Coisas que eu não devia ter feito desde a última vez que escrevi: aceite o pedido de amizade do rapazinho que levei para casa embriagada. Coisas que eu devia ter feito: continuado a ignorar as mensagens dele. Coisas que eu fiz: sexo, sexo, sexo! Coisas que me arrependo de ter feito: TUDO! (bom, o sexo não posso dizer que não foi bom). Daqui a poucos dias faço 40 e encerro os 30 com este capítulo misericordioso! Se o universo me continuar a tratar assim, não sei como é que vou chegar aos 41! Não sei mesmo, juro!
A criatura que eu conheci é possivelmente casada (e eu sabia disso quando o levei para casa, sabia, mas não estava em condições de reagir em consonância com os factos). Está "supostamente" a meio do processo de divórcio - diz ele - sendo que a ex-mulher-ainda-mulher é mais velha do que ele (mas não tão velha quanto eu). Digamos que ele está na base da pirâmide, ela no patamar seguinte e eu acima, no topo da cadeia. Foi pai há 3 meses. Exacto. Tem uma cria de 3 meses (que diz que visita todos os dias). E esteve casado uns 7 meses tendo a relação no total durado 2 anos (se é que está realmente terminada). Perdeu a mãe aos 14 e entretanto viveu em instituições. Ele e os irmãos (que são uns duzentos mais ou menos). Começámos bem. Partilhámos medos e dores, tanto ele, quanto eu e um pouco das nossas histórias (que não são de todo fáceis de partilhar). Criámos uma intimidade estranha em pouco tempo, mas aparentemente saudável e segura. Sentia-me confortável com ele e sentia-o presente, disponível, interessado. A nossa energia batia. Entre lençóis e fora deles. Senti-me, de repente, 20 anos mais nova (é este tipo de droga que nos pode lixar para sempre). Tentei não julgá-lo muito e entreguei-me ao processo (mas de vez em quando perguntava-me "o que é que tu estás a fazer com a tua vida?!"). Ele tem tudo aquilo que sempre foi decisivo para mim, para seleccionar pessoas. Desta vez, não o fiz. Se calhar porque como nunca tive grandes resultados, arrisquei ir por um caminho diferente. Embora as coisas estivessem a fugir-me um bocadinho do controlo, havia nele uma coisa que me prendia: pureza. Achava-o muito inocente, alguém bonito, machucado, mas com o coração no lugar certo. De repente, caiu um meteorito no paraíso.
Ele viajou em trabalho e durante os dias em que esteve fora revelou-se alguém demasiado carente, chato e manipulador (não são todos hoje em dia?). Perguntava-me todo o santo dia - de 5 em 5 minutos - se eu tinha saudades dele fazendo com que eu me sentisse quase obrigada a dizer uma coisa que eu, na verdade, não sentia. Chegou ao cúmulo de, após uma videochamada, me enviar uma mensagem a dizer "eu sei que não estavas sozinha". Alto e pára o baile! O histórico dele é mau, mas um comportamento assim é ainda pior! Deixei de lhe responder. Não dou a minima possibilidade a comportamentos deste tipo. Ligou-me várias vezes, fez um drama daqueles, pediu perdão, disse que se ia emendar e perguntou se podíamos continuar a falar porque se sentia muito bem ao meu lado. E disse que só me pedia uma coisa: que no dia em que eu não quisesse saber mais dele que por favor lhe dissesse e não o enganasse. Este episódio impactou-me muito. O meu ex era manipulador. Prometi a mim própria que não tolerava mais nenhum. O meu entusiasmo foi esfriando de tal forma que eu não consegui disfarçar mais. Voltámos a conversar e eu disse-lhe que não estava interessada em continuar envolvida numa "situationship" deste tipo. Diagnostiquei-lhe um monte de patologias, apontei-lhe um monte de defeitos e disse-lhe que tinha sido apenas uma aventura, que amanhã já nenhum de nós se lembraria dela. Ele disse então que se ia afastar. Muito ferido, dizia-se ele, postou uma foto no face com uma frase de fazer chorar os cactos do deserto. Um drama, outra vez. Tudo nele era intensidade a mais. Comecei a recuar, fiquei angustiada e em alerta, mas senti que podia ter sido dura mais. Quando os nossos triggers são accionados temos tendência a reagir ao ataque com a artilharia toda que temos. Voltei ao contacto e estivemos juntos novamente. Porém, agora, sentia tudo diferente. Menos disponível, menos conversador, menos presente como se fosse um corpo sem alma e eu confesso que estava a gostar das duas coisas.
Questionei-o e ele disse que estava tudo bem, que não se tinha distanciado, que estava apenas com muito trabalho, mas que queria continuar como nós estávamos. É óbvio que as coisas não estão bem, mas ele não quer falar disso. E não querendo falar disso, eu também não quero. A última vez que estivemos juntos, convidei-o para jantar e acabámos enrolados no carro. Senti-me um bocadinho usada, como se ele agora só me utilizasse por me utilizar, vocês entendem. Por muito que eu desejasse viver o que não vivi aos 20s nem aos 30s, acabei por compreender que o meu lugar aos 40s não é no carro de ninguém. Muito menos de um puto de 25 anos. Ele voltou a viajar em trabalho. Tem-me enviado mensagens. Não lhe tenho respondido. Pelo que vi na barra de notificações, a última dizia "Já entendi". Umas vezes penso que ele é extremamente sensível e inteligente, outras acho que ele é a ponta de um iceberg sem fundo. O que é certo é que não me sinto segura a andar nesta montanha russa onde eu entrei porque quis, mea culpa. Todas as minhas escolhas têm sido péssimas. Pergunto-me eu se necessárias? Foi sem dúvida o sexo mais fogoso da minha vida, não posso nem chegar perto dele que receio cair em tentação. Em troca disso, baixei um pouco as barreiras de protecção, consenti coisas que nunca tinha consentido na vida e provoquei uma fuga no meu próprio sistema de valores. Estou confusa. Não morri, não me falta um braço, nem uma perna, mas sinto-me estranha. Tenho dormido mal. E voltei a sentir ansiedade. Tudo coisas que eu não quero sentir e que já não sentia há imenso tempo. Posso me ter iludido um pouco e é por isso que não estou bem comigo. Como é que me deixei levar?
A verdade é que ele não tem nada para me dar. Gente, nem uma TV ele consegue comprar porque o crédito não é aprovado. Por muito que eu estivesse a precisar de sexo, o que eu realmente quero é alguém que divida os Domingos comigo. Alguém que preencha o vazio da minha vida, me mostre coisas que eu não conheço e que essas coisas não sejam becos escuros onde se vai para se dar uma. Achei honestamente que, mais uma vez, ele podia surpreender, mas não. (como é que é possível que eu ainda tenha esperança?) Assim como eu achei que eu podia ser alguém desse tipo, mas não. Foi só mais uma aventura dolorosa de processar e assimilar. O universo tem-me dado realmente aquilo que eu tenho pedido, talvez para me mostrar que estou completamente errada.