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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

 

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O assunto não-cenas está resolvido. O C. não disse absolutamente nada o dia todo e eu também não. E querem saber? Não me fez diferença nenhuma. Acho que consigo sobreviver a mais uma desilusão. LOL. A meio do dia postou uma frase no facebook que dizia assim: "desculpe a minha ausência, não fugi de você, mas estou lutando contra os demónios da minha vida". Pessoas, quem é que em 2023 utiliza o facebook como diário pessoal? Não precisam responder, eu faço-vos esse favor: quem não bate bem da tola! Para mim este tipo de comportamento do lá vai recado foi a gota de água. Se eu ainda tinha algum tipo de sentimento por ele - leia-se compaixão - deixei de o ter no mesmo instante. E vai ele e partilha a mesma frase no stories (que eu consegui ver sem lá clicar). O que é que que a criatura pretendia? Que eu visse, não? Pura estratégia. Os manipuladores não dão ponto sem nó e estão constantemente a medir o grau de influência junto das suas presas. Depois de um vácuo propositado, ele queria muito provavelmente tentar perceber se a sua pessoa ainda me provoca algum tipo de comichão. O problema é que eu não tenho 25 anos, a idade das miúdas com que ele se costuma meter e de quem ele costuma abusar. Meter-se com uma mulher mais velha é outra fruta. Então, não é... 

 

Umas horas mais tarde, a telenovela dos recadinhos de amor sobe de nível quando a amiguinha - a tal que ele colocou ao telefone comigo - posta uma foto dos dois juntos e uma breve dissertação sobre a amizade. Ficais a saber que "amigo é aquele que entra no barco com você e enfrenta as tempestades mesmo sabendo que ele também pode de alguma forma afundar. Amigo e aquele que sabe o verdadeiro significado amar". Oh valha-me Deus nosso senhor! Alguém que diga a essa miúda para ela saltar fora do Titanic enquanto ainda dá tempo! Portanto, toma lá que eu agora estou com os meus verdadeiros amigos - aqueles a quem eu peço dinheiro para tabaco e com quem eu tenho sexo de vez em quando - e não preciso de ti. A sério pessoas? Que raio de gente é esta a que vive neste planeta? Vocês sabem quando é que tudo fez clique? Num dia em que eu lhe disse várias vezes que tinha ido ao médico e ele nunca perguntou como tinha corrido a consulta. Aí eu pensei "porra, não só tem antecedentes muito maus como isto é só sobre ele, narcisista do caralho". É muito fácil apanhá-los simplesmente porque eles não conseguem manter a farsa durante muito tempo. Basta ter paciência, esperar um pouco e começar a assistir à incoerência entre palavras e actos. Eu fui esperta. O "tenho saudades de conversar contigo" também foi estratégia. O problema é que ele achou que lhe ia correr bem e não lhe está a ser nada favorável.

 

Livre das apps e livre das pendências! Até tenho sido relativamente rápida a tratar dos pés na bunda que tenho dado. Claro que uma pessoa fica desmotivada e xoróró... mas fui reler o meu horóscopo novamente (um dos 1200 que printei)  e até faz sentido: "existirão imensas tentações, mas você está à procura do amor. Evite as tentações e continue de olhos no prémio. O amor está à sua espera, mas não o faça esperar demasiado". Pronto, a parte das tentações eu já percebi, o resto não entendo nada. Por outro lado, noutro horóscopo, diz que 2023 será o ano... de sexo incrivel! Aaaah, queeeero muito! Vá astros, alinhem-se e depressa! Estou optimista, sinto que estou a abrir caminho. Eu disse-vos que 2022 era o ano... e foi. Agora sinto que está perto. Bem, perto. 

 

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Ora, vamos começar pela parte REALMENTE IMPORTANTE: estamos abaixo dos 80!!! Não vou atirar muitos foguetes antes da festa porque também não estamos assim taaooo abaixo, mas ao fim de 4 anos - muito suados e muito sofridos -  já não faço parte da estatística da obesidade mórbida em Portugal. Iiiii-Yêeee! São 30 quilos perdidos e centenas de dores no corpo... e na alma. Só comecei a treinar a sério, mesmo a sério, depois de ter adoecido e só vos posso dizer isto: não há sensação melhor no mundo do que o nosso corpo nos dar aquilo que nós lhe pedimos. 

