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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

 

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Então o rapazinho, o mocinho, aquele que eu tinha deixado no vácuo, voltou a interagir. Pouco, claro, que o homem é poupado. Como a brincadeirinha da cueca não funcionou, os vídeos dos gatinhos também não, partilhou uma publicação sobre viagens. Muito astuto o pequeno. Parvo não é. Respondi. A granel. Que eu também sou poupada, mas não queria parecer mal educada. E ele respondeu e eu enviei um emoji para a coisa não ser muito lamechas e retirei-me novamente. E pronto. Voltámos a não falar. Ele não se esforça, mas também não desiste. Não deixa de ter graça. Também não facilito, claro, mas nestes dias, em que não falámos, vi milhentos vídeos de gatinhos e cachorrinhos que salvei para lhe enviar. Mas não enviei. Silly me

 

Há qualquer coisa nele que eu acho graça, só não sei o que é. O físico não é de certeza. Outro dia pus-me a ver um reality show, o Love is Blind, em que  concorrentes decidem com quem casar sem ver a pessoa, só através da conversa. Ora, é muito isto. Calma, não me quero casar com ele! e até já o vi, uma vez, mas ao longo destes 6 meses já falámos de quase tudo, já tivemos conversas bem fixes e já tivemos episódios mais chatos e ele portou-se sempre bem. E não desiste. Ou não deixa de falar. Até pode passar uns dias sem dizer nada, mas depois volta. É como se fosse um amigo em quem nos queremos aninhar. Sim, tenho amigos, bons amigos, em quem não me quero aninhar, mas com este até me aninhava. Sei lá, o homem transmite assim uma certa segurança. Homem. Chamei-lhe homem. Não sei. Parece seguro. Parece que não vai deixar ninguém mal.

 

Ao inicio, fui um bocado malandreca. Tivemos conversas picantes. Nada de nudes... mas o sexting com ele é bom. Então não sei até que ponto isso também não pode estar a deturpar um pouco a cena. Comecei a cortar as conversas sempre que ele chutava para esse lado, mas não posso esconder que já nos divertimos muito, ele lá, na casinha dele e eu na minha. Já vos aconteceu trocarem mensagens temperadas com alguém que mal conhecem? Ele confidenciou-me, outro dia, que está em várias apps, mas que não tem muito sucesso. A conversa pode ser obviamente um entrave porque a criatura não é muito de se expressar. Acho que ele precisa de alguém com tempo e paciência para o conhecer. .. Às vezes penso que se calhar a falta de sucesso é falta de vontade. Talvez ele também não esteja numa fase maravilhosa e super inspirado. No entanto, perante todas as minhas fases de desinspiração, ele foi nota 10. Curioso esta criatura... E pronto, o ano está a acabar... quantas bocas beijadas aí desse lado? Ah, ah, ah, ah. 

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Sabem que dia é hoje coisas fofas? É Dia dos Solteiros! All the singles, all the singles ladies, put your hands up, oh-oh, oh-oh... Que piroseira, né? Não estou muito para comemorações como já devem ter notado. Estava com o astral lá em cima, mas passado uns dias, a vibe desceu a pique (desconfio que vem por aí um TPM). Depois de vos ter escrito o último post dei por mim com uma tesoura na mão. Calma!, a vibe desceu, mas também não foi a esse ponto. Tive o Verão inteiro com uma pulseira estilo Senhor do Bonfim versão Santo António enrolada no pulso. Comprei-a numa daquelas lojas do aeroporto de Lisboa no regresso de uma viagem que fiz com amigos. Andei com aquilo como se fosse um louvor convencidissima de que ia realmente ajudar. Aproveito para acrescentar que tenho três imagens de santos antónios em casa e até agora nenhum deles quis nada comigo. A pulseira já estava assim meio para o desvanecida, fui lá e zás, libertei-me. Acho que estou cansada demais para acreditar em alguma coisa a não ser num horóscopo (bem) favorável. Nesses a gente tem sempre de acreditar.

 

O deste ano até que bateu certo, dizia qualquer coisa do género, "muitos contactinhos para bater papo e tomar um chope, mas nada significante ou duradouro". É completamente verdade. Comparativamente aos anos anteriores em que vivi exilada da sociedade, foi um avanço grande. O mocinho - o único contactinho que volta e meia mantenho - voltou a interagir passado uns dias de folga, mas eu quase nem respondi e desliguei. Over and out. Veio outra vez com a típica conversinha da cueca com que uma pessoa fica farta de estar sempre a alinhar. Não é preciso fazer uma dissertação sobre a economia mundial nem discutir o preço do barril de petróleo, mas sei lá crio muita expectativa à volta da cena e ele não corresponde. Ele percebeu e pediu desculpas, disse que estava apenas a brincar. É inteligente. Claro que é, mas eu estava tão meh que nem respondi. Deixei-o no vácuo. Como tenho deixado um número significativo de pessoas desde conhecidos a familiares. Nos últimos tempos não houve um dia em que ele não me tenha enviados vídeos de gatos porque acha que eu preciso de adoptar um animal. Eu até gostava, mas não sei. Tenho medo do compromisso como os gatos têm de água. Ontem quando saí do trabalho precisava de passar no multibanco. Tive de entrar no hall do banco para aceder à caixa automática. Sabem o que é que me aconteceu quando saí? Um gato agarrou-se às minhas pernas e trepou por mim acima. Não estou a brincar. O gajo foi mesmo muito abusado. E eu só pensava, "queres ver que eu vou ter de te levar para casa?" O raio do mocinho. Cheguei a pensar que o rapaz até pode ter uma missão curativa na minha. Tornar-me uma pessoa melhor capaz de adoptar animais. Oh minha nossa. Uma pessoa não sabe o que fazer com ele.

