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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Nem sei por onde é que hei-de começar: pelo fim - para parecer mais épico - ou pelo século passado. Tudo o que me sucedeu aos 39 carece de explicação científica. Já lá vamos. O preâmbulo: fui de férias - regressei de férias. COM UMA GRIPE. Há lá coisa mais divertida do que passar 8 dias a tentar engolir a própria saliva e não conseguir? Não foram, obviamente, dias fantásticos, mas olhando para a big picture, correu tudo bem. Fiz muitos quilómetros e vi muita coisa. Nada impressionante na verdade. Já estou de regresso ao trabalho e à vida doméstica. Continuo exausta e abatida. Não esperem demasiada emoção. Ando drunfada de paracetamol.

 

O que é que aconteceu de relevante então? Tivemos - TAL COMO EU JÁ DESCONFIAVA E PREVIA - a oficialização da relação do R. com a "nova" namorada. No espaço de 6 meses, a criatura divorciou-se, envolveu-se comigo e voltou a meter-se numa relação. Nos próximos 6 meses, suspeito que tenha mais um filho. Visitei o perfil dele num dia, ao acaso e não havia "oficialização". Uns dias depois, voltei a visitá-lo e já havia... MAS COM UMA DATA ANTERIOR AO DIA EM QUE EU LÁ TINHA IDO CUSCAR. Houve uma certa dúvida em partilhar a notícia comigo. O porquê? Não sei. Têm palpites? Não era nada que eu já não soubesse. Oficializar uma relação no facebook para mim só significa uma coisa: AZEITE! Acho que esta manobra dele é - para além de imaturidade e falta de consciência - um contra-ataque muito direccionado à ex-mulher. Eu sou só uma peça fora do puzzle que ele não sabe bem onde encaixar. 

 

Esta urgência dele de ter que dar nomes às coisas é obviamente um defeito de criação. A história de vida dele justifica isso. Não o posso condenar. Alguém que nunca teve casa e família deseja muito ter uma. No entanto, eu não consegui lidar com a pressão. Ele precipitou-se e eu também. Lembrava-me imenso o meu ex e isso afligia-me bastante. Fui-me afastando e quando ele percebeu, não contou mais comigo e eu compreendo. Não deixa de ser uma cobardia. Às vezes sinto isso. Eu ter-me afastado porque não queria lidar com as impaciências dele e ele ter-se afastado porque viu que não me dava a volta como pode dar a alguém mais simples e menos complicado. É um misto de remorso, cobardia, tristeza e admiração, tudo junto. E é uma das misturas mais estranhas da minha vida.

 

O problema é que essas misturas estranhas trazem sempre adrenalina. Shots de vida. Pilas tesudas. Não consigo apagar da minha cabeça o melhor sexo da minha vida (pelo menos até agora). Havia muito tesão entre nós. Muito, mesmo. Não o queria propriamente para namorado, seria demasiado arriscado para alguém tão medricas como eu. Queria divertir-me. Ele disse-me uma vez que ninguém traía ninguém e não estou com vontade de testar isso... embora eu tenha descoberto, recentemente, que também tenho um lado bem perverso. Ele visualizou e reagiu a alguns stories meus durante as férias, mas desde que oficializou a dita relação, nunca mais "apareceu". Não pode, né? Eu também nunca mais postei nada. Acho que tenho algum receio de o fazer porque não sei como me vou sentir 1) se tiver alguma reacção ou 2) se não tiver nenhuma reacção. O que eu sei é que ele seguiu o seu caminho e eu tenho de seguir o meu. Fartei-me de pedir nas igrejas todas por onde andei que o saquem fora se ele não for para mim. Não é fé, é desespero.

 

Esta história sai tão fora do guião que eu temo não ter controlo sobre ela. Mais honesta não posso ser. "Não sou capaz de andar com homens casados, não gosto de  homens mais novos". Não quero dizer que nunca mais nada porque pode correr mal. Não percebo como é que eu estava a ir tão bem e a mensagem dele veio reacender tudo. Na altura em que me senti usada, fiquei muito desiludida. O meu corpo crashou, não conseguia aproximar-me dele apesar dos convites que ele me fazia. Tinha medo de me magoar. Agora, agora não posso garantir como reagiria se tivesse oportunidade e esse pensamento atormenta-me um pouco. Não vos vou mentir. Nem sei como explicar isto... mas, estando ele namorado é como se existisse também uma determinada "segurança". É mais um motivo para não podermos ter uma relação e ter uma relação com ele era o que me angustiava mais e o que eu embora desejasse, não queria... No entanto, não deixa de ser um sistema em que sempre joguei, o dos homens indisponíveis. Bom, não vale a pena tentar o capeta. Tenho de confiar no meu discernimento. Vou ser capaz. Vou aguentar-me. 

