Vamos falar de negócios? Bom, está a correr bem. "Estar a correr bem" nos tempos que vivemos acho que é uma grande sorte. Pelo menos há dinheiro para pagar despesas e ainda resta para comprar cerveja. (pobre fazendo pobrice). Não estou rica. Nem quero estar. (que chatice ter dinheiro para tudo, não é verdade?). Quero apenas pagar as minhas contas e sentir que não devo nada a ninguém. Nem dinheiro nem satisfações. Há dias em que me martirizo porque ainda não consigo ser tão disciplinada quanto desejaria (nos meus afazeres domésticos) assim como ainda não consigo ser tão dedicada ao trabalho quanto (imagino que) deveria ser. Vou fazendo. Vai rolando. E enquanto assim acontecer, talvez não valha a pena mexer muito. Como eu mudei... às vezes espanto-me comigo mesma. Quem é esta pessoa que está a viver no meu corpo?
Comecei a trabalhar neste projecto há 2 anos (embora o desejasse desde há 8). Os primeiros clientes chegaram há 7 meses. Foram fundamentais para dar o passo seguinte. Abri portas em plena pandemia. Há curiosidade, o que é bom. O conceito é diferente e o meio é pequeno. Ajuda bastante. Para mim que já estou a trabalhar nisto há 2 anos, o percurso tem sido positivo e coerente, mas sempre que alguém me pergunta: "e então, está a correr bem?" apetece-me responder torto. Como é que uma pessoa pode ter noção se está a correr bem ou se está a correr mal com as portas abertas há tão pouco tempo? É que vocês não imaginam a ansiedade que essa pergunta provoca e as campainhas que faz soar. Porque raio é que as pessoas aceleram tudo? Porque raio é que as pessoas esperam resultados rápidos, milagrosos e sem esforço? Porque raio é que as pessoas não se permitem e não permitem que os outros experimentem, errem e corrijam? Fico danada cada vez que alguém me pergunta isso porque detesto pressas. E porque acho que não faz sentido nem é conveniente. Pelo menos para já.
Respondo sempre que sim, está a correr bem, e desconverso. É a verdade. Não estou a inventar. As coisas não estão a correr mal. Não quero ser como a maioria dos empresários aqui da zona - gente que já está no mercado há muitos anos e que efectivamente tem muito dinheiro - que responde sempre que as coisas estão péssimas. Não estão. Se as marcas deles estão de pé é porque obviamente as coisas não estão a correr mal. Quem é que eles querem tentar enganar? E porquê? O que eu sei é que eu não trabalho para enriquecer, como vocês já devem ter percebido. Eu trabalho para poder viver e é disso que eu nunca me quero esquecer. Aliás, que nenhum de nós se deve esquecer. Já me esqueci e não correu lá muito bem. Não me apetece nada repetir.
Outra das coisas que ouço como muita frequência e que me enerva bastante é o: "ah, então desististe de ser X para agora estares a fazer ISTO". Oh valha-me Nossa Senhora da Paciência. Eu não desisti de nada assim como não me comprometi com nada quando entrei na faculdade. Que mentes limitadas estas, aquelas que pensam que estudaste uma coisa e só podes fazer isso na vida. Chegam a ser muito desagradáveis quando enfatizam o "ISTO" ou quando dizem "estudaste tanto para agora estares AQUI". Elas não sabem, nem precisam saber, que eu sempre quis estar AQUI. E que para chegar AQUI eu tive que estudar muito mais do que aquilo que a universidade me ensinou. E ISTO que eu faço é tão válido como outra profissão qualquer. As pessoas quando não os têm no sítio, invejam muito quem os tem. Só podem invejar. Uma vizinha, que me conhece desde de criança, chegou mesmo a comentar: "ah, quem diria que os teus pais ainda te iam ver a fazer ISTO". Fiquei com muitas dúvidas em relação ao comentário, mas não me parecia um elogio. As pessoas vêem-me a atender clientes e acham estranho porque tenho um curso para estar sentada no escritório. E daí?
E já que estamos numa de confissões sobre negócios, clientes e curiosos, irritam-me bastanteas pessoas que pedem uma "atençãozinha". Juro que me apetece dizer-lhes "não lhe basta a atenção que já lhe dei durante o tempo que aqui esteve?" Tenho a certeza que um dia vai sair, só espero que seja no mesmo tom piedoso com que eles fazem o pedido para não afugentar o gado da porta. Não me considero má pessoa, acho até que tenho muito boa vibe e tenho a certeza que consigo melhorar de forma qualitativa a vida dos meus clientes, mas eu chamo os bois pelos nomes, não sou de muitos rodeios e isso às vezes, esse estilo comunicacional mais assertivo, pode assustar as ovelhas do rebanho.