meus colegas era da minha área, fazia o trabalho que eu fazia ou dependia do meu trabalho para fazer o seu. Era até o contrário. Eu que tinha de aguardar que eles fizessem o deles para eu poder, depois, fazer o meu. Nesse dia, nessa hora, a minha decisão foi tomada. Interiormente, claro. Pensei: "EU NÃO QUERO MAIS ISTO! EU NÃO QUERO TRABALHAR MAIS PARA ESTAS PESSOAS NEM COM ESTAS PESSOAS! EU NÃO QUERO NUNCA MAIS NA VIDA ENTREGAR A RESPONSABILIDADE DO MEU SUSTENTO NAS MÃOS DE OUTRO". E foi aí que o que eu já queria ganhou ainda mais força.

 

Ao meu patrão, eu respondi que infelizmente ninguém consegue prever quando é que vai faltar e dado que o problema de saúde ainda não estava solucionado, era muito provavel que eu continuasse a faltar e que compreendia perfeitamente que ele quisesse outra pessoa "sem problemas". Na cabeça dele ficou tudo como "um acordo amigável", na minha cabeça ficou tudo como "um vai-te FODER caralho!". Estas maravilhas das leis, do código do trabalho, da inclusão das minorias, da integração de colaboradores com deficiência ou incapacidade são só uma grande TRETA. A discriminação continua a ser camuflada todos os dias por milhares de "acordos amigáveis". Então, aqui estou eu a tentar criar e concretizar a visão que eu tenho para a minha vida. Um trabalho que me satisfaça, me ponha pão na mesa e não me mate. Era só isto. Assim como assim uma pessoa já sabe que vai continuar a ser pobre, o que eu não quero é ser pobre e continuar a trabalhar o mesmo. Acho que vocês entenderam. 

 

O que é que me aflige mais neste negócio que comecei agora? A quantidade de dinheiro que deito fora cada vez que tenho de pagar aos fornecedores. Nunca tive créditos e nunca tive grandes despesas. Não tenho casa própria (e muito provavelmente nunca terei), não tenho dívidas e não tenho filhos (que segundo consta também são uma grande despesa). A única compra mais avultada que fiz foi o carro e mesmo assim paguei-o a pronto pagamento (uma pechincha semi-nova), portanto, mexer em qualquer coisa que custe mais de 20,99€ exige-me todo um orçamento de Estado que leva dias até ser aprovado. Eu sou boa nalgumas áreas do negócio, em investimentos sou péssima. O risco para mim é sempre muito maior do que aquilo que parece ser. Também sou bastante boa a traçar os piores cenários. Não me considero uma pessoa pessimista, mas também não me podem chamar de optimista. Tenho sim uma grande capacidade de adaptação e um jeitinho natural para fazer do pouco muito. Só tenho isso. E fé. Não me resta mais nada. Não nos resta mais nada.

 

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Enquanto faço uma sopinha para o jantar, vou deliciar-vos com detalhes - sórdidos - sobre o "caso" do repositor. Arranjem uma mantinha, façam um chazinho, comam um chocolatinho ou abram uma garrafa de tinto. P.s - Este post será com certeza muito útil a todas as mulheres solteiras que me seguem. 

 

Depois dos "encontros ocasionais" que se sucederam nos corredores do supermercado e do rapaz ter correspondido à troca de olhares, apeteceu-me investigá-lo. Por onde é que eu comecei? Por onde quase toda a gente começa, pelo facebook. Fui vasculhar os amigos de uma prima de um primo meu que trabalha no mesmo sítio e voilá, encontrei a criatura. Digo-vos já que me enganei relativamente à geografia do caso. O moço, que eu julguei de Bollywood é afinal... das terras de Vera Cruz! Amo o Brasil, já lá fui e voltava, mas os homens brasileiros têm uma fama muito pouco recomendável, que me perdoem a inconfidência. No entanto, não me enganei em relação à idade, a criatura nasceu em 1994, ou seja, ainda anda de fraldas. Pode ser que ele realmente aprecie mulheres mais velhas ou pode ser que pense que eu não tenho mais 10 anos do que ele. Até aqui, ambas as opções favorecem-me. Siga para bingo.

 

Foto de perfil sozinho, status civil: solteiro. Nada a declarar. Conferimos então as poucas fotos existentes. Duas ou três com amigos. Entra-se no perfil de um dos amigos. Mais fotos com amigos, repositor incluído. E... repositor identificado nas fotos com outro nome que não o nome do primeiro perfil encontrado. Entra-se no segundo perfil e descobre-se o quê? Outro nome, outra foto de perfil - atentem nisto, vestido de noivo, no dia do casamento! - e outro status civil: casado desde 2017. Portanto, aquele ar de quem tinha roubado chocolates faz TODO O SENTIDO AGORA!

 

O moço, de 26 anos, tem então 2 perfis no facebook: um oficial que deve ser o dedicado à FAMILIA-DEUS-NO-COMANDO e um não oficial que deve ser o da PUTA-DA-LOUCURA. A sério que nunca ninguém lhe explicou que "what happens on facebook, stays on facebook?". A idade realmente às vezes é uma vantagem. Não é de facto a primeira pessoa que conheço que tem 2 perfis no facebook. Um casado. E outro solteiro. Há necessidade?! Não é um crime, claro não. Até a minha mãe quer ter um perfil como solteira no facebook, mas caramba... Só atraio merda!

 

Homem casado para mim é um grande turn-off. Nunca me meti com nenhum e espero nunca me vir a meter. Not worth it. Homem com dois perfis no facebook está fora de jogo. Homens mais novos também nunca me interessaram, na verdade. Homens mais novos a fazer destas, muito menos ainda. Sempre preferi os mais velhos. Aliás, tive um namorado 10 anos mais velho. E correu bastante bem. Não me apetece muito ter um filho agora. Assinado, a córôa

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