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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Nos últimos meses tenho tentado passar mais tempo com a minha mãe. Nem sempre consigo. Não é que me falte tempo, porque tempo não me falta (comparado com outras pessoas e outras vidas tenho bastante liberdade), mas o meu trabalho consome-me tanto que preciso de intervalos longe de toda a gente. Creio que ela entende, pode não gostar, mas no fundo compreende, embora eu sinta que precisa cada vez mais de mim, da minha companhia e do meu apoio. Este ano cansei-me tanto de tanta gente que preferi estar mais com ela do que com os outros. A nossa relação tem melhorado com os anos. Melhora enquanto se esgota. Os conselhos dela têm realmente feito (mais) sentido. Muitos deles sobre o amor, as pessoas e as relações. Acho até que o humor dela se tornou mais refinado, eu que sempre substimei a sua inteligência. A minha mãe tem defeitos detestáveis, pelo menos até há bem pouco tempo eu via-os assim, mas tem se revelado uma surpresa nos últimos anos e isso de certa forma tem preenchido o meu coração. Espero que o pouco tempo que partilhamos, ela o sinta rico e especial como eu o estou a sentir. Sinto que agora somos mais melhores amigas do que alguma vez fomos. Espero que para ela o sentimento seja o mesmo. É o que esperamos sempre. Que os outros se sintam felizes connosco nas suas vidas como nós nos sentimos com eles nas nossas.

 

Nunca mais voltei a falar com o meu amigo e isso obviamente também o deve ter deixado um pouco remordido. Gosto de pensar que sim. Tenho partilhado stories e ele tem-nos visto todos. Visto e reagido. A alguns com muitos corações. A minha teoria continua a ser a mesma: suponho que ele esperava que eu fosse atrás dele e voltasse a insistir no café. Suponho. Desconfio. Não tenho a certeza. Desde essa altura que os seus stories são todos muito... românticos, digamos. Stories que eu não clico para ver, apenas visualizo no feed. A namorada é identificada, aparecem as iniciais de ambos unidas por corações, até fotos da festa da empresa onde ela trabalha validam o compromisso. Parece sério. Por um lado fico feliz, confesso. Feliz porque até agora ele parece coerente com o seu estado civil (mesmo que isso não me beneficie). Por outro, não posso negar que cada vez que vejo uma mesa posta com o pequeno almoço para dois, a minha garganta aperta. Quando nós gostamos de alguém e não queremos perder essa pessoa, não nos arriscamos. Ou porque não nos convém ou porque não queremos. Enquanto ele esteve comigo, ele não fez isso, mas eu também nunca disse nem verbalizei que queria ter uma relação com ele. Sempre me comportei da forma oposta e sempre afastei essa possibilidade, portanto assumo a minha responsabilidade quanto à táctica empregue. Essa é talvez a grande lição disto tudo. A mesma de sempre. Eu a dissimular que quero alguma coisa (querendo). Não resulta, pois claro.

 

Ele está apaixonado e não é por mim. Compreendo que eu não seja uma escolha (por todas as razões e mais algumas). Ele também não foi... mas houve muita coisa boa entre nós. Houve muita coisa boa em mim que eu pensava que não existia cá dentro. Sinto que ele me respeita assim como sinto que ele me admira. E isso também é uma forma de amor. Talvez o melhor amor que podemos oferecer aos outros. Ele foi provavelmente das poucas pessoas na minha vida que me disse coisas bonitas (e não estou a exagerar). Talvez seja melhor ficarmos assim. Ele pode até esquecer-me, mas eu prometo que não será fácil. Conto continuar a partilhar stories e a deixar de esconder-me entre as minhas quatro paredes. Talvez ele tenha vindo lembrar-me aquilo de que me estava a esquecer. Outra vez. Curiosamente, li isto recentemente numa página sobre astrologia: "você precisa parar de jogar pelo seguro e se acomodar. Você não arrisca no amor por causa do medo da rejeição que enfrentou no passado. Você aposta em pessoas que sabe que pode ter porque são confortáveis para si, mas... você merece alguém que a assuste um pouco e não quem é seguro". A história da minha vida resumida em 3 frases. Talvez eu seja o maior obstáculo da minha vida amorosa.

 

Os 40 tem sido uma lição muito dura de maturidade. Estou agradecida, mas estou combalida. Tenho plena consciência de tudo o que perdi. Saber porque perdi dezenas de coisas é positivo, mas não deixa de ser duro. O que é que se faz com isso? Tenta-se não repetir. O R. não tem consciência com o que é que mexeu, mas mexeu com tudo o que eu sempre escondi de todos. Cedi tão facilmente em tanta coisa que acabei por entrar em pânico. Ele levou-me a fazer coisas que eu nunca tinha feito na vida inclusive um teste de gravidez. Estão a imaginar como isto foi assustador para mim, não estão? Eu tive as minhas razões, mas como ele me disse uma vez, "em vez de falares comigo, desapareceste". Tem razão. Tem toda a razão. Um rapaz de 25 anos tem toda a razão. O meu ano astrológico prometia um grande amor, quando eu menos o esperasse. Um amor capaz de derreter o meu coração de gelo. Um amor capaz de me fazer voltar a acreditar porque é que a poesia existe. Terá sido ele? Ainda faltam 4 meses para 2024 terminar. Parto esta semana. Espero regressar mais leve. A vida segue. Tenhamos coragem para ela.