 

Contudo, volto a dizer o que já disse antes: há uma certa velocidade nisto que eu não deixo de invejar. Ele tem sido o centro da minha vida este ano e por mais que eu o queira ignorar, é evidente. Conheci-o na sequência de uma série de experiências tristes. Envolvi-me com ele. Resisti e ele desarmou-me. Quando fiquei com o coração apertado, enfiei-me num avião e fui ter com um amigo meu. O aperto não melhorou. Fui resistindo. Voltámos a falar. Apertou mais. Enfiei-me noutro avião, outra vez. Tenho a 3ª viagem deste ano agendada para Outubro. Durante as minhas férias senti-me a Elizabeth Gilbert do Eat, Pray & Love. Estou quase a dar a volta ao mundo pr'a nada. E olhem que me custa muito entrar dentro de um avião. Se ele não servir para mais nada, serviu pelo menos para uma coisa. Toda a minha vida a minha grande preocupação foi sempre a de aprender a dizer NÃO. Aprender a seleccionar. Aprender a escolher. Aprender a rejeitar. Acho que estive quase sempre errada. Tudo o que sinto que preciso é do contrário. Eu nunca disse SIM. Eu não sei como dizê-lo. Eu não consigo. 

 

É por isso que talvez esta história - e este ano - estejam de certa forma a ser tão penosos. Estão a levar-me o cebo. Não é que seja a história nem a pessoa ideais para dizer SIM, todos sabemos isso. Ele funciona num sistema diametralmente oposto ao meu. Eu sempre achei que o meu era seguro e funcional e se calhar não é tão verdade assim. Nunca se metam com crianças. Elas são terríveis.

Não me controlo né? Cá estou eu outra vez... trazendo de volta o mesmo assunto. A Solteira aqui só para vocês! Estava longe de imaginar que a vida amorosa das quarentonas fosse assim tão... animada?! Nem sei bem que adjectivo utilizar. Só sei que me sinto uma daquelas adolescentes que quer contar às amigas os pormenores todos da história, ele disse assim, ele fez assado. O último post foi uma tentativa de "encerrar" o capítulo R. ou de pelo menos colocá-lo em standby por algumas semanas (até ele se chatear com a actual ou mudar de namorada). Pensei que não iam existir mais contactos. Pelo menos por agora. Mas... no fundo, no fundo, guardava escondidinha uma esperançazinha, não vou mentir. Assim muito "inha". O último post foi escrito de acordo com a minha necessidade de arrumar tudo em gavetas (sempre a tive, não é de agora). Ou é ou não é. O problema é que na maioria das vezes não é assim tão fácil simplificar processos, quanto mais sentimentos. Existem gavetas com as quais temos de aprender a viver entreabertas. 

 

O R. enviou-me uma mensagem. Uma mensagem simples, nada comprometedora atenção! Partilhei um post antigo sobre a inauguração do espaço onde trabalho e ele enviou-me - na sequência disso - uma mensagem a dar-me os parabéns e a desejar-me muito sucesso, "mereces muito mesmo". Enterneceu o meu coração. Como sempre. Nunca ninguém me desejou tanto! Se há coisa que ele consegue fazer com muita habilidade, essa coisa é exactamente isso: pôr-me a sentir tudo à flor da pele. Respondi-lhe com um obrigada e acrescentei um coração e o emoji do beijinho, não quis parecer seca, mas também não fiz mais conversa. Hoje partilhei um story e ele reagiu com um coração. Eu disse que parecia uma adolescente, não disse? Sempre que partilho algum post a falar do meu trabalho - na página da marca que criei e que ele segue - ele também reage e é óbvio que eu GOSTO MUITO DISSO. Isto significa que ele anda atento, certo? Assim como significa também que a intenção dele não é cortar o contacto. São coraçõezinhos demais nos stories. Tal como ele disse, nós podemos ser amigos. Quando o convidei para tomarmos café, fi-lo porque tenho muitas saudades dele, de estar com ele, de falar com ele, independentemente do resto. Não sei se ele percebeu isso, se entendeu o convite assim. Só queria abraçá-lo, vê-lo, estar com ele. Ele sai fora de todos os parâmetros da minha vida e se calhar é por isso que acrescenta tanto. Não vou negar que também tenho muitas saudades de me enrolar com ele e há obviamente o perigo muito grande de nenhum dos dois se aguentar no que a isso diz respeito. Talvez seja por isso que está bom assim como está. Mas que há qualquer coisa entre nós, lá isso há.