 

Já contei a novidade aos amigos mais chegados. Gostava de contar isso ao C.. Tenho falado com ele e ele tem falado comigo. Conversa de circunstância. Nunca mais voltámos a falar como falávamos nem com a frequência com que falávamos. Ele não deixa que eu me aproxime, mas também não me deslarga. Esta semana num acto de loucura (e num dia em que estávamos a trocar mensagens), pensei "vou dizer-lhe o que sinto", na verdade não foi bem isso que pensei, o que realmente pensei foi "vou testá-lo" e escrevi-lhe "tenho saudades de conversar contigo". O que é que eu tinha a perder? Não era um pedido de casamento. Respondeu-me "também", mas logo a seguir disse que estava cansado e que ia tomar banho (o equivalente a não estou disponível) e a seguir acrescentou, "mas ligo-te mais tarde se ainda estiveres acordada" (para não ser totalmente desagradável, claro). Aquele "também" foi a conta gotas. Muito poupadinho. Disse-lhe para descansar e desejei-lhe boa noite, só queria que soubesse isso, não era uma intimação para me ligar nem para falarmos... e mesmo que fosse, ele não deixou muito margem para isso acontecer, né?

 

No dia seguinte, trocámos mensagens, normalmente é sempre ele que toma a iniciativa (deve ir lá à listinha dele e enviar uns 5 bons dias em simultâneo). Hoje não falámos. Até agora. Sinto-me o Cristiano Ronaldo no banco. Estou fora de jogo, não estou? Sinto que ele já desistiu e que daqui não vai sair nada, mas a saudade mantém-se e isso é o mais estranho. Tenho saudades de "falar" e é claro que ele não o quer nem o permite. Tá-se fazendo dificiuuuu, a criatura... Para conversar são precisos dois e portanto, nada há a fazer senão respeitar a vontade dele e não insistir. Eu fui a primeira a atirar-me fora, não fui? Agora é aguentar... Mas, mas... tenho uma desconfiançazinha que mais dia, menos dia, ele volta a enviar mensagem a perguntar qualquer coisa banal como quem não quer nada. Será? Queria resolver isto pah. Estou farta de não-cenas. 

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Como é que vos hei-de escrever isto... ainda falo com o tóxico. Ou melhor, ainda falamos um com o outro. Pronto. Julguem-me. Whatever. Tenho consciência (acho que tenho, né) que manter contacto com ele pode ser uma experiência radical, mas senti-me muito incomodada com o raspanete que lhe dei. Os nossos feelings valem o que valem, mas acredito que no fundo, no fundo, a gente sabe. Com o meu ex foi assim. Tinha um feeling que não me devia meter numa relação com ele. Transmitia-me pouca confiança e na verdade, não me dizia nada. Não sinto isso com o C. (vamos dar-lhe um nome melhor do que tóxico), mas a questão nem é essa. Nós não temos uma relação, nem sabemos se vamos ter e eu esqueci-me disso algures (as usual). É alguém que estou apenas a conhecer e com quem falo e não quero pensar em mais nada senão nisso. 

 

Com ele sinto-me à vontade. Sinto que não há máscaras. Estou a falar de mim. De como me vejo. Sinto que há espaço para a minha verdade e para quem eu sou, ou como eu imagino que gostava de ser. Não sinto necessidade de erguer muralhas, nem de sacar truques da cartola e isso não me costuma acontecer com muita regularidade. É isso, essa facilidade a descoberto com que as cenas surgem, o que me faz continuar a falar com ele. Acho que ele foi tão corajoso em contar-me a sua vida que eu também não lhe quero mentir. Acho que ele uma das poucas pessoas de carne e osso que pelo menos se esforçou por se dar a conhecer. Aliás, quando lhe disse que não queria falar mais com ele porque me sentia exarcebada com o que ele me contava, ele pediu-me desculpa e disse-me que só o tinha feito porque era a sua forma de triagem porque também se precisava sentir seguro. Creio que todos nós precisamos de nos sentir seguros. Custa-me, claro que me custa, aceitar que uma pessoa como ele, com o passado dele, com o presente dele, me dê o que outras pessoas com vidas aparentemente mais bem organizadas e menos marginais não me deram. Estou a julgá-lo. Faço-o todos os dias, mas não o quero fazer mais. É normal, mas não é justo.

