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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Não me controlo né? Cá estou eu outra vez... trazendo de volta o mesmo assunto. A Solteira aqui só para vocês! Estava longe de imaginar que a vida amorosa das quarentonas fosse assim tão... animada?! Nem sei bem que adjectivo utilizar. Só sei que me sinto uma daquelas adolescentes que quer contar às amigas os pormenores todos da história, ele disse assim, ele fez assado. O último post foi uma tentativa de "encerrar" o capítulo R. ou de pelo menos colocá-lo em standby por algumas semanas (até ele se chatear com a actual ou mudar de namorada). Pensei que não iam existir mais contactos. Pelo menos por agora. Mas... no fundo, no fundo, guardava escondidinha uma esperançazinha, não vou mentir. Assim muito "inha". O último post foi escrito de acordo com a minha necessidade de arrumar tudo em gavetas (sempre a tive, não é de agora). Ou é ou não é. O problema é que na maioria das vezes não é assim tão fácil simplificar processos, quanto mais sentimentos. Existem gavetas com as quais temos de aprender a viver entreabertas. 

 

O R. enviou-me uma mensagem. Uma mensagem simples, nada comprometedora atenção! Partilhei um post antigo sobre a inauguração do espaço onde trabalho e ele enviou-me - na sequência disso - uma mensagem a dar-me os parabéns e a desejar-me muito sucesso, "mereces muito mesmo". Enterneceu o meu coração. Como sempre. Nunca ninguém me desejou tanto! Se há coisa que ele consegue fazer com muita habilidade, essa coisa é exactamente isso: pôr-me a sentir tudo à flor da pele. Respondi-lhe com um obrigada e acrescentei um coração e o emoji do beijinho, não quis parecer seca, mas também não fiz mais conversa. Hoje partilhei um story e ele reagiu com um coração. Eu disse que parecia uma adolescente, não disse? Sempre que partilho algum post a falar do meu trabalho - na página da marca que criei e que ele segue - ele também reage e é óbvio que eu GOSTO MUITO DISSO. Isto significa que ele anda atento, certo? Assim como significa também que a intenção dele não é cortar o contacto. São coraçõezinhos demais nos stories. Tal como ele disse, nós podemos ser amigos. Quando o convidei para tomarmos café, fi-lo porque tenho muitas saudades dele, de estar com ele, de falar com ele, independentemente do resto. Não sei se ele percebeu isso, se entendeu o convite assim. Só queria abraçá-lo, vê-lo, estar com ele. Ele sai fora de todos os parâmetros da minha vida e se calhar é por isso que acrescenta tanto. Não vou negar que também tenho muitas saudades de me enrolar com ele e há obviamente o perigo muito grande de nenhum dos dois se aguentar no que a isso diz respeito. Talvez seja por isso que está bom assim como está. Mas que há qualquer coisa entre nós, lá isso há.

 

Continuo a acreditar na minha teoria: ele não está totalmente descansado em relação ao nosso café pendente (nem à sua relação emergente). Creio que me anda a rondar. Claro que uma mensagem de parabéns e desejo de sucesso não significa mais do que isso, mas porque é que ele se iria incomodar? É um bom pretexto para voltar ao contacto, não é? Ou para ser lembrado. Pode ser apenas uma estratégia para não perder território. Nem sei explicar isto de outra forma, mas sinto-me muito mais triste sem notícias dele do que com notícias dele com a outra. Até porque as outras - posições que todas nós já ocupámos - podem contribuir e muito para o desenvolvimento de competências necessárias. Por vezes, quando me leio, fico assustada com as coisas que digo. A outra não me preocupa assim tanto. Não tem grande relevância para mim, mas também não me surpreende nada que daqui a dias apareçam casados. Eu não quero ocupar o lugar dela, só não quero que ele desapareça da minha vida. Pelo menos por agora (é provavelmente que me venha a arrepender do que acabei de escrever).