 

Continuo a acreditar na minha teoria: ele não está totalmente descansado em relação ao nosso café pendente (nem à sua relação emergente). Creio que me anda a rondar. Claro que uma mensagem de parabéns e desejo de sucesso não significa mais do que isso, mas porque é que ele se iria incomodar? É um bom pretexto para voltar ao contacto, não é? Ou para ser lembrado. Pode ser apenas uma estratégia para não perder território. Nem sei explicar isto de outra forma, mas sinto-me muito mais triste sem notícias dele do que com notícias dele com a outra. Até porque as outras - posições que todas nós já ocupámos - podem contribuir e muito para o desenvolvimento de competências necessárias. Por vezes, quando me leio, fico assustada com as coisas que digo. A outra não me preocupa assim tanto. Não tem grande relevância para mim, mas também não me surpreende nada que daqui a dias apareçam casados. Eu não quero ocupar o lugar dela, só não quero que ele desapareça da minha vida. Pelo menos por agora (é provavelmente que me venha a arrepender do que acabei de escrever).

 

Tenho ânsias de vê-lo, nem vos passa pela cabeça. Tenho ânsias de tudo. De irmos ao Mac às tantas da noite comprar gelados enquanto ele conduz só com uma mão porque a outra está entrelaçada na minha. De caminharmos, à noite, debaixo das estrelas enquanto partilhamos coisas bonitas. De chegarmos a casa e ele sentar-me na mesa da cozinha enquanto me beija e me abraça. De irmos para o chuveiro juntos. Ele acordou qualquer coisa que estava adormecida em mim (ou que se calhar nunca tinha sido realmente acordada). E como eu acho que nunca vivi nada assim, tenho de fazer o esforço para deixar acontecer naturalmente (um formato que não casa de todo com a minha pessoa). Como eu queria que a minha amiga tivesse razão quando ela diz que é recíproco. Viajo amanhã. Durante os próximos dias teremos o acontecimento do mês: o aniversário da respectiva. Veremos quão românticas serão as declarações de amor nesse dia (e quantos corações os meus stories receberão). Uma amiga minha disse-me uma vez que eu conseguia dar-lhe a volta à cabeça em 3 tempos se realmente quisesse. Tem uma certa razão. Nunca acredito muito em mim, nem me faço valer... mas cheira-me, não sei porquê, que fui diferente para ele sem precisar me esforçar assim tanto. E tudo o que é diferente, a gente não esquece. 

Nos últimos meses tenho tentado passar mais tempo com a minha mãe. Nem sempre consigo. Não é que me falte tempo, porque tempo não me falta (comparado com outras pessoas e outras vidas tenho bastante liberdade), mas o meu trabalho consome-me tanto que preciso de intervalos longe de toda a gente. Creio que ela entende, pode não gostar, mas no fundo compreende, embora eu sinta que precisa cada vez mais de mim, da minha companhia e do meu apoio. Este ano cansei-me tanto de tanta gente que preferi estar mais com ela do que com os outros. A nossa relação tem melhorado com os anos. Melhora enquanto se esgota. Os conselhos dela têm realmente feito (mais) sentido. Muitos deles sobre o amor, as pessoas e as relações. Acho até que o humor dela se tornou mais refinado, eu que sempre substimei a sua inteligência. A minha mãe tem defeitos detestáveis, pelo menos até há bem pouco tempo eu via-os assim, mas tem se revelado uma surpresa nos últimos anos e isso de certa forma tem preenchido o meu coração. Espero que o pouco tempo que partilhamos, ela o sinta rico e especial como eu o estou a sentir. Sinto que agora somos mais melhores amigas do que alguma vez fomos. Espero que para ela o sentimento seja o mesmo. É o que esperamos sempre. Que os outros se sintam felizes connosco nas suas vidas como nós nos sentimos com eles nas nossas.