 

Claro que esta vontade de ser eu pode ser apenas uma resolução da idade. Pode ser uma nova forma de estar na vida. Pode ser a ternura dos (quase) 40, mas é uma forma de estar como nunca estive. E não vos vou mentir, gosto imenso desta versão 4.0. Falámos tanto (um bocadinho rápido demais, claro) e partilhámos episódios tão intensos que eu senti que estava de certa forma a desrespeitar tudo o que venho a pregar na vida. Depois de ter entrado em pânico, obriguei-me a reflectir. Acho que posso ter feito um bocadinho de drama a mais... E não, não estou a tentar desculpar o menino, não é nada disso. Estou a reflectir sobre as minhas próprias atitudes. Projectei nele uma carragada de cenas que têm muito mais haver comigo e com os meus traumas do que com a história dele e acho que isso não foi nada bonito. Liguei-lhe e tal como lhe expliquei o quão desapontada estava com ele e o quanto me sentia usada por ele, também lhe confidenciei que tinha entrado em pânico, que não queria que ficasse um mau ambiente entre nós, que ele não era o único que se sentia sozinho e que ele me divertia. Muito. Continuo orgulhosa de mim. Acho que pela primeira vez na vida estou a tentar comunicar o que sinto desde o quilómetro zero. 

 

Soa mal? Eu acho que estou apenas a ser prática. Ele dá-me alguma coisa que eu curto e que eu não encontro noutras pessoas, porque é que não podemos aproveitar isso? Chega de drama. Não quero com isso dizer que vou viver para ele... Não posso obviamente escalar para onde não dá para ir, mas acho que também não devo deitar a perder o que a vida me está a tentar ensinar. Mesmo que ele seja só um amigo, é extremamente bem-vindo. Sempre fiz imensos juízos de valor sobre as pessoas e talvez isto seja apenas uma experiência para me deixar mais permeável ao mundo e aos outros. Com a idade que levo, não me peço dar ao luxo de me recusar a aprender. Come what may, come what may.

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Espero ter acabado com os meus problemas: DELETEI as dating apps e tão depressa não me meto lá! Afinal de contas eu estava no sítio errado, à hora errada, no meio de gente provavelmente errada. Não quero investir em gente "longe da porta". Não quero "viver" coisas online. Étereas e ridiculas. Tenho de parar de escolher homens-impossíveis e tenho de me focar em gente perto da porta. Toda a gente das redondezas arranja uma tampa para a sua panela, porque é que eu é que não consigo? A última espécie, o menino tóxico, continua a enviar-me mensagens. "Bom dia", "boa tarde", "boa noite". Parece um relógio de cuco. Não estou à espera que ele me peça desculpa (até porque como ele diz, ele não fez nada de errado, certo?), mas por momentos pensei que pudesse fazer-se passar por meio arrependido. NOT. Não lhe respondi. Hoje, voltou a meter conversa e como eu estava online, respondi. Respostas evasivas ao mesmo nível das perguntas dele. É pura estratégia, pode ser que se vá fartando até caçar outra (algo que não deverá demorar muito tempo até acontecer). Tenho pena dele. Tenho e não tenho. Tenho pena porque leva uma vida desgraçada, no entanto, foi ele que assim quis. Acho que quando estamos muito desconfortáveis com as nossas vidas ralamos o que for preciso para as mudar. Se ele não a muda, então é porque gosta dela assim. Não consigo ver nada de bom no horizonte desse rapaz, mas já lá vai o tempo em que eu achava que podia mudar o mundo, sobretudo o dos homens. 

