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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Hoje acordei com o sabor a segunda na boca. Fui ao ginásio, mas o treino foi uma trapalhada (éramos basicamente 3 meninas a lutar por um glúteo... e por uma barra olímpica). Começar um treino sem seguir a ordem habitual dos exercícios faz-me mal ao sistema nervoso. Fiz o que pude (mas não me tenho esforçado como devia, há muito tempo que estou a cumprir os minimos com esforço e sacríficio). Voltei a casa. Inventei um pequeno almoço que não me soube nada bem (a nova nutri jura que a proteína vegetal é mais fácil de digerir do que as outras, mas só Deus Nosso Senhor sabe o esforço que tenho feito para a conseguir engolir) e fui trabalhar. O dia está chocho e eu também estou. Desconfio que estou com a TPM (e é mesmo bom que esteja!). Sinto-me assim meio meh. Bateu aquela saudadezita de um chameguinho, mas depois lembrei-me da burocracia que isso tudo envolve. Se há coisa que as pessoas da minha idade já não suportam, essa coisa é burocracia. EM TUDO. Principalmente nas relações. Deixa estar como está. É fim de ano e estou numa fase em que sinceramente pago para não pensar.

 

Tenho trocado mensagens com o meu amigo. O da escapadinha. Tudo dentro do que já era habitual. Falamos das coisas banais do dia a dia sem grandes dramas. Com ele não há burocracia. Nunca houve. Envia-me fotos, memes, notícias e eu, às vezes, faço o mesmo. Aprecio quando me envia alguma coisa sobre algo que partilhei. Acho um gesto bonito. Não sei se consciente... mas é bom sentir que a pessoa está atenta ao que partilhámos e que as palavras não caíram no imenso vácuo que é a galáxia onde vivemos. Este fim de semana ligou-me. Videochamada. Uma novidade. Nunca tínhamos feito. Ajudou-me a instalar um programa na TV. Foi querido. Falámos um pouco enquanto ele adormecia. Temos, enquanto amigos, uma relação engraçada. E tranquila. Ninguém questiona nada. Também não dá para questionar, né. É estranho. E pacífico. Não sei porque é que continuei a falar com ele. Pergunto-me muitas vezes o porquê. Faltam-lhe uns 0,05%. Sendo muito honesta, não sei se dá para melhorar. Srá que as pessoas são mesmo como os vinhos? Não é propriamente uma pessoa com quem eu deseje estar. Ou em cima de quem me apeteça sentar. Parece-me edóneo. Agora eu não sei se edóneo é a palavra certa quando falamos de relações. Ainda p'ra mais quando venho de uma tempestade tropical chamada R. Não tenho nada com nenhum dos dois. Às vezes, penso que o me incomoda é exactamente isso: o NADA. Todos queremos pertencer - ainda que hipoteticamente - a alguma coisa ou a alguém. Todos queremos a possibilidade. Histórias sem possibilidade não são histórias memoráveis. Este meu amigo, o da escapadinha, é alguém com quem às vezes sinto que posso estar a construir alguma coisa, mas como não percebo nada disto nem quero sequer pensar muito no assunto nem me dou ao trabalho. Construir o quê mesmo? Gosto da "companhia" que ele me faz. Está ali. Onde sempre esteve.

 

Isto tudo tem sido muito confuso confesso. Estou - como disse - a evitar pensar. Não há muito em que pensar sequer. A vida é estranha às vezes e eu não sei o que é que ela me está a tentar demonstrar. Estou cansada de experiências sociológicas, quero sopas e descanso e acabar o ano no quentinho, em casa, sem sobressaltos e trepidações. Portanto, a menos que alguém decida dar 0,06% eu não me mexo do sofá (ainda por cima agora que tenho Netflix, isso é que era bom). Estou até a pensar investir num belo sofá com chaise longue incluída. Depois que uma pessoa começa a pensar no conforto que pode ter dentro de casa, não há nada que a convença mais a sair. Sinto que estou cada vez mais com menos paciência para os affairs... pode ser só uma fase, mas eu acho que é mesmo a idade. Há frases feitas e truques malabaristas aos quais já te tornaste imune e nem sequer dás crédito. Relacionar-se aos 40 não tem lá muita graça... 

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Já passou uma semana desde a fatídica noite em que alguém perdeu o ego. Not me. O tempo está a passar realmente depressa... Tenho contado as últimas peripécias às minhas amigas e todas elas me perguntam, escandalizadas: "e tu, como é que te sentes?". Noto-lhes uma certa preocupação, quando eu - estranhamente - nunca me senti tão bem e isso é um bocado novidade por estes lados. Tive uma semana de bons looks - todos documentados para uma pessoa não se esquecer quando a inspiração faltar - e uma semana de bons treinos. Continuo a priorizar-me e estou MUITO, mas mesmo MUITO, satisfeita com os resultados. O fim de semana passado tive um date comigo mesma. Sushi, cerveja, música e velas. O plano perfeito para um sábado à noite em que não me apetecia fazer nnenhum. Estou a tornar-me a mulher dos meus sonhos e isso - por agora - parece-me delicioso. Vejo-me bonita, sexy, interessante. Eu fazia-me.