 

Tenho ânsias de vê-lo, nem vos passa pela cabeça. Tenho ânsias de tudo. De irmos ao Mac às tantas da noite comprar gelados enquanto ele conduz só com uma mão porque a outra está entrelaçada na minha. De caminharmos, à noite, debaixo das estrelas enquanto partilhamos coisas bonitas. De chegarmos a casa e ele sentar-me na mesa da cozinha enquanto me beija e me abraça. De irmos para o chuveiro juntos. Ele acordou qualquer coisa que estava adormecida em mim (ou que se calhar nunca tinha sido realmente acordada). E como eu acho que nunca vivi nada assim, tenho de fazer o esforço para deixar acontecer naturalmente (um formato que não casa de todo com a minha pessoa). Como eu queria que a minha amiga tivesse razão quando ela diz que é recíproco. Viajo amanhã. Durante os próximos dias teremos o acontecimento do mês: o aniversário da respectiva. Veremos quão românticas serão as declarações de amor nesse dia (e quantos corações os meus stories receberão). Uma amiga minha disse-me uma vez que eu conseguia dar-lhe a volta à cabeça em 3 tempos se realmente quisesse. Tem uma certa razão. Nunca acredito muito em mim, nem me faço valer... mas cheira-me, não sei porquê, que fui diferente para ele sem precisar me esforçar assim tanto. E tudo o que é diferente, a gente não esquece. 

O post de Março pós legislativas. Nem sei bem como dizer isto... A frio - e para quem não segue o blogue - soa um bocado mal, mas cá vai: fui para a cama com uma pessoa de 25 anos. (em minha defesa, ele parecia rapaz para 30s e pico grandes). É um pormenor, se calhar um bocadinho desnecessário, mas se é para destruir a imagem que vocês têm de mim, que seja de uma vez: fui para a cama com ele três vezes. NA MESMA MADRUGADA. (era um jejum de dois anos gente, merecia). Como é que me sinto? Um pouco dorida. A grande novidade é que desta vez não foi um forasteiro e eu não sei se isso é bom ou mau. A criatura vive cá, na minha zona, mas eu nunca o tinha visto (embora ele conste do meu histórico de pesquisas no facebook). Confesso que entrei um bocadinho em pânico quando abri o olho de manhã e me dei conta do que tinha acabado de fazer - todo um inédito a vários níveis agravado por uma sobrancelha entrecortada a meio (facto que eu não tinha reparado antes). Digamos que esta parte da minha vida pode muito bem ser aquela em que eu me relaciono com pessoas perfil Casa dos Segredos. A parte importante: pouca gente testemunhou o acontecimento (acho eu). Abordei-o na pista de dança depois de uma troca de olhares, ele sugeriu conversarmos na esplanada do bar e o resto vocês já sabem. Vocês e os meus vizinhos.

 

Se estiverem interessados na parte funcional do episódio, posso adiantar que a criatura se portou muito bem e cumpriu com os mínimos todos, mas... quando a minha alma começou a voltar ao corpo, senti-me a perder o interesse na coisa. Sexo por sexo não é a minha cena. Definitivamente. Fi-lo porquê então? Primeiro porque estava alcoolizada, segundo porque o tinha definido como se de um objectivo se tratasse. Não é um objectivo tão nobre como subir o Kilimanjaro, mas é o equivalente e também (me) custa horrores. Estou a viver a vidinha de cougar que supus que seria divertida... mas o vazio continua lá. O sexo pode até acalmar o corpo, mas não acalma a alma. Andei enganada este tempo todo. A pessoa vai-se tentando divertir aqui e ali - sempre no off - até aparecer alguém com quem não queremos andar escondidas. Disse-lhe que me importava um caracol o que ele pudesse pensar de mim, mas que não tinha o hábito de sair, beber e trazer gente para casa. Ele disse que também não. Convidou-me para tomar o pequeno almoço e eu recusei. Disse-lhe que não queria esse tipo de "negócios". Ele disse que compreendia e que respeitava, mas à noite enviou-me uma mensagem. Não lhe respondi nem o vou fazer. Nunca me tinha sentido tão homem na vida. 