 

Entretanto, um tipo bastante aborrecido (chamo-lhe de azulejo por causa do padrão das camisas que costuma utilizar), convidou-me para um café pela 78ª. Disse-lhe que sim. A estratégia é mesma. Deixá-los cansarem-se sozinhos. Acho que estou naquele ponto em que prefiro limpar os palhaços todos de uma vez. Perguntou-me se podíamos trocar números (estávamos a conversar pelo messenger) e eu disse que sim. Não é que a criatura me enviou uma mensagem para o telemóvel a dizer "olá"? Eu não lhe ia dar outro número... Tive de lhe perguntar se por acaso ele pretendia manter a conversa em dois suportes diferentes ao mesmo tempo... Eu faço isso com as minhas amigas, mas não tenho propriamente vontade de fazê-lo com ele. Já é um esforço inglório manter a conversação numa via, imagina em duas... Jesus, dá cá uma vontade de cortar os pulsos... Ando tão fartinha das pessoas, tão, mas tão fartinha... Mulheres, homens, tudo. Os últimos meses também não foram felizes em matéria de amizades. Estou a precisar de renovar os meus contactos a todos os níveis. Vou olhando para isto como uma espécie de formação on job, mas sinto-me a estagiária a quem toda a gente faz promessas, mas ninguém contrata. 

 

Quero demitir-me se for possível. Infelizmente, a vida adulta não o permite. Quando mais selectiva uma pessoa fica, menos graça parece que isto tem. Ser solteira aos quase 40 devia ser muito mais divertido. Ando desmotivada, mesmo ao nível dos treinos. Tenho-me baldado e só lá vou na força do ódio. Começo a suspeitar que as previsões do meu horoscopo estão erradas. Um ano que se avizinhava tão positivo no campo do amor, começou assim, com o apocalipse instalado. E não me venham dizer que ainda falta muito porque eu sei consultar o calendário. Estou a precisar de sair. Tenho saudades de uma noitada. Uma noite para me "aprodecer" um pouco e jurar no dia seguinte que nunca mais se volta a repetir. Não é meu costume, mas sinto que é o que é preciso. Soltar a franga porque ela coitadinha tem vivido demasiado oprimida. 

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Acho importante contar este episódio porque é serviço público. Homens, ou melhor, meninos tóxicos são o demónio em pessoa e é bom que os consigamos parar a tempo antes de deixá-los entrar nas nossas vidas. Ontem, como de costume, ele ligou-me durante a pausa da tarde, estive a maior parte do tempo calada. À noite, quando saiu do trabalho, voltou a ligar e aí não deu para aguentar mais. Disse-lhe - sempre de uma forma bem pedagógica, claro - que não sabia muito bem como dizer o que ia dizer mas que não estava interessada em continuar a falar com ele e que não o queria fazer mais (adorava ser uma mosca para ter visto a cara dele). Ele balbuciou um "tá bem, respeito". Expliquei-lhe que me sentia usada, que me parecia que lhe dava imenso jeito ter alguém com quem falar quando os compinchas estavam ocupados, mas que na realidade ele não tinha nenhum interesse em mim nem nada para me oferecer (não imagino coisa pior para se dizer a um menino destes). Disse-lhe também que não mantinha o tipo de conversas que mantive com ele com pessoas em quem não tenho intenções de investir e que portanto, não fazia mais sentido falarmos. Obviamente, o-b-v-i-a-m-e-n-t-e que ele não percebeu. Ou fez que não percebeu. Este tipo de pessoas nunca percebe aquilo que não lhes convém.

 

Começou aquela conversa tensa em que assim que eu acabava uma frase, ele começava a dar uma série de desculpas sobre isto e sobre aquilo, fazendo-se sempre passar pelo coitadinho, "meteste-me no mesmo saco do que os outros todos, se é assim que queres pensar, tá bem, eu respeito". Chantagem emocional. Uma cartada típica quando estão a perder o jogo. Às tantas disse-lhe, "quando uma pessoa te está a explicar como se sente, ela espera no minimo que a ouças, não que estejas a preparar a resposta para lhe dar. Mostraste-me muita coisa com os teus gestos. Acho que te conheço um bocadinho, estás perdido, precisas de ajuda e não sabes muito bem o que queres fazer com a tua vida. Eu estou num lugar confortável. Aprendi a carregar o meu fardo sozinha, não quero carregar o de mais ninguém e tu sabes muito bem que usas as pessoas. Extrais delas o que te convém, mas na realidade não me parece que tenhas gostado de alguém verdadeiramente, não me parece sequer que gostes de ti". Forte, não? (acho até que daria efectivamente uma boa psicóloga, mas era preciso que me pagassem para isso)