 

Nunca mais voltei a falar com o meu amigo e isso obviamente também o deve ter deixado um pouco remordido. Gosto de pensar que sim. Tenho partilhado stories e ele tem-nos visto todos. Visto e reagido. A alguns com muitos corações. A minha teoria continua a ser a mesma: suponho que ele esperava que eu fosse atrás dele e voltasse a insistir no café. Suponho. Desconfio. Não tenho a certeza. Desde essa altura que os seus stories são todos muito... românticos, digamos. Stories que eu não clico para ver, apenas visualizo no feed. A namorada é identificada, aparecem as iniciais de ambos unidas por corações, até fotos da festa da empresa onde ela trabalha validam o compromisso. Parece sério. Por um lado fico feliz, confesso. Feliz porque até agora ele parece coerente com o seu estado civil (mesmo que isso não me beneficie). Por outro, não posso negar que cada vez que vejo uma mesa posta com o pequeno almoço para dois, a minha garganta aperta. Quando nós gostamos de alguém e não queremos perder essa pessoa, não nos arriscamos. Ou porque não nos convém ou porque não queremos. Enquanto ele esteve comigo, ele não fez isso, mas eu também nunca disse nem verbalizei que queria ter uma relação com ele. Sempre me comportei da forma oposta e sempre afastei essa possibilidade, portanto assumo a minha responsabilidade quanto à táctica empregue. Essa é talvez a grande lição disto tudo. A mesma de sempre. Eu a dissimular que quero alguma coisa (querendo). Não resulta, pois claro.

 

Ele está apaixonado e não é por mim. Compreendo que eu não seja uma escolha (por todas as razões e mais algumas). Ele também não foi... mas houve muita coisa boa entre nós. Houve muita coisa boa em mim que eu pensava que não existia cá dentro. Sinto que ele me respeita assim como sinto que ele me admira. E isso também é uma forma de amor. Talvez o melhor amor que podemos oferecer aos outros. Ele foi provavelmente das poucas pessoas na minha vida que me disse coisas bonitas (e não estou a exagerar). Talvez seja melhor ficarmos assim. Ele pode até esquecer-me, mas eu prometo que não será fácil. Conto continuar a partilhar stories e a deixar de esconder-me entre as minhas quatro paredes. Talvez ele tenha vindo lembrar-me aquilo de que me estava a esquecer. Outra vez. Curiosamente, li isto recentemente numa página sobre astrologia: "você precisa parar de jogar pelo seguro e se acomodar. Você não arrisca no amor por causa do medo da rejeição que enfrentou no passado. Você aposta em pessoas que sabe que pode ter porque são confortáveis para si, mas... você merece alguém que a assuste um pouco e não quem é seguro". A história da minha vida resumida em 3 frases. Talvez eu seja o maior obstáculo da minha vida amorosa.

 

Os 40 tem sido uma lição muito dura de maturidade. Estou agradecida, mas estou combalida. Tenho plena consciência de tudo o que perdi. Saber porque perdi dezenas de coisas é positivo, mas não deixa de ser duro. O que é que se faz com isso? Tenta-se não repetir. O R. não tem consciência com o que é que mexeu, mas mexeu com tudo o que eu sempre escondi de todos. Cedi tão facilmente em tanta coisa que acabei por entrar em pânico. Ele levou-me a fazer coisas que eu nunca tinha feito na vida inclusive um teste de gravidez. Estão a imaginar como isto foi assustador para mim, não estão? Eu tive as minhas razões, mas como ele me disse uma vez, "em vez de falares comigo, desapareceste". Tem razão. Tem toda a razão. Um rapaz de 25 anos tem toda a razão. O meu ano astrológico prometia um grande amor, quando eu menos o esperasse. Um amor capaz de derreter o meu coração de gelo. Um amor capaz de me fazer voltar a acreditar porque é que a poesia existe. Terá sido ele? Ainda faltam 4 meses para 2024 terminar. Parto esta semana. Espero regressar mais leve. A vida segue. Tenhamos coragem para ela.

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