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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

 

Voltei. Antes do previsto. Sabem porquê? Porque na realidade não me apetece fazer nenhum, então vim para aqui procrastinar e desmoer umas coisitas. Tenho trabalho que devia adiantar, mas... estive a semana toda com a cabeça enfiada nisso. À sexta não vale. Era isto ou encher shopping bags online. Encher não custa, certo? O perigo é que eu estou numa fase de me permitir muito... Assim de repente, não soa nada mal. Pena que não ande a calhar a permissão que a gente queria. Serei uma ganda chata se vier falar do mesmo outra vez? Já estão todos fartos da mesma história e do mesmo gajo, certo? Eu estou - bastante - mas não consigo fazer nada a respeito. Estou naquele fase da incredulidade. Como é que foi possível? Tenho aproveitado para descontar tudo no ginásio e tem dado frutos. Infelizmente, nada de proveito. Que fenómeno raro é este? Quanto mais gostosa, mais desperdiçada.

 

Tenho-me notado mais enfurecida. Enfurecida na direcção do eufórica. Tenho urgência em tudo. Quero tudo. Exijo tudo. Talvez não seja uma mudança para pior, digo. Sabem quando vocês tentam uma coisa pela 39ª vez, ela não sucede e ficam com vontade de dar um murro na mesa e mandar as cartas ao chão? É assim que eu me sinto. Hoje fiz um teste. Story com foto caliente no insta. (se algum dia precisarem de ressuscitar contactos é assim que conseguem). Foguinhos, muitos de gente que não fala comigo há anos. "Aperta contigo" atira um contacto das apps. O do vinho. Já falei dele aqui (deixei de lhe responder às mensagens quando me enviou uma foto da pila dentro dos calções). A foto não me chocou, os términos com que me (des)tratou sim, "sua c@r#lh€". Resposta: "apertar querias tu e não podes". Aguenta-te tu agora. É este o espírito, tão a ver? Sempre por cima da vida (já que não podemos estar por debaixo de determinadas coisas). 

 

Continuo a ver horas iguais. Tem-me acontecido constantemente. Supostamente um sinal - diz a bilbiografia consultada - de que estou completamente alinhada com o universo. É o meu ano, garantem os hóroscopos. Continuo a não perceber porque é que os horóscopos me enviaram o Mr. Grey do Aliexpress, mas recuso-me a perguntar ao meu amigo que lê o tarot (o que me ficou com o dinheiro e nunca me "limpou"). Uma pessoa levou tanto tempo a tomar coragem para dar uma queca e vai-se a ver e não era bem isso. O que é/foi nem eu sei bem. Uma história bizarra que continua acesa na minha cabeça. É um puzzle complexo e eu sou doidinha por resolver charadas. Quando olho para trás vejo muita coisa que ignorei propositadamente em prol de dar uma alegria ao corpo, mas há peças que não consigo encaixam (é sempre a mim que me calham as coisas estranhas?).

Uma cronologia dos factos identificada com várias bandeiras vermelhas (pode ser que sirva a alguém que esteja a precisar):

Antes do desastre:

- Presença nas apps: as fotos eram giras - claro! - ele a fazer várias coisas muito high end, nada assim pobrezinho. Cheguei a duvidar se seriam verdadeiras ou não... aquele tipo de giro que uma pessoa pensa logo, "too good to be true". Até o cão é de marca! E um dos grandes problemas da vida dele era a mala de viagem com a roupa dele ainda não ter chegado.

- Primeira grande red flag: não ter foto nem nome no whatsapp. O que é que a criatura quer esconder? (consigo enumerar umas quantas coisas, ah ah ah). Todas as fotos trocadas eram enviadas em modo visualização única e ele nunca me pediu o meu contacto nas redes sociais. Num curto espaço de tempo teve uma foto de uma paisagem, uma foto de perfil onde não se via a cara, uma foto de moto até chegar a um fundo negro. Com certeza altera as fotos consoante o objectivo: apalpar terreno - dissimular - impressionar - resumir-se à sua insignificância.