 

Antes de me envolver com alguém - não sei se isso vos acontece, mas acontece-me muito a mim - costumo ponderar sempre os possíveis danos colaterais. Como é que isso - caso corra mal ou caso corra bem - me irá afectar. Há muito tempo que estou a sentir a minha vida monótona, portanto não vou disfarçá-lo: eu ando deliberadamente à procura de uma aventura. O problema é que eu não sou uma pessoa de muitas aventuras, o que acontece é que às vezes perco as estribeiras e atiro-me de cabeça. Neste caso, atirei-me, não porque o outro me aliciasse muito, mas porque eu realmente queria. Desde o inicio que senti que não havia química entre nós e a química é a grande responsável por nos desgraçarmos... Não havendo isso - porque nós não temos dúvidas quando há - senti-me mais à vontade para me soltar. Era o desafio. Achei engraçado o facto dele ser mais novo, de ter nacionalidade e cultura diferentes e uma casa estupenda! É verdade. Não vou negar que a esta altura da vida eu sou bem capaz de me vender por um jacuzzi 4x4. Acho que foi isso que me agarrou: a casa e os dotes de culinária. Sim, porque no nosso primeiro encontro exigi um brunch e ele fez: panquecas e ovos mexidos, portanto nem tudo foi diabolicamente mau. E ainda tive direito a sessão de Netflix no sofá. Começo a pensar que meter-me com putos nas apps pode ser um bom bálsamo para a auto-estima. 

 

As minhas amigas avisam-me, muito preocupadas, "não sejas mãezinha dele, não tem nada aí para ti". Mas por acaso eu estou à procura de alguma coisa que não seja uns belos fins de semana numa segunda moradia?! A falta de respeito dele não tem desculpa, mas já todos tivemos 30 anos, não já? E eu já fui tão f#did@ nesta vida por gente mais velha, que apesar de bizarro, este evento não me fere assim tanto. E ainda bem. É um sinal de que estou forte. E madura. Intriga-me, de uma perspectiva psicológica, mas não me tira o sono. Era uma experiência que eu queria voltar a ter: envolver-me com alguém sem sentir nada por essa pessoa. Chego à mesma conclusão de sempre: as relações - e principalmente o sexo - funcionam claramente melhor quando sentimos alguma coisa pelo outro. Qualquer coisa. No entanto, não é por isso que vou deixar de procurar uma queca sem sentimento. O objectivo é claro: fazer dos últimos meses antes dos 40 um laboratório. Recordo-me da minha entrada nos 30s: sentia-me  perdida. Acho que todos nos sentimos. É por isso que não me vou chatear com um puto que sempre se dedicou ao trabalho, que apesar de novo tem um cargo de alta responsabilidade, que andou desde os 18 de um lado para o outro e que tem hora de dormir e de acordar como qualquer bom militar. Aos 30 eu também achava que se seguisse as guidelines que me deram, o sucesso estava garantido, até que descobri que não e passei a (tentar) seguir o coração. Aos 30 eu também não conseguia falar sobre os meus sentimentos nem sabia o que é que preferia na cama. Desconfiava, mas não tinha certeza. Ainda hoje me estou a descobrir e todas as experiências que contribuam para isso são bem-vindas. No regrets and no shame. Eu já fui ele, mas não quero ser mais. Eu quero viver este corpo e este sexo.

 

Eu sou da paz meus amigos. Porque é que eu me haveria de amargurar com isto? É óbvio que a ocitocina desce um pouco quando a pessoa percebe que foi "enganada". Que lhe prometeram muito e entregaram pouco. Ou quase nada. Mas também o que havia para entregar era a promessa de bom sexo. Promessa, claro. Ser lubridiado não é fixe, mas é menos grave se a pessoa que vos lubridiou estiver ainda mais enganada do que vocês e acho que nós, no papel de mais velhos, temos de relativizar isso. O que me atormenta na verdade - e isto vem mesmo do mais profundo de mim - é não ter tido oportunidade de experimentar o belo jacuzzi do menino. As vezes que eu me imaginei a entrar nele e a submergir-me na espuma enquanto as luzes estavam apagadas e as velas acesas. Para não falar na mesa da cozinha. Meu Deus, acho que se me deitasse em cima dela era bem capaz de ter um orgasmo instantâneo. Aquela casa mexia comigo. Mexia muito. Tudo bom design. Um verdadeiro desperdício. "Eu não uso o jacuzzi", como não usas o jacuzzi filho? Eu devia ter percebido que ele não usa nada. Como eu também não uso, né? E se fizéssemos um pacto: jacuzzi + pequenos almoços em troca de educação sexual? Ha Ha Ha. Olhem que eu me imagino a dar conta do recado. No fundo eu também acabei por me descobrir mais um pouco. I think I might be a little kinky... mais do que ele. O sonho americano não me derrete: um homem bonito, uma casa bonita, um cão bonito. Tudo bonito. Demasiado bonito. A portada perfeita da Architectural Digest. Não me derrete, mas... PODIA USAR. 