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Há uma coisa sobre a qual não falámos... Tenho evitado pensar no assunto, mas não consigo. Há muito tempo que eu queria ir à ginecologista. Quando "A pessoa" apareceu e o cenário pa-re-ci-a auspicioso, eu decidi marcar consulta. No fundo, no fundo, eu queria lá ir porque tinha um monte de perguntas para fazer. "A pessoa" foi só um pretexto para tentar perceber - desde que adoeci - em que pé é que as "coisas" tinham ficado. "Coisas" = a possibilidade de engravidar. Eu não fui lá porque conheci uma pessoa nova e pensei "é agora, bora lá procriar que o prazo está a terminar!", eu fui lá porque precisava perceber que contraceptivo seria o mais indicado para mim atendendo aos vários problemas de saúde que tenho... e indo, perceber o resto.

 

Eu nunca pensei em ser mãe. Nunca me vi nesse papel. Quando era mais nova sempre me vi no papel de big boss, dona de uma empresa ou assim. Era isso que me excitava. Os negócios, a carreira, o mundo. Aliás tive um namoro que ficou assassinado quando, numa conversa banal, o meu namorado me perguntou se eu queria ser mãe e lhe respondi que não. Na verdade, não queria. Naquele momento, naquela situação. Acho que ele nunca soube que foi o primeiro homem com quem eu pensei constituir família, no entanto, a relação era tão má e ele era tão tóxico que meter filhos ao barulho seria só a pior coisa que nos podia ter acontecido. Não era p'ra ser. Quando adoeci e começou a desenhar-se no horizonte a possibilidade disso não ser mais uma possibilidade, fui obrigada a pensar no tema. Durante muito tempo foi um não assunto. Assumi que não, que não era possível, mas na verdade nunca esclareci a dúvida até que a coloquei à ginecologista depois de lhe ter contado todo o meu historial clínico. Como eu nunca tentei engravidar, nenhuma de nós pode afirmar se seria possível ou não, agora sendo possível seria MUITO desaconselhado porque colocaria em risco a minha própria vida e é só um bocado estranho alguém querer ter um filho arriscando-se a morrer, certo? Caramba, porque é que a minha vida nunca pode ser fácil? É muito mais simples ser outro a dizer que sim ou que não, ter de ser eu a arrumar isso numa gaveta é bem mais complicado.

 

Às vezes pergunto-me se queria mesmo ser mãe? Eu acho que sempre quis, mas nunca o assumi. Gosto da liberdade que tenho, sobretudo a financeira, o não depender de ninguém e o não ter ninguém que dependa de mim. É mais leve, mas também é mais triste. Chegar a casa e ela estar vazia tem-me agoniado bastante nos últimos anos. Talvez seja a "pressão social" mas eu nunca fui pessoa de me incomodar muito com isso. O que me aperta o peito é o vazio, a sensação de fim, os meus pais a envelhecerem e eu, à deriva, sozinha neste mundo. É como se não houvesse mais nada quando desaparecem os nossos, não consigo explicar melhor. A big boss e as ameneties desse mundo não me interessassem mais. Tenho amigas que decidiram ser mães solteiras, mas a minha vontade não é suficientemente grande para isso. Eu gostava de ter um filho com alguém com quem valesse a pena ter um filho. Como não há essa pessoa também não me preciso preocupar com o assunto, mas não o consigo esquecer. Ainda está fresco. Super fresco.

 

É dificil desconectar-me disso tudo - das informações extra - quando estou a conhecer alguém. Sempre foi díficil na verdade. Mesmo que a pessoa seja empática, mesmo que a pessoa me deixe confortável, mesmo que a pessoa me diga está tudo bem, o meu cérebro vai pregar-me sempre alguma partida. "Nunca serás a mulher ideal para ninguém por causa de todos os 50 mil problemas que tens". Estou a recomeçar e nem sempre sei como comportar-me. Nem sempre consigo relaxar. Nem sempre consigo desligar-me. E acho que é disso que eu tenho mais saudades, de desligar-me. Dos problemas, das informações, dos pesos. E infelizmente quando nós não nos conseguimos desligar por inteiro, é bom que o outro não se desligue de nós (se tiver obviamente vontade de ficar). Estou carente, tenho de admiti-lo. Passei os últimos anos da minha vida a lamber feridas sozinha. Quero colo, não quero mais nada senão isso. Quero alguém que me abrace com a força suficiente para eu sentir que o único sítio onde estou é entre os braços dessa pessoa. É disso que eu estou à espera. De um momento em que eu me esqueça de tudo.

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