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O Sexo e a Periferia

Entre a Carrie Bradshaw e a Bridget Jones. Com muito menos glamour, é claro.

Descobri recentemente - enquanto via O Bebé de Bridget Jones - que sou uma SILF (single I would f#ck). Traduzido dá mais ou menos uma coisa deste género: 'alguém de não se deitar fora'. Passei os últimos anos dos 30 a debater-me com essa ideia e a tentar convencer-me de que era uma mulher bastante apetecível. Não foi só - mas também - porque voltei a ter sexo que me voltei a sentir de novo apetecível. Quem vos disser que não se sente meio que empoderada depois de ir para a cama com um puto de 25, está a mentir-vos. Todos gostamos de uma dose de poder. Sinto-me (mais) apetecível por me sinto (mais) segura. E sinto-me mais segura porque sei o que tenho para oferecer e o que tenho para oferecer vale muito mais do que um corpo. Estou mais consciente do que sou e do que mereço... mas isso não quer dizer que eu não cometa, de vez em quando, um crime contra mim própria! O mercado está um lodo, é normal que às vezes - mas só às vezes - a gente precise de uma, duas, três, oito cervejas para o ver com melhor cara.

 

Relacionei-me com gente muito jovem nos últimos meses. Fiquei com a sensação de que estava no meio de um pântano. Essa nova geração tem o efeito que eu gostava que o meu metabolismo tivesse. Esgotam-me as reservas todas. E não falo do puto com quem me envolvi. Falo de amigas, conhecidas e amigas das amigas e das conhecidas. Gente que ainda está preocupada com o que é que nasceu primeiro: o ovo ou a galinha. Cheguei a um ponto que não dava mais. Comecei a cortar mensagens, telefonemas e saídas à noite. Depois do meu aniversário, comprei uma viagem e fui. Sozinha. Encontrei-me no destino com um amigo meu. Um bom amigo. Descansei, recuperei, enchi a barriga e alma com tudo aquilo de que precisava e apercebi-me de que há pessoas que nos sugam a energia e não a devolvem, outras que não a tiram nem a repõem e umas poucas - as que nos fazem mais falta - que nos recarregam-na. O segredo é escolher bem o tempo que passamos com quem. Regressei energizada e inspirada. Sinto-me com (mais) fé. Outra vez. Em quê, não sei. No amor, não. No bem, talvez. No não nos fodermos uns aos outros.

 

Afastei-me do puto. Foi natural. Acabou por acontecer. A minha libido caiu drasticamente. O esforço é o maior afrodisíaco de qualquer relação e quando não há, não há. Ele continua a enviar mensagens. Ocasionalmente. Nada - obviamente - consistente. Oferece-se sempre a preço de custo. Uma vantagem da idade que uma pessoa não pode desperdiçar. Tratei-o muito bem. Sei que ele vai lembrar-se sempre disso, mas também sei que ele não me vai dar o que eu quero. Não pode. E não tem culpa disso. Levo 15 de avanço. E fui eu que me meti com ele. É o que é. Vou respondendo, vou rindo, vou brincando. Perdi o interesse, mas sei que tenho ali uma queca gratuita quando quiser. De resto, não me sinto minimamente atraída por ninguém, só me sinto mesmo cansada. Nem sequer tenho pensado nisso. É tudo sobre energia e neste momento estou em modo poupança.

Coisas que eu não devia ter feito desde a última vez que escrevi: aceite o pedido de amizade do rapazinho que levei para casa embriagada. Coisas que eu devia ter feito: continuado a ignorar as mensagens dele. Coisas que eu fiz: sexo, sexo, sexo! Coisas que me arrependo de ter feito: TUDO! (bom, o sexo não posso dizer que não foi bom). Daqui a poucos dias faço 40 e encerro os 30 com este capítulo misericordioso! Se o universo me continuar a tratar assim, não sei como é que vou chegar aos 41! Não sei mesmo, juro!