 

Fui mais fundo. "Deixemo-nos de tangas pah, tu vives longe, não estamos perto, que futuro é que isto tinha? Temos experiências de vida muito diferentes, percursos completamente opostos, nunca iria dar certo" . "Digo-te já, eu não sou como esses que tu conheceste". Pois não. É só pior. "A cena que tu mantens comigo é básica, descarregas os teus problemas e quando estás bem sacas a conversa da cueca. Fazes-te de engraçadinho para ver se as pessoas vão na tua cantiga, mas não dás nada, zero. Não trazes nada para cima da mesa" (obrigada Deus Nosso Senhor das Pessoas iluminadas por me teres permitido estar tão inspirada). Tanga praqui, tanga prali, começou a falar muito baixo, a tossir e a dizer que tinha de desligar. Saída típica de quem ficou com o rabinho entre as pernas e sem argumentos. Aos 0,2 segundos de ter desligado, enviou uma mensagem: "Desculpa, mas tive de desligar, não me consegui conter e não gosto que me vejam assim nesse estado, tenho sido o mais forte que consigo com a ajuda do humor, mas tirando isso fica tudo exposto, peço desculpa". Não lhe respondi. Já dei o que tinha a dar para esse peditório. Dei-lhe uma hipótese de ser honesto e ele não aproveitou.

 

A vida dele é um imbróglio de situações mal explicadas em que ele é sempre o mais desfavorecido. É, desde o inicio até ao presente uma linha muito ténue entre o bom e o mau (mesmo mau). Esses parasitas colam-se a mulheres frágeis e absorvem delas tudo o que podem. Quando elas já não lhes servem para nada, trocam-nas, mas nunca as abandonam. Gostam de manter as presas por perto. Relaciona-se com crianças, claro, mulheres a sério não o vão querer, óbvio. Extrai delas o que quer, maioritariamente dinheiro para os vícios e uma ou outra noite de sexo. Não lhes dão absolutamente nada. Não nos dão absolutamente nada. Houve muita coisa que me aconteceu no passado que eu nunca percebi para que é que ia servir. Serviu para isto. Para hoje saber exactamente o que eu não quero. Para hoje, perante um abuso, sim, um abuso de confiança, eu dizer NÃO, obrigada. Acreditam que ele me enviou uma mensagem de bom dia hoje? É muita falta de cáracter, né? Não respondi. Não vou responder. 

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Estou irritada. Irritadissima. Irritadississima. Senhor, como estou irritada. Querem novidades? Eu dou! Então diz que estava preparada, pronta, decidida a acabar com a dating app, mas deixei-a ficar porque fui de viagem e pensei: "última tentativa". Agora estou a perguntar-me porque é que não a eliminei antes. Dos 7000 matches que uma pessoa alcançou, dois "evoluíram". Evoluíram para o whatsapp porque entretanto já não estou na terra deles. História da minha vida: nunca estou onde é preciso. Um zuca que entretanto ficou a falar sozinho dado que a conversa com o tuga estava a ganhar, de longe, por uns por 7-1. Problema: ele diz tudo o que uma mulher quer ouvir e vocês sabem como isso é GRAVE. 

 

