Hoje resolvi escrever-vos sobre uma amiga. Alguém que entrou na minha vida nos últimos tempos e que tal como eu está a atravessar um deserto. Juntas a travessia tem sido bastante mais divertida, embora não saibamos a sua distância concreta. Tem dias em que parece pelo menos mais leve. É uma sorte, não deixa de ser, encontrar alguém que está no mesmo timing do que nós. Parece mais fácil consegui-lo com amigos do que propriamente com amantes. Aproximámo-nos quando ela puxou um assunto que me era dificil e eu deitei tudo pra fora. Ela podia ter fugido. As pessoas têm o hábito de. Ela ficou. E assim, apoiadas nas nossas dores, a gente tem rido quando é possível.
Os processos de regeneração são uma prova de resistência. A pessoa acha que vai sucumbir umas 300 vezes até perceber que afinal é mesmo assim: aguentar, calar e tentar não enlouquecer. Os processos de regeneração entram em cena depois dos lutos ou em simultâneo com os lutos. Não são fáceis, mas supõe-se ou espera-se que nos façam crescer. O que é que nós fazemos com aquilo que aprendemos é que me parece suspeito. Há dias em que duvido muito da aplicação de tanto conhecimento. Será que serve mesmo para alguma coisa? Será que contribui efectivamente para fazermos melhores escolhas? Para tomarmos melhores decisões? Para sabermos o que queremos?
Essa minha amiga - que é a mesma a quem "A pessoa", a tal pessoa, enviou mensagens - divorciou-se há uns 3 anos embora o casamento já tivesse terminado há muito. Um casamento daqueles com direito a tudo. Desde então tem conhecido muita gente sobretudo através das redes sociais. Até se entende, o meio é pequeno, a informação circula rápido: há mais uma disponível no mercado. Acho até que existem homens que vêem nessas situações um certo oportunismo, "está carente, logo deve ser fácil". Não podiam estar mais errados. A carência está lá. Está sempre. Mas a dor também. Ninguém muito despedaçado vai saltar para outra relação de corpo inteiro. Falamos imenso sobre as pessoas que estamos a conhecer. Bom, que ela está a conhecer. Quanto a mim vocês já sabem...
Outro dia, ela apercebeu-se de uma coisa que fazia com os amigos mais próximos. Mantém-nos sempre por perto, mas na realidade não avança a sério com nenhum. Sempre que os vê a fazerem progressos com outras pessoas, contra ataca. Pede satisfações, faz barulho, reclama e depois larga de novo. Ela sabe-o. E tem vergonha de. Tentei fazê-la perceber que a carência estava a desorganizá-la e que ela tinha de parar com isso. Não há pior coisa do que dar com uma mão e tirar com a outra. De repente, ela perguntou-me: "mas se eles gostam mesmo de mim porque é que eles não lutam, não ficam e não me dão provas?" Oh, mulher! ninguém fica onde sente que não é desejado. Regra básica. Todos sabemos muito bem quando nos querem e melhor ainda quando não. Acho muito perigoso quando alguém pensa assim, embora todos nós já tenhamos pensado assim. No fim de contas andamos todos despedaçados a embater uns nos outros à espera que alguém nos salve.