 

A criatura que eu conheci é possivelmente casada (e eu sabia disso quando o levei para casa, sabia, mas não estava em condições de reagir em consonância com os factos). Está "supostamente" a meio do processo de divórcio - diz ele - sendo que a ex-mulher-ainda-mulher é mais velha do que ele (mas não tão velha quanto eu). Digamos que ele está na base da pirâmide, ela no patamar seguinte e eu acima, no topo da cadeia. Foi pai há 3 meses. Exacto. Tem uma cria de 3 meses (que diz que visita todos os dias). E esteve casado uns 7 meses tendo a relação no total durado 2 anos (se é que está realmente terminada). Perdeu a mãe aos 14 e entretanto viveu em instituições. Ele e os irmãos (que são uns duzentos mais ou menos). Começámos bem. Partilhámos medos e dores, tanto ele, quanto eu e um pouco das nossas histórias (que não são de todo fáceis de partilhar). Criámos uma intimidade estranha em pouco tempo, mas aparentemente saudável e segura. Sentia-me confortável com ele e sentia-o presente, disponível, interessado. A nossa energia batia. Entre lençóis e fora deles. Senti-me, de repente, 20 anos mais nova (é este tipo de droga que nos pode lixar para sempre). Tentei não julgá-lo muito e entreguei-me ao processo (mas de vez em quando perguntava-me "o que é que tu estás a fazer com a tua vida?!"). Ele tem tudo aquilo que sempre foi decisivo para mim, para seleccionar pessoas. Desta vez, não o fiz. Se calhar porque como nunca tive grandes resultados, arrisquei ir por um caminho diferente. Embora as coisas estivessem a fugir-me um bocadinho do controlo, havia nele uma coisa que me prendia: pureza. Achava-o muito inocente, alguém bonito, machucado, mas com o coração no lugar certo. De repente, caiu um meteorito no paraíso.

 

Ele viajou em trabalho e durante os dias em que esteve fora revelou-se alguém demasiado carente, chato e manipulador (não são todos hoje em dia?). Perguntava-me todo o santo dia - de 5 em 5 minutos - se eu tinha saudades dele fazendo com que eu me sentisse quase obrigada a dizer uma coisa que eu, na verdade, não sentia. Chegou ao cúmulo de, após uma videochamada, me enviar uma mensagem a dizer "eu sei que não estavas sozinha". Alto e pára o baile! O histórico dele é mau, mas um comportamento assim é ainda pior! Deixei de lhe responder. Não dou a minima possibilidade a comportamentos deste tipo. Ligou-me várias vezes, fez um drama daqueles, pediu perdão, disse que se ia emendar e perguntou se podíamos continuar a falar porque se sentia muito bem ao meu lado. E disse que só me pedia uma coisa: que no dia em que eu não quisesse saber mais dele que por favor lhe dissesse e não o enganasse. Este episódio impactou-me muito. O meu ex era manipulador. Prometi a mim própria que não tolerava mais nenhum. O meu entusiasmo foi esfriando de tal forma que eu não consegui disfarçar mais. Voltámos a conversar e eu disse-lhe que não estava interessada em continuar envolvida numa "situationship" deste tipo. Diagnostiquei-lhe um monte de  patologias, apontei-lhe um monte de defeitos e disse-lhe que tinha sido apenas uma aventura, que amanhã já nenhum de nós se lembraria dela. Ele disse então que se ia afastar. Muito ferido, dizia-se ele, postou uma foto no face com uma frase de fazer chorar os cactos do deserto. Um drama, outra vez. Tudo nele era intensidade a mais. Comecei a recuar, fiquei angustiada e em alerta, mas senti que podia ter sido dura mais. Quando os nossos triggers são accionados temos tendência a reagir ao ataque com a artilharia toda que temos. Voltei ao contacto e estivemos juntos novamente. Porém, agora, sentia tudo diferente. Menos disponível, menos conversador, menos presente como se fosse um corpo sem alma e eu confesso que estava a gostar das duas coisas.