- Segunda grande red flag: o tipo de discurso sempre centrado no eu: "se não me quiseres é só dizer", "não sirvo para mais nada senão para conversar?", "o que podias estar a fazer comigo agora e não aproveitas". Havia sempre um cheirinho a chantagem, chantagem essa cuja moeda de troca era sempre o corpo, a imagem e o Deus grego que ele acha que é.

- Terceira grande red flag: o convite para um primeiro date na casa dele. Não é que isso me assuste muito, mas recomendo que não o façam. Moro num sítio pequeno e atendendo ao posto que ele aonde ele trabalha, não ia tentar nada que o deixasse mal ou lhe trouxesse problemas. Tentei convidá-lo para sair e ele recusou. Inclusive no dia do date, sugeri que fossemos fazer uma caminhada e ele convidou-me para ver uma série. Acho que um convite desses hoje é em dia é sinónimo daquilo que a gente já sabe.

- Quarta grande red flag: no dia do encontro, à noite, as conversas da treta começaram. Foi aí que ele anunciou que no quarto era muito excêntrico e criativo (desconfio sempre muito de gente que se gaba). Tive direito a foto em tronco nu, deitado na cama. Conste-se que existiram muitas fotos do tronco, mas nunca do respectivo instrumento e isso por si só - olhando agora para toda a história - é uma enorme bandeira. 

- Quinta grande red flag: depois do encontro e de termos trocado algumas mensagens, houve um dia que não lhe respondi na hora, só mais tarde, justificando-me que não o estava a ignorar de propósito, tinha tido apenas um dia complicado. Ele não disse absolutamente nada durante vários dias. Nem sequer perguntou que merda me tinha acontecido. Era aqui - neste exacto momento - que eu devia ter seguido a minha vidinha.

Portanto a esta altura do campeonato já eu tinha percebido que espremido ele não valia nada. Não me dava segurança para avançar e muito menos tesão, sim porque os preliminares começam muito antes de levarmos alguém para a cama. O facto de olhar para um monumento daqueles e não sentir nada, intigrava-me. O pior é que eu tinha enfiado na casa que tinha de ter sexo com alguém sem estar envolvida emocionalmente com essa pessoa e estava disposta a levar essa missão adiante.

 

O desastre propriamente dito:

Fiz-me de tontinha e voltei a falar com ele, a rondá-lo. Ele nunca me deixou de responder, exceptuando essa vez que o deixei em visto. 

- Décima quinta red flag pr'ái: era sempre quando ele queria e como queria. Um dia disse-me "estou na cama a preparar-me para dormir, amanhã acordo cedo, mas envio-te mensagem". Até no dia em que veio até à minha casa certificou-se antes que "só vinha, dependendo do que acontecesse". Acho que aconteceu qualquer coisa que ele não esperava bem... Ele atiçava muito e recuava e isso sim podia ser um sinal de "não sei o que é que estou a fazer nem onde é que me estou a meter" porque de facto ele não sabia.

O resto da história vocês já sabem (andem uns posts para trás). A dúvida no ar se ele seria virgem ou não. A falta de tacto. O não saber beijar. O não tocar no corpo de uma mulher. O não me fazer sexo oral. O perder a erecção quando passámos à minha parte. O começar a entrar em pânico. O queixar-se de todas as posições experimentadas. O sair com o rabinho entre pernas porta fora sem sequer se ter despedido. Aqui dá muito para desconfiar, não dá? Uma pessoa não consegue não pensar na possibilidade dele ser gay.

 

O pós-desastre:

- Vigésima oitava red flag: não ter dito absolutamente nada depois desse dia e responder muito atravessado quando lhe enviei mensagens apenas para saber como ele estava. Que grande idiota! 