 

Acho que posso dar por concluída esta etapa da Grande Tour de France: envolver-me com alguém sem estar apaixonada, check! (que merda de objectivos defini para os últimos meses dos trintas!). A verdade é que tenho conseguido mais ou menos concretizar o plano, agora o plano é altamente duvidoso. Continuo a ver horas iguais todos os dias, várias vezes ao dia... Se isso significa que estou realmente no caminho certo, valha-nos Deus Nosso Senhor! Continuo muito impactada pelo militar, mas já consegui apagar as fotos dele do telemóvel. Acho que sonhei demasiado com a ideia do cavaleiro andante que chegava de longe e me resgatava de uma vida aborrecida. Nope. O que é facto é que depois dele, tenho me virado do avesso. Talvez ele tenha vindo para me lapidar, embora uma parte de mim gostasse que isso incluísse um anel no dedo. Silly girl!

 

Quando a vida acontece de formas que rompem com o padrão, a gente entra um bocadinho em pânico. Quem sou eu? O que é que ando a fazer? Porque raio é que estou a fazer coisas que disse que nunca faria? Porque é que estou a quebrar regras que sempre foram ouro para mim? Porque se calhar estou farta de fazer sempre tudo da mesma forma. Que vergonha, tens quase 40. Culpo-me, mas também acho legítimo que possa desfrutar de uma parte da minha vida que sinto que não vivi. É uma espécie de segunda adolescência. Não acredito que me possa trazer grandes revelações, mas não vou deixar de experimentar. Quanto ao amor, não vale a pena procurá-lo. É ele que nos encontra. Quando quer, da forma que quer. A única coisa que me resta é continuar a sonhar com ele nos dias em que for capaz. 

Estou a tentar lidar com a frustração causada pelos últimos eventos. A forma como estou a lidar com isso não tem sido linear. Como nunca nada que saia do formato o é. Porque é que o universo me mandou um rapazola com tudo aquilo que pedi (do ponto de vista material / físico), mas sem o devido recheio? Chega de partidas vida! Estou farta de ensinamentos e aprendizados (por muito úteis que eles me possam vir a ser). Sei que o alvoroço interno que me está a ser dificil acalmar não é mais do que o que projectei a implodir. Não há uma forma certa de fazer isto a não ser pela tentativa-erro, mas cada vez que não resulta, pergunto-me se não estarei a fazer algo de errado? Não estou. Sei-o perfeitamente, mas continua a ser-me dificil gerir desfechos imprevisiveis. Não sou só eu que me questiono, algumas das minhas amigas também têm as mesmas dúvidas: o que é que leva um homem a ter o trabalho de se envolver com uma mulher para logo a seguir descartá-la? E porque raio é que vocês - senhores - nunca dizem as VERDADEIRAS RAZÕES que vos levam a fazer isso? 

 

Quando eu era adolescente, não me sentia confortável em expressar os meus sentimentos / pensamentos. Era super calada. Sempre fui. Mesmo nas aulas. Lembro-me do dia em que o Paulo Alexandre (nome fictício) me levou para trás da escola e disse que gostava de mim. Entrei em pânico, fiquei sem saber o que fazer porque imaginei que a seguir ele me tentava beijar e eu nunca tinha beijado ninguém. Então vai que me pareceu fantástico dizer-lhe que gostava de outra pessoa porque era a forma mais segura de acabar com o pobre do Paulo Alexandre e evitar que ele me matasse do coração. Eu não gostava do Paulo Alexandre, mas também não gostava de mais ninguém. Será que agora o universo está numa de acertar contas comigo? Claro que eu era muito jovem, muito insegura, muito infantil. Quando me senti encurralada - desconfortável com a possibilidade de fazer uma coisa que nunca tinha feito - dei um coice forte para afastá-lo de mim e zerar todas as chances de continuarmos a ser amigos. O Paulo Alexandre - que entretanto casou e teve filhos - não fala comigo hoje em dia. Já tentei dizer-lhe "Olá" e dar-lhe "Bom dia" e ele baixa a cabeça sempre que passamos lado a lado na rua. 