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Peço a ajuda do público. No dia em que o mocinho disse que ia de férias para o Dubai, a minha boca transformou-se num túmulo. Nunca mais piei. Juro. Ele também não mugiu. Fiquei muito desapontada. Quando chegou, há coisa de uns dias atrás, meteu conversa depois de ter visto um stories. Para não parecer muito mal educada, respondi, perguntei se estava tudo bem e como tinham corrido as férias, ele disse que tinham sido brutais. A minha boca voltou-se a fechar e como ele não tem muito jeitinho para puxar assunto também não disse mais nada. No fim de semana, estava eu deitada de sofá e recebo uma foto de um cronómetro com os quilómetros que ele tinha percorrido sem dizer mais nada. Uma foto apenas. A verdade é que sempre falámos muito sobre desporto e sempre contámos um ao outro como tinham corrido os treinos. No sofá continuei. O único dedo que mexi foi para mudar a série da Netflix. Passado um ou dois dias, meti-me e enviei uma foto da carga que estava a utilizar no treino e ele falou, pouco, mas falou e... voltou a enviar a foto do cronómetro. Lá me explicou que era a foto do seu "recorde pessoal". Às vezes sinto-me uma espécie de treinadora de bancada. O que é que vocês acham disto? Sejam sinceros pah, sejam sinceros.

 

Coloca-se que daqui a uns dias vou de viagem. Tenho de apanhar dois voos para visitar uma amiga. Estou uma pilha de nervos. Ando a mamar valeriana a torto e a direito para ver se me acalmo naturalmente. E olhem que eu já viajei muito e sozinha e não vou propriamente para as Filipinas, mas ando mesmo uma pilha. Até tenho uma pálpebra a tremelicar. Coloca-se então que passando pela capital, não sei se devo "avisar" o mocinho. Será que vale a pena? Tenho mixed feelings. Por um lado, acho que o assunto já devia estar arrumado há muito tempo e que o mais provável é que as circunstâncias se encarreguem disso. O homem não fala, não se mexe e não tem assim muitos pontos a seu favor. Por outro lado, o lado em que se calhar nós mulheres, babacas, erramos sempre, é o ter criado uma certa "ligação" com a criatura e não querer deixar isso desvanecer-se. Estou a ser estúpida, não estou?

 

Fiquei muito desapontada com a história do Dubai, mas a verdade é que o tipo quando disse que queria passar uns dias comigo eu não fui propriamente muito receptiva, então, ele não pode adivinhar que no fundo eu até gostava muito que ele se desse ao trabalho de. No entanto, eu não o acho assim a pessoa mais interessante do mundo e... sendo a comunicação pobre (do meu ponto de vista, claro), fico com muitas dúvidas. Será que estou apenas carente e gostei da atenção que ele me deu durante este tempo todo? É uma hipótese. O que sucede é que entretanto, há uma outra criatura que se adicionou a mim nas redes sociais e queridos, o que um peca por defeito o outro fá-lo por excesso. Envia mensagens de 5 em 5 minutos, mesmo sem eu lhe responder. O que eu acho um mau indicio, claro. E ao fim das três primeiras frases que trocámos, ele disse "gostei BUÉ de falar contigo". Às vezes, mas só às vezes, apetece-me enviar na hora o meu certificado de habilitações. Assim, mesmo à bruta. Só para as alminhas verem quantas cadeiras de filosofia é que uma pessoa teve. O que eu queria dizer com isto é que há uma pessoa perto de mim, que não é feia, tem até muito bom ar apesar de parecer bem parva, a meter conversa comigo e eu não estou pr'aí virada. Estou a pensar na hipótese de ir comer um gelado, pela segunda vez, com alguém por quem eu também não me sinto atraída. Se calhar o que eu preciso mesmo é de ir e recordar-me "ah, foi por isto que eu não gostei de ti". Ai filhos, estou drógada das ideias. Deve ser uma overdose de valeriana. No fundo, eu acho que o mocinho é uma laranja que a gente espreme, espreme, espreme e não dá nada. Mas... e se ele não é uma laranja? E se ele é uma goiaba ou uma manga? Hummm?

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