 

Questionei-o e ele disse que estava tudo bem, que não se tinha distanciado, que estava apenas com muito trabalho, mas que queria continuar como nós estávamos. É óbvio que as coisas não estão bem, mas ele não quer falar disso. E não querendo falar disso, eu também não quero. A última vez que estivemos juntos, convidei-o para jantar e acabámos enrolados no carro. Senti-me um bocadinho usada, como se ele agora só me utilizasse por me utilizar, vocês entendem. Por muito que eu desejasse viver o que não vivi aos 20s nem aos 30s, acabei por compreender que o meu lugar aos 40s não é no carro de ninguém. Muito menos de um puto de 25 anos. Ele voltou a viajar em trabalho. Tem-me enviado mensagens. Não lhe tenho respondido. Pelo que vi na barra de notificações, a última dizia "Já entendi". Umas vezes penso que ele é extremamente sensível e inteligente, outras acho que ele é a ponta de um iceberg sem fundo. O que é certo é que não me sinto segura a andar nesta montanha russa onde eu entrei porque quis, mea culpa. Todas as minhas escolhas têm sido péssimas. Pergunto-me eu se necessárias? Foi sem dúvida o sexo mais fogoso da minha vida, não posso nem chegar perto dele que receio cair em tentação. Em troca disso, baixei um pouco as barreiras de protecção, consenti coisas que nunca tinha consentido na vida e provoquei uma fuga no meu próprio sistema de valores. Estou confusa. Não morri, não me falta um braço, nem uma perna, mas sinto-me estranha. Tenho dormido mal. E voltei a sentir ansiedade. Tudo coisas que eu não quero sentir e que já não sentia há imenso tempo. Posso me ter iludido um pouco e é por isso que não estou bem comigo. Como é que me deixei levar?

 

A verdade é que ele não tem nada para me dar. Gente, nem uma TV ele consegue comprar porque o crédito não é aprovado. Por muito que eu estivesse a precisar de sexo, o que eu realmente quero é alguém que divida os Domingos comigo. Alguém que preencha o vazio da minha vida, me mostre coisas que eu não conheço e que essas coisas não sejam becos escuros onde se vai para se dar uma. Achei honestamente que, mais uma vez, ele podia surpreender, mas não. (como é que é possível que eu ainda tenha esperança?) Assim como eu achei que eu podia ser alguém desse tipo, mas não. Foi só mais uma aventura dolorosa de processar e assimilar. O universo tem-me dado realmente aquilo que eu tenho pedido, talvez para me mostrar que estou completamente errada. 

DIY

Nada de novo na terra do nunca. Não esperem grandes desfechos. Já não conto com eles. Estou em banho maria e não me importo de assim ficar até 2024. Sinto que o fim de ano é sempre pesado para toda a gente. Estamos cansados, não estamos? Qualquer esforço extra nesta altura - nem que seja interpretar uma frase - é penoso. Continuo nas apps - sem grandes esperanças. É um entretenimento (na falta de melhor). Ou uma forma de me enganar a mim própria. Não costumo ser muito pessimista, mas confesso que estou a perder o pé em relação a várias coisas. Se fossem só as relações... Já vi isto com melhores olhos, confesso. Estou muito apreensiva com os negócios e desanimada com o resto. A humanidade está um bocadinho feia e eu não queria nada admitir isso. Estamos a perder-nos (se já não estivermos completamente perdidos). 

 

Ontem, acordei e fui caminhar. Troquei o ginásio pelo frio da rua. Pessoas que saem da cama para apanharem frio na puta da cara propositadamente só podem vencer na vida. Tenho dito. Gosto dessas trocas para quebrar a rotina. É mais ou menos o que procuro nas apps. E fora delas. Alguém que "quebre" as minhas rotinas de uma forma saudável e graciosa. (graciosa, ah ah ah. tudo o que as apps são). Enquanto caminhava parti-me a rir. As caminhadas são normalmente o momento em que costumo "falar" com o universo (solto a Alexandra Solnado que há em mim e lá vai). "Bonito hein, mais uma das tuas". Como posso não rir? Eu a pensar que ia ter o melhor sexo da minha vida depois de anos em jejum e o universo envia-me justamente o contrário. Que mal fiz eu? Há coisas que realmente não se explicam! Depois disso, acho melhor não pedir mais nada a não ser força para aguentar e esperança para continuar. Ando a falar com um de 30 (mais um!). A maioria dos que andam nas apps parecem ter todos a mesma idade, não há muita gente acima disso (porque se calhar já desistiram de se chatear). É bastante divertido, o que o ajuda, mas temo - à semelhança de todas as outras histórias recentes - que seja conversa para pouco tempo embora ele diga que daqui a 3 meses volta para a terra (está actualmente fora em trabalho) e vamos beber um vinho. 