 

Gatos à parte, estive a ler o meu horóscopo para 2023, um dos favoráveis, claro. Como está a favor sou capaz de ficar por este. Não mexe mais. Então, a nível de negócios diz que é um ano bom, mas para não fazer loucuras. Não gostei muito da parte em que mencionava "intensidade" e "mudança". Diz que "não será um ano fácil" (MEDO) para quem preza a estabilidade como o meu signo preza e que será necessário "explorar o novo". Bom, "explorar o novo". Não é o que andamos todos aqui a fazer? Olhem bem o que nós temos explorado. Ainda é preciso explorar mais? Fiquei mais animada com a parte amorosa. Dizia isto, LEIAM BEM: "novos romances podem entrar em sua vida de forma sólida, trazendo alegria e alimentando o seu espírito". Vou deixar a porta de casa aberta não vá ele querer entrar um nadinha de nada mais cedo. Minha gente, bom fim de semana e feliz Dia dos Solteiros! If you liked it then you should have put a ring on it, If you liked it then you shoulda put a ring on it... oh, oh, oh, oh, oh, oh, oh.

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Hoje tenho que vos falar do meu vizinho. Sim, vizinho. Devo ter contado - mais ou menos há um ano atrás - que mudei de casa, mas não vos contei que desde a Primavera deste ano passou a haver um vizinho. Fiquei muito empolgada com a ideia. Muito mesmo. Finalmente ia ter a quem pedir emprestado um abre garrafas. Sucede que o meu vizinho era quem? Um brazuca que andava lá no ginásio. Ele e a sua família - a mulher e duas criaturinhas. Durante uns tempos alimentei a esperança de me convidarem para um pagodinho ou para uma muquecazinha, mas a coisa não se deu. E não se vai dar infelizmente. Acabaram de se mudar, outra vez. Ou seja, já não há vizinho. Assim de repente até parece o resumo da minha vida amorosa, "falávamos, já não falamos".

 

Portanto, nada de pagode e nada de muqueca. Sempre que me via pedia imensa desculpa por causa do barulho que os filhos faziam. Super educado, super nota 10 mêmo. Criou-se todo um personagem à volta dele, moreno, musculado, óculos como os do Harry Potter , farda do trabalho e sorriso-abre-chacras (o segundo que eu vejo este ano por sinal). Quando chegava a casa eu ouvia os filhos perguntarem pelo intercomunicador quem era e ele respondia "é o amô da sua vida" . Resposta que me mexia sempre com as entranhas. Caraças. 

 

Uma vez reparei que havia no lixo uma plantinha e pareceu-me ser deles. Tentei resgatá-la e colocar na entrada comum da casa. Não fui bem sucedida. A planta morreu. Envergonhada da minha tentativa de resgate mal sucedida, arranjei umas suculentas que sempre resistem mais e coloquei-as num vaso à porta de casa. Há uns dias, ao fim do dia, reparei que havia uma planta gigante, maravilinda ao lado das minhas suculentas. Deixei onde estava. Achei que era uma brincadeirinha da minha mãe. Tinha comentado com ela que queria comprar mais plantas e como andamos de candeias às avessas deduzi que ela me tivesse feito a surpresa. Não haviam muito mais hipóteses. A meio do jantar tocaram-me à campanhia. Quem era? O vizinho. Disse-me que se iam mudar, pediu desculpa pelo barulho todo (de facto, era muito) e agradeceu toda a paciência que tive dizendo "reparei que você gosta de plantas, queria deixá essa com você". Ooooh, morri. Digam lá se não é o gesto mais fofo do mundo... Fiquei tão feliz. Senti o coração a aquecer por dentro instanteneamente. 

 

Sentei-me no sofá enquanto namorava a nova planta lá de casa e comecei a pensar em tudo o que foi este ano que ainda não acabou. Apaguei uma das apps. O mocinho deixou de reagir e de falar e eu também. Fui indemnizada em 27€ pela viagem que comprei e não cheguei a fazer. Apaixonei-me. Pelo menos uma vez. Quebrei o jejum. Continuo solteira. Ofereceram-me uma planta. Está tudo bem. A vida é tão boa, não é? Perante as notícias tristes que me chegam quase todos os dias, só posso sentir-me afortunada. Porque raio é que nós cismamos que a felicidade está nas coisas que não temos? Talvez eu não esteja à procura de um amigo colorido... Talvez eu esteja à procura de um vizinho. Talvez seja mais isso.

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