Mesmo assim, quando as malditas cordas que ele me pediu para comprar chegaram, enviei-lhe mensagem a informar. Foi quando ele se lembrou que afinal não as ia usar (estava com medo, não estava?). Nessa altura pediu desculpa, uma desculpa bem esfarrapada e duas semanas depois voltou a enviar mensagem para saber se eu já as tinha usado e se queria usá-las com ele. Jurou-me que já tinha usado esse tipo de adereços e que gostava muito, mas quando eu lhe reivindiquei que existiam determinadas coisas em atraso que ele tinha prometido e não cumpriu, ele nunca mais deu ares da sua graça. As coisas em atraso: dar-me o prazer que eu mereço. O que me faz voltar à teoria de que o corpo da mulher para ele é uma coisa proibida. Porquê? Qualquer pessoa que não saiba, quer aprender, certo?

- Centésima quarta red flag: ignorar-me em todos os sítios onde já nos cruzámos. Acho que isso ainda me choca mais do que o não saber fazer nada sexualmente. O dançar, o dar nas vistas, o espectáculo do "eu sou o gostosão daqui".  Uma fachada. 

Curiosamente, ele tem o mesmo nome do meu ex e eu não deixo de pensar que isso pode ser uma reencarnação. Do demo, claro. Uma forma do universo me testar. Deixa lá ver se esta tontinha aprendeu a lição e está pronta para o próximo nível. O que eu sei é que aprendemos ambos muito com esta experiência. É por isso que não me chateia nada ser o pesadelo da vida dele. EU QUERO QUE SEMPRE QUE ELE ME VEJA SE LEMBRE QUE TEM UMA PILA MEDÍOCRE E NÃO SABE LAMBER UMA MULHER. "O que podias estar a fazer comigo agora e não consegues". Incha!

Primeira ressaca do ano: checked! Não consigo perceber como é que a ideia inocente de ir beber um chá com o intuito de desmoer o primeiro sushi de 2024 me levou a fechar um bar e a gastar 20€ em shots. Há coisas muito estranhas a acontecer na minha vida. Bom, isso também não é novidade nenhuma, certo? Não ando com apetite para redes sociais, apps ou tecnologias. Contentem-se com um post por mês e é se acontecer, vou já avisando. Ando a embirrar com a internet no geral e com muitas pessoas em particular. Back to basics. Quero viver fora do telemóvel. Cansei-me dos foguinhos dos meninos que só conseguem utilizar os dedos para estimular ecrãs. Vocês sabem muito bem onde é que eu os quero. Este fim de semana tive um date com uma amiga nova e correu muito bem. Usámos os dedos única e exclusivamente para segurar os palitos do sushi.

 

Só gostava de saber qual é a probabilidade de uma pessoa sair poucas vezes e sempre que decide sair dá de caras com o último tipo em quem se tentou sentar? Exacto. Esse mesmo. O que broxou e fugiu como um coelho desorientado quando lhe damos com os máximos. Vicissitudes da vida dificeis de contornar nos sítios mais pequenos. A probabilidade de nos cruzarmos com quem não queremos aumenta exponencialmente. Sempre me travei muito por causa disso. Andei sempre a apostar nos "de fora". Era uma forma cómoda de prognosticar fins mesmo antes de começar. A este, apanhei-o no inicio da estadia aqui. O destino há-de saber o que fazer com isso, mas não deixa de ser irónico. Vou ter que levar com ele. Assim, como ele, terá de levar comigo. Another milestone for my spiritual growth. Amén!