 

Recentemente, e porque estes temas me têm interessado, estive a ouvir um podcast sobre a "nova sexualidade". Foi, do meu ponto de vista, bastante assustador. Estamos a criar adultos "pseudo" autónomos - uma geração que aprende a (sobre)viver e a desenrascar-se muito bem sozinha - e que vê o sexo como um produto que se adquire para satisfazer desejos e impulsos biológicos. Daí a popularidade das apps. Basicamente é como se fosses ao supermercado porque tens fome e apetece-te um donut. Vais às apps porque estás com tesão e apetece-te ser satisfeito. Sim, SATISFEITO. O sexo deixou de ser uma actividade a dois para passar a ser uma actividade cada vez mais individual. O que é um pouco contra natura porque nós precisamos do outro para evoluir e não me refiro apenas à procriação. As estatísticas confirmam que esta geração faz menos sexo e cada vez menos (números bons para as sex shops, claro). O problema é que estes adultos "pseudo" autónomos não sabem (até terem um encontro de 3º grau como eu tive) que o sexo real é muito diferente da pornografia. O sexo, de verdade, é mais complexo do que bater umas punhetas à frente do computador. Exige sobretudo que a pessoa se entregue, coisa que esta geração não gosta lá muito de fazer. A geração que está conectada a todos os devices, menos aos que realmente importam. É bem assustador isto!  De repente uma pessoa tem quase 40 e tem de se situar se quiser ir a jogo. Se não quiser, a solução é... DIY. O problema é que nós - os de quase 40 - que crescemos com o gingado de anca do Patrick Swayze não estamos bem a ver como é que isto passou, de repente, para a masmorra do Mr. Grey. 

 

Entretanto, não vos cheguei a actualizar sobre a minha limpeza energética, mas ao que parece, vou para 2024 sujinha e poluída. Não é que me chateei a valer com o meu amigo lá das coisas do além? Vocês sabiam que não ia dar certo, né? Há uns tempos ele apresentou-me o suposto plano de limpeza por um preço e disse que eu não precisava de fazer todos os passos, bastava o primeiro, o mais importante. Quando decidi "limpar-me", ou melhor, "libertar-me", transferi-lhe o valor do 1º passo. Disse-lhe para comprar o material necessário e que depois acertávamos o resto, ou seja, pensei que ele tinha entendido que começávamos por aí e logo víamos. Quando o material chegou, ele enviou-me uma mensagem e disse que "aguardava o resto do dinheiro para iniciar a terapia" e eu perguntei-lhe se não podia avançar com a primeira parte tal como tinha referido e ele inventou que não. Fiquei furiosa porque ele estava obviamente a aproveitar-se da situação para me sacar mais dinheiro de uma forma pouco ética. Passei-me e disse-lhe que já não queria fazer a limpeza e que ele me devolvesse o respectivo dinheiro descontando o valor do material (ainda fui bem amiga!). O material - 6 velas - custaram um balúrdio! Disse-lhe que não gostava da forma como ele estava a gerir a situação, que pensava que éramos amigos e encerrei o assunto porque ele é um tipo de pessoa com a qual não se deve discutir. Ontem, quando regressava da caminhada, encontrei-o na rua. "O que é que eu faço agora?" Passei por ele e cumprimentei-o, mostrando-lhe toda a minha classe e boa educação (doida para o mandar para o caralho, claro). Tinha um dedo ligado, estava de muletas e coxeava. Parece que lhe caiu qualquer coisa em cima pesada e teve de ser operado ao dedo e ao joelho. Despediu-se quase a fugir com um  "falamos com mais tempo depois". Epah, karma's a bitch! Antes suja e com os chacras todos entupidos do que mal acompanhada. Só tenho mesmo este pedido: que 2023 leve tudo o que não seja preciso! Se não falarmos antes do Natal, desejo-vos muitas punhetas... de bacalhau, claro. 