 

O moço das cordas trouxe-me à memória uma série de episódios da minha adolescência. Imaturo como ele aparenta ser, pergunto-me se ele não utilizará o mesmo sistema de defesa quando se sente encurralado? Perante a ameaça assustadora da vulnerabilidade, vocês desceriam ou subiriam as vossas barreiras? É óbvio que isso não justifica o desrespeito. Nunca. Se tu estás a tentar ter acesso a uma pessoa e ela dá-to porque raio é que tu não haverias de querê-lo? Nós só fugimos do que nos incomoda. (eu a tentar encontrar um sentido). Eu pelo menos actuo assim, embora tenha consciência disso e esteja a tentar não repetir o padrão. A última vez que me despi emocionalmente e deixei que me vissem vulnerável foi a primeira vez que senti que estava a fazer a coisa certa no momento certo. E como não utilizaram isso para se rirem de mim - um gesto que a minha família, em particular a minha mãe, adora praticar - eu senti que era como se todas as coisas que eu perdi tivessem voltado de novo para mim. Que sensação! Foi um dos poucos momentos da minha vida verdadeiramente consoladores. Acho que nunca me tinha referido a esse momento nesses termos, mas foi de facto um consolo no meio de tantas dores. Acho que a vida adulta é dura exactamente por causa disso. Temos consciência - e medo - de que as coisas que perdemos não voltam (mesmo) mais. 

 

É por isso que apesar de saber melhor qual é o meu valor hoje em dia, também sei o quanto sofri para ganhar essa consciência. O quanto ainda sofro. É por isso que tento não ser dura com os outros. É por isso que em vez de dizer aos Paulos Alexandres actuais que gosto de outra pessoa, tento ser corajosa e explicar como realmente me sinto: nervosa, insegura e ansiosa sempre que me colocam perante situações novas e desconhecidas. Assim como tento incentivá-los a fazerem o mesmo. Se foi a primeira vez do puto das cordas, ele devia ter dito, mas não disse. E isso f#de@ tudo. É o processo dele e o processo dele tem de ser respeitado. Temos de contar com aquilo que é dito e ele não disse nada ou não disse nada do que realmente interessava porque continua a esquivar-se à conversa que é precisa. Consegues engatar uma mulher mais velha e envolver-te com ela... Que miúdo - recém chegado a um sítio novo, sozinho - não exploraria isso?! Um miúdo que claramente nunca passou do nível 1 e não sabe - depois de deitar os trunfos básicos todos fora - como continuar a jogar. 

 

O importante é não deixar que isso contamine os meus pensamentos e continuar o meu caminho. Não é que ligue muito aos horoscopos, mas entretenho-me a ler alguns que considero mais ou menos credíveis. Ontem li um - Words you need to read this weekend - que parecia mesmo, mesmo escrito para mim:

"You don't have to explode to be noticed. You don't win that friend group over; stop trying to. People are going to talk shit; let them. You know the truth. You have sincere intentions with awkard execution (you get more skillful). I understand you, even if you feel like nobody else does. Some texts are better left unsent. You will never be "too much" for the right people. That said, you will be "too much" for others, and you need to respect that. You can laugh at yourself without making yourself the joke. Don't give up on your own art. Don't give up on yourself. Dont give away your power. Slow down. Spend as much tome with granny as possible. Forgive yourself. You're really, really, really bad at math, but you're going to need to keep showing up to class anyways. Dump him. Stay curious. Keep reading. Keep burning your friends' CDs. Keep your heart on your sleeve (but maybe cover it up every now and then). You're allowed to feel things deeply but work on how to express those emotions. You become friends with your parents, cut them more slack. You finally find your people. You're not alone. You get into college. You turn into a writer. You help others. You get your shit together. You're not so bad, be kinder to yourself. Hang on, it gets better."

 

A minha vida actual resumida de uma forma sucinta. Está aqui tudo, não está? A seguir ainda li isto - Gentle reminders to make you feel better today: "When you forget your worth, please know that you are not and afterthought. You are not an idea that needs mulling over. You are not an option. You are not second best. And anyone who makes you feel any of those ways doesn't deserve you anyway". Ainda tive direito a isto - A message from your future self: "The Universe is guiding you, and by listening to your intuition, you'll find the path to your desire is clearer and smoother." e para acabar, numa outra página em espanhol: "No tengas prisa en que sucedan las cosas." Acho que os astros nunca estiveram tão alinhados. Bom, é confiar - mesmo que eu não acredite muito que o Universo está a fazer o que é melhor. P.s - não vos disse, mas o moço tem o mesmo signo que eu, ah ah ah. Fazemos anos no espaço de 5 dias. Exactamente como o meu amigo António Maria. 

 

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