 

Sempre que nos vemos (pós coito interrompido) é BUÉ esquisito. O horror no rosto dele é aflitivo. Faz-me imensa impressão. Juro. Ele não consegue cumprimentar-me. Acho que se esforça bastante para não o fazer. E eu insisto. Não tem expressão facial sequer. Só me olha paralisado como se estivesse a ter um AVC. Não diz olá, não acena, não mexe. Encolhe-se e entra em modo poupança de energia. É uma coisa tipo "eu não te estou a ver e tu não me estás a ver". Só lhe arranco um ligeiro esgar contorcido e é provável que seja dos nervos. Ou do cólon irritável. Que sofrimento. Até a mim me custa. Porquê? Porque lhe vi a pila? Mole? Não é bonito, mas também não é o fim do mundo. Homens, esclareçam-me. É coisa para tanto? Caramba, eu chupei-o, foda-se! e ele faz que não me conhece... Como se isso apagasse o que aconteceu. Não apaga. É por isso que sinto uma ligeira vontadezinha de continuar a cumprimentá-lo. Dá-me um certo gozo. Admito.

 

O ponto alto da noite foi quando ele saltou para cima do palco e protagonizou uma cena à Magic Mike. Óbvio que todos os que estavam no bar aquela hora já tinham bebido muito mais do que era suposto, incluindo ele, incluindo eu. Baixei a cabeça "ooooh, não!" e perguntei à minha nova amiga se não estava a ter uma alucinação causada pelo alcóol. Que animal de palco. Sim, senhor. O gingado (nada mau, ele mexe-se muito bem até), o histerismo exacerbado (provocado por dois shots talvez), o show off. Olhem todos para mim. Havia necessidade? A criatura não sabe de todo fazer o seu lugar - em situação nenhuma. Foi um espectáculo rídiculo do qual senti vergonha. Foi extravagante e simultaneamente deprimente. A versão que eu conheço dele é muito diferente desta, mas não sei qual é a verdadeira. Se vais fazer uma cena destas, cumprimenta pelo menos a única pessoa na sala que pode acabar com a festa sem ser preciso dizer grande coisa. 

 

Vejo-o a fazer tudo aquilo que disse que não gostava. E a fazê-lo numa escala bastante desmedida. "Não gosto de sair à noite, nunca me deito tarde, não bebo, não aprecio as mulheres da noite, sou mais introvertido e prefiro não socializar muito (ah mas na cama sou excêntrico e criativo)". A mesma pessoa que subiu ao palco de um bar para fazer um strip e mostrar a manga cava. A mesma pessoa que disse que queria meter-se dentro de mim e não sabia como. Que tragicomédia! Por momentos voltei a duvidar da sua orientação sexual. A manga cava levantou suspeitas. Mas porque raio se iria pôr a jeito nas apps? Não faz sentido. A menos que ainda não tenha saído do armário. Não estou a criticar o que fez. Eu também lhe disse que frequentava a igreja (porquê, não sei, mentira não é) e acabei a asfixiá-lo com um bastão para gatos. Nenhum de nós foi 100% honesto, mas ninguém nunca é. Na verdade fui eu que não aceitei o segundo convite para usar as cordas e fui eu que impus condições aparentemente inegociáveis. Ele não chupa, mas quer ser chupado. Caramba, é preciso realmente muito estômago para dar de caras comigo, não é? 

 

Tenho a certeza que nos vamos cruzar mais vezes. Tenho desejos sexuais como toda a gente tem, mas ele não mexe comigo (my vagina doesn't recognize it sister). Na loucura, às vezes penso o quão cómico seria conhecer um amigo em comum e coincidirmos todos numa soirée. Pagava p'ra ver, mas não vou provocar o universo. Prefiro que actue sozinho. Deve saber o que faz. Os 50.000 hóroscopos que li indicam todos que sim. Fingers crossed. Apesar deste cambalacho todo, sinto-me inabalável. E olhem que inabalável é uma palavra muito forte. Há uns anos atrás, se isto me acontecesse, era bem capaz de me sentir beliscada nas juntas, mas percebo agora que o trabalho dos últimos anos têm de facto dado frutos. Não comecei 2024 eufórica, mas estou tranquila. A minha fundação é boa e o poder está do meu lado. No worries.

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