Depois de dois ou três dedos de conversa, ele ligou-me. Achei estranho, mas ao mesmo tempo interessante. Gosto de gente que se mexe. Estivemos umas 3 horas ao telefone. O recorde foram 6 . Ando cheia de olheiras. Acordo todos os dias como se tivesse uma ressaca. Ando uma lástima, acho até que já perdi peso... mas perante a história de vida do rapaz não fui capaz de não ouvi-lo. O problema é que é assim que eles me apanham sempre, eu, a Madre Teresa de Calcutá dos Desamparados. Não é que a conversa não seja boa, é. É crua, ou pelo menos eu acho que é e gosto disso, mas o rapaz tem um percurso diametralmente oposto ao meu, vive numa realidade diferente da minha, não estamos perto um do outro e se eu tivesse ficado à espera de todos os que me disseram que me queriam conhecer e vinham ter comigo, ainda hoje estava sentada na paragem do autocarro. Eu sei, é cedo demais para tirar conclusões precipitadas, mas eu também não ando nisto há 15 dias. Ele é giro (aliás foi por isso que eu fiz like), um pedaço de mau caminho (se bem que não lhe vi os dentes porque ele não sorri nas fotos). Fiz like porque já estava naquela, perdido por 100, perdido por 1000, não obstante ter pensado "não me importava nada que este me entalasse". É preciso ter muito cuidado com aquilo que a gente pensa, oh oh. O problema é que entretanto saiu tudo do controle. Ele liga-me várias vezes por dia, a caminho do trabalho, na pausa para o almoço, na pausa para o café, na pausa para o cigarro, no caminho de regresso e eu, de repente, vi-me a viver de auriculares nos ouvidos.  Não sei se consigo. Quando não respondo no messenger, ele manda mensagem pelo whatsapp e se eu não responder no whatsapp ele manda para o telemóvel. Vocês acham que isto é normal ou sou só eu a tentar encontrar indices de comportamentos abusivos?

 

Já lhe disse que é pouco provável que nos cruzemos, já lhe dei a entender que tem de apostar nos cavalos que estão perto do apiadeiro dele, mas ele diz que sabe que nos vamos cruzar e que não está nas apps à procura de sexo (sendo que uma das fotos é em tronco nu, de toalha enrolada). Jesus, um cliché. Como é que eu fui cair nessa? Ele perguntou-me se não tivesse a foto da toalha se eu teria feito like e eu fiquei calada. Enfim,  estou a gostar, claro, porque se pode conversar com ele e porque à partida ele parece ter uns valores e uns ideais muito semelhantes aos meus, no entanto tenho receio de estar a ser psicologa como sou quase sempre. Não posso negar que na semana passada me senti muito feliz, muito preenchida, muito qualquer coisa que não sentia há imenso tempo. Ele fez-me sonhar um bocado, um bocado muito para além da minha realidade e de tudo quanto perspectivei a curto prazo, disse a uma amiga minha, "se ele pedisse, eu casava-me".  Percebem agora a gravidade da situação? O problema é que este fim de semana ele foi à terrinha dele visitar uns amigos e puuuufffff, houve um vácuo pequeno, mas houve. Os factos ocorridos estão diluídos, jurou-me que não ia sair, que não lhe apetecia e foi, acabou a noite com uma amiga (amiga esta que já colocou ao telefone comigo para que ela me conhecesse). Fiquei desiludida porque sinto que ele me mentiu e não é por estar a querer cobrar nada, é porque começou tão bem que eu não queria estar assim cheia de suspeitas... tão cedo. Na realidade não temos nenhum compromisso, só falamos ao telefone (mais do que o normal), e eu sei que muitas vezes dormimos com uns e falamos com outros, mas eu não quero fazer isso se não sentir que vale a pena. Estão a entender-me? Faz-me confusão, nunca falei tanto com outra pessoa, nem mesmo com as que tive relações...

 

Ele é mais novo do que eu. Tem um passado marginal (eu sei, não abona a seu favor, mas pelo menos não escondeu). Dá-se com pessoas que me parecem não conhecer os limites de nada... Aconteceram-lhe uma série de coisas que são impossíveis sequer de imaginar. Ele não se faz de coitadinho, não é isso. Antes pelo contrário, diz que está a tentar mudar a sua vida e não ir pelos caminhos mais fáceis, o problema é que é muito fácil duvidar dele. Muito mesmo. Eu acho que ele é uma das pessoas mais incriveis que alguma vez conheci (pelo menos achava isso até hoje) e ao mesmo tempo um grande bandido doutorado em lábia. Esta puta dualidade não me parece muito conveniente, sobretudo porque estou numa fase da minha vida bastante estável e não me apetecia nada, mesmo nada, virá-la do avesso. Ele tem tudo o que eu não tolero, fuma, come junk food dia sim, dia não, não prossegiu estudos, divide casa com mais umas 5 ou 6 pessoas, não tem carro... Eu sei que pareço uma dondoca a falar e que posso ser má interpretada, mas estão a ver, não estão... Eu não encaixo nisso, de maneiras que não percebo porque é que a única criatura na app a seguir adiante tenha sido esta.

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