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Parental advisory: este post pode ir dos 0 aos 100 numa questão de minutos. A troca de mensagens entre mim e o último contactinho das apps continuou. Entre alguns altos e outros baixos e uns dias off, ele foi alimentando a ideia de que o sexo com ele seria maravilhoso. (bom, a parte do maravilhoso quem a alimentou posso ter sido eu). Ofereceu-se literalmente para ser usado. (e agora percebo porquê). Referiu imensas vezes o tipo de actividades que gostava de praticar. Quite kinky, assumia ele. Pediu-me inclusive para lhe comprar bed restraints porque se as mandasse vir do país dele levariam imenso tempo a chegar. Acho que toda a gente tem direito a um Mr. Grey na vida e eu comecei a entusiasmar-me com a ideia de que este poderia ser o meu. O problema é que a conversa não saía do mesmo sítio. A conversa e ele. Atiçava e no mesmo instante recuava. Propunha encontros sempre para o dia seguinte ou o próximo fim de semana. Disse que dormia habitualmente cedo e não podia falhar com o horário de sono. (um tédio). Desmarcou um encontro porque adoptou um cão e não queria que o bicho entrasse em stress nos primeiros dias juntos. Comecei a aborrecer-me. O cão até desculpo, (é só a coisa mais fofa do mundo),  já ele... Senti-me um pouco rídicula ao mandar vir da China umas cordas que nem sei bem se serão usadas comigo, mas parti do princípio que sim. Chegam supostamente dentro de uns dias. Senti-me ainda mais rídicula quando dei por mim a consultar bibliografia específica sobre Bondage e BDSM... mas ele prometia muito. Fiz o que qualquer pessoa normal faria, informei-me e tentei preparar-me. Comecei a achar que a possibilidade de haver sexo entre nós estaria próxima ou que pelo menos começava a ser muito desejada pelos dois.

 

Antes de ontem, a criatura voltou a enviar-me mensagens. Contava-me como tinha sido stressante o seu dia... e como se estava a sentir horny.  Aproveitei a dica e cheguei-me à frente. Convidei-o para vir até a minha casa, relaxar. Trouxe-o até a mim por estratégia, quem joga em casa entra com vantagem. Era uma forma também de dar a conhecer o meu espaço, abrir um pouco mais a cortina sobre mim. Primeiro disse que não podia, claro. Tinha um exame no dia seguinte e precisava estudar. Depois, recebeu uma foto minha - digamos que um pouco provocadora - e mudou de ideias. Comecei a jogar o jogo dele. Ao que parece, até estava na disposição de vir, dependendo do que eu tivesse planeado acontecer. Perguntei-lhe o que o faria vir e ele respondeu que eu o podia "vendar, amarrar e usar para o meu máximo prazer". Nada que eu já não tivesse tentado antes com outras pessoas. Disse-lhe que sim. Que viesse. Estava disposta a resolver o assunto. Tomou banho e apareceu na minha casa. Nervoso. Não me cumprimentou, entrou, descalçou-se e sentou-se no sofá comigo. Antes dele chegar, fui preparando o cenário, apaguei as luzes, acendi algumas velas, escolhi uma lista do Spotify e adiantei-me: 3 copos de vinho, o suficiente para relaxar-me. Falámos um pouco, ofereci-lhe um copo (ele não bebe) e deitei-me discretamente no colo dele. Apesar de ser uma coisa combinada, eu não queria partir para ela sem haver antes um momento para relaxarmos.

 

Confessou que estava nervoso, que era a nossa primeira vez juntos. Eu disse "Oh, primeira vez?" e ele referiu, pouco à vontade, "toghether". Foi nesse momento que desconfiei que as minhas suspeitas sobre o que ele me poderia oferecer - um sexo pobrezinho e pouco nutrido - poderiam estar certas. Afinal de contas ele só tem 31 anos. Sim, nunca vos contei isso. Ele só tem 31! Não pensem mal de mim por favor! Vesti uns calções bem curtos e um top, para não complicar muito as coisas. O coordenado era fácil de despir e permitia mostrar uma superfície de pele bastante grande. Pouco ou nada me tocou, acho que não sabia muito bem o que fazer com as mãos e o pouco que me tocou foi muito leve, sem convicção e sem orientação. Excitado estava, claro. Não me demorei muito e passei à fase seguinte. Fiz o que me tinha pedido. Sentei-o numa cadeira, na cozinha e vendei-lhe os olhos com um lenço de seda. Beneficiámos os dois disso. A ele suponho que lhe tenha posto a imaginação a trabalhar e a mim permitiu-me libertar-me de quaisquer complexos que pudessem atrapalhar o ter de me despir à frente de alguém. Comecei a namoriscá-lo, a tocar-lhe, a massajar-lhe os ombros, as costas, até que perguntei se beijava. Não sei como é que me lembrei disso, parecia uma p#t@ profissional, mas tentei entrar no jogo que pensei que ele queria. Ele disse que sim e foi aí que o mise-en-scène começou a perder a graça. O gajo não sabia beijar. Ele não mexia os lábios, nem a língua. Nada. Foi uma coisa tão blhec que eu nem sei como descrevê-la. Um sofrimento. Comecei a sentir-me estranha, porque de repente, a gaja de 39, complexada com o corpo, que não fazia sexo há quase 2 anos e que sempre se achou uma nódoa na cama, começou a parecer uma cougar de 39 a aproveitar-se de um cordeirinho indefeso de 31 (quiçá quase virgem). Valha-nos Deus! Querem que eu continue? Têm a certeza?

 

Utilizei um bastãozinho que tinha em casa (um teaser para gatos ao qual arranquei os berloques ah ah ah) para ir brincando com o corpo dele e socorri-me de gelo (que era o que havia à mão). Vi-o suspirar fundo e rápido. Existia algum prazer na tortura. Despi-o aos poucos enquanto fui pedindo a ajuda dele para me despir também. Fiquei em soutien (nunca ousou abri-lo) e em cuecas (nunca as tirou). Peguei nas suas mãos e passei-as pelo meu corpo, mas elas demoravam-se muito pouco aonde eu queria. Pu-las entre as pernas, mas ele não sabia o que fazer com elas nem onde se concentrar. Comecei a enervar-me. Desci e ajoelhei-me à sua frente. Nunca deixei de lhe perguntar se estava tudo bem, se confiava em mim, se estava a gostar. Dizia que sim. Fiz-lhe sexo oral. Gemeu. Perguntei-lhe o que é que ele queria a seguir. Estava perdida, sem entender muito bem o que é que era para fazer. Deixei-o escolher e conduzir-me. Tentei jogar com as circunstâncias e ser inteligente. Ele disse que queria "meter-se dentro de mim" e eu pensei "boa, finalmente chegou a minha hora"... Deitei-me sobre a mesa da cozinha e foi aí que tudo descambou. Quando eu me deitei na mesa da cozinha, pensei que ele me fosse preparar para o que ele queria, ou seja lubrificar-me, mas não. Partiu directamente para o final e claro, não correu bem. Desde não ter preservativos e eu ter de interromper a cena para os ir buscar ao quarto, ao queixar-se de que a mesa era muito alta para ele, ao mudarmos para o chão e voltar a queixar-se de que lhe doíam os joelhos... foi tudo uma frustração. Preferia as posições mais cómodas, sentado no sofá ou o básico, deitado no chão. De repente comecei a perdê-lo, só me perguntava que horas eram e dizia que já devia estar em casa. Levantou-se, vestiu-se e foi-se embora apressado. Nem se despediu. Acabei a noite sentada no sofá, sozinha, a beber vinho, sem happy ending. Uma tragédia, portanto.

 

Gostava de abordar a questão e falar abertamente sobre o que aconteceu, mas não quero fazê-lo sem que seja ele a puxar o assunto. Ontem só lhe enviei uma mensagem a perguntar como tinha corrido o teste no trabalho e ele respondeu que tinha passado, com um smiley. Calei-me e nunca mais disse nada. Acho que o posso ter assustado. Não sei. Sinto que posso ter sido um pouco mais hardcore do que o que ele esperava. No fundo, ainda nos estávamos a conhecer. Sou uma pessoa bastante sexual e apesar do sexo vanilla ser o meu preferido, consigo ser bastante wild quando quero. Nesta situação, parti com o que tinha. Não havendo grande intimidade entre nós, achei que era sexo pelo sexo o que ele procurava e afinal de contas podemos ter passado um bocadinho os limites logo na primeira vez. Talvez algo mais soft sem partir logo para o final teria sido uma opção melhor. Ainda nem sequer tínhamos curtido. Vejo-o como alguém jovem, com pouca experiência sexual. Entrou muito novo para o exército, é meio paranóico com a disciplina, super dedicado ao ginásio, está deslocado há vários anos... Toda aquela atitude mais reactiva parece-me uma postura de quem pode ter tido como primeiras experiências sexuais prostitutas e a quem a intimidade incomoda muito. Pago para me fazerem. O estilo. Não sei, não quero estar a overthinking. No entanto, fico um pouco sem saber como me posicionar. Se é que é para me posicionar. 

 

Vou dar-lhe espaço, deixá-lo reflectir. O facto é... quem continua horny as fuck sou eu! A verdade é que esta experiência, empoderou-me, confesso. Celebrei e honrei o meu corpo e isso é maravilhoso. No trauma. Foi mau por um lado, mas extremamente positivo pelo outro. Não dizem que a vida nos envia aquilo de que estamos a precisar? Porque raios cismei que não era capaz? Esta experiência até poderia ser engraçada para os dois. Who knows?

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Este fim de ano está a ser exigente. Costumam ser todos. Sinto-me des-fa-le-ci-da. Não é que esteja a ser mau, porque no geral não está, mas ando triste com determinadas situações familiares e não consigo concentrar-me muito bem em nada. Não me sinto propriamente inspirada ou capaz. Ando descrente de uma forma generalizada. (quantas vezes vocês já não ouviram isto). Preciso de uma aventura para me sentir viva. Um tipo de aventura específico. Quero um fuck buddy. Acho que a idade dá-me esse direito. Tenho perseguido esse objectivo com mais dedicação agora que voltei às apps. Afinal é nas apps que eles estão. No entanto as apps não batem com o meu algoritmo e às vezes penso que sou só uma parva a fazer coisas estúpidas. Eu gosto de arder em fogo lento e as apps - assim como o resto das interacções actuais - parecem granadas. Ou é ou não é porque o mercado é grande e há sempre gente disponível para fazer o que nós não queremos. É bastante frustante.

 

Não consigo mover-me mais depressa. Embora eu não tenha perfil para manter um fuck buddy, começo realmente a sentir que o corpo pede e a cabeça precisa. É verdade. Sinto que agora que me aproximo dos 40 começo a ver o sexo do ponto de vista biológico. Parece-me mais cru, mais normal  também e sinto mais vontade de o fazer. Nem tudo pode ser mau. Esta coisa do sexo pelo sexo tornou-se uma meta pessoal. Quero divertir-me, tenho esse direito, assim como quero provar a mim mesma que sou capaz de voltar a fazer o que já fiz antes: ter sexo com alguém sem estar apaixonada por essa pessoa. (não costuma correr bem, mas... who cares?). É contraditório, eu sei. Prometi a mim própria nunca mais me envolver com ninguém sem gostar de. (mas acho que quando fiz essa promessa o que eu queria evitar eram relações insonsas perigosas). 

 

Digamos que apareceu alguém que poderia ser candidato a. PODERÍA. Futuro do pretérito. Aquele tempo indefinido em que a gente não sabe com que linhas se cose. Já nos encontrámos (na casa dele) e apesar da proposta estar em cima da mesa de uma forma muito clara e muito explícita, ele até foi bastante educado e cavalheiro, embora não se tenha coibido de dizer que se eu não estivesse interessada, ele passaria à frