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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Estou com dores de consciência. O destino - se acreditarem nisso - pôs-me a criatura de 25 anos de novo à frente. Não foi um encontro de 3º grau, não batemos olho com olho, mas estávamos bem perto um do outro, a escassos metros de distância. Nunca mais o tinha visto desde a noite em que nos enrolámos no carro. Não sei se ele me viu. Sei que o meu coração acelerou um bocadinho, não vou mentir. O meu corpo respondeu antes do meu cérebro e o vinho todo que bebi nesse dia, depois de o ter visto, só veio confirmar as suspeitas que todos tinham: ando-me a fazer de forte não sei porquê.

 

Ele tem 25. Eu tenho 40. Faz sentido? Não. Afastei-me dele e afastei-o de mim. Era o que eu queria? Se a minha cabeça estivesse na guilhotina, eu responderia não. Nunca tinha percebido que gostava tanto dele. A minha vida inteira foi sempre assim. Um exercício duro de evitação. Fuga. E falta de fé. Sempre me foi mais fácil fugir. Sempre fugi. Uma parte de mim diz-me que está certo. Que estou a evitar problemas. Que estou a limpar o caminho. Que vou ser recompensada com o certo. Outra parte de mim diz-me que estou a virar a cara outra vez. Que estou a ser cobarde. Que não estou a viver o que me prometi e que estou a mentir porque tenho - efectivamente - muitas saudades dele. Os meus 40 tem sido isto, um dilema. Um dilema entre o que devo e não devo, o que acho que preciso e não preciso. Não estão a ser tão divertidos como eu os esperava.

 

Estive a reler mensagens que trocámos. Não pode ser mentira. Não pode ser mentira quando o nosso corpo responde antes do nosso cérebro. Não pode ser mentira o que algumas pessoas nos fazem sentir e o que só conseguimos sentir com algumas pessoas. Não pode. Ele fez-me sentir viva. Fez-me sentir especial. E fez-me sentir que tudo se pode reiniciar outra vez. Será que uma mulher de 40 não tem o direito de viver isso? Sinto um nó na garganta. A apertar-me. Às vezes passa para o peito. Disse-lhe que estávamos bem como estávamos, afastados. Que não era boa ideia sermos amigos. Que a vida tinha seguido... mas não seguiu. E a dele talvez também não tenha. Sinto falta dele, mesmo como amigo. Peguei num livro que me tinham oferecido pelo meu aniversário, há uns meses, e comecei a lê-lo. "O que é que é mais importante: a viagem ou o destino? A companhia". Sinto que é urgente admitir que não disse a verdade, mas não sei como fazê-lo. Ou melhor, sei, mas tenho imenso medo. 

 

Ele não me restringiu. Continuo a ter acesso aos stories e à página dele. O meu cérebro é que pensou isso. Como pensou e pensa tantas outras coisas negativas. Aos 40 anos sou esta pessoa. A mulher que diz "não podemos ser amigos, estamos bem assim" e que agora não suporta isso. Já tenho idade para me desenvencilhar melhor, não? Não quero perdê-lo. E agora? Divertiamo-nos muito juntos. Foi intenso. E quero muito crer que também foi verdade. Daqui a dias vou de férias. Achei que percorrer o mundo faria sentido. Estar em casa com ele sabia-me a mundo também. Porque é que é tão dificil dizermos às pessoas que sentimos a falta delas? Que temos saudades... que elas nos faziam felizes? Ele é muito querido. Nunca me disse nada feio. Continuo a achar que tem o coração no lugar certo. A cabeça talvez não, mas qual deles é que ganha nesta equação? Qual deles é que é importante que esteja no lugar certo?

 

É jovem e falta-lhe muita estrutura, mas sobra-lhe sentimento. Tive alguns namorados e uns tantos casinhos que tinham estrutura, mas não tinham sentimento e isso é bastante pior. E no meio estou eu, convencida de que não me nem falta estrutura nem sentimento. Ele não esconde nem disfarça quem é (algo que me seduz sempre), tem o coração na boca (é muito genuíno e puro no que diz, às vezes explosivo quando lhe atacam os nervos) e quer ser feliz e amado como todos nós queremos. Nisso somos todos iguais. Corre de capelinha em capelinha onde lhe dão guarida e onde o coração dele pode descansar. Não o posso censurar. Metade de nós não faz isso se calhar por mera vergonha. E também não posso censurar que procure algo que satisfaça as dores que ele tem. Aos 25 eu também pensava que sabia muita coisa e não sabia nada. 

 

Ultimamente sinto-me atraída por homens mais novos. Espalham saúde. É chato ter a minha idade. Não recomendo. Uma pessoa tanto faz o pai como o filho. É preciso ter juízo para evitar problemas domésticos. Primeira vez, fui aos 34. E fui muito bem. Fiquei extremamente bem impressionada. Se calhar o problema foi justamente esse. De 0 a 20, o de 34 passaria com mérito: 18 valores. Pena que uma pessoa nem sequer pôde repetir. Após algumas rondas no charco, fui - a medo -  aos 31. Grandes expectativas. Acabou como vocês sabem. Com umas bed restraints a caminho. Agora, tentação do demo, anda um puto de 27 a chatear-me. Ao menos não procura uma relação séria como todos os outros. Ha Ha Ha. Começo a pensar que talvez não fosse má ideia retirar-me das apps. Uma pessoa queria problemas, mas uns probrema bons... Não posso mandar os meus standards tão baixo... seriam 12 anos de diferença. Jesus Christ!

 

Realmente não sei o que é que Nossa Senhora do Grelo quer comigo... Os "velhos" da minha aldeia, ups!, idade, não me dizem nada. Muito traumatizados. Muito pouco corajosos. Muito pouco criativos. Às vezes não ter noção é uma vantagem. Mas só às vezes, claro. Ando a adiar uma cerveja com um deles porque a conversa começa sempre bem, mas depois descarrila. Segunda tentativa que fazemos. Não fluiu à primeira, não me parece que vá fluir à segunda. Nem à terceira, quarta, quinta... Muito bruto para o meu gosto. É capaz de me dizer "chupa aqui", coisa que ouvi e não apreciei. Portanto, não me vou meter numa dessa outra vez. Não é rocket science, mas está dificiu p'ra xuxu. Não flui com ninguém. E quando não flui uma pessoa pensa, bora lá ao castigo e nem o puto do castigo vale a pena. 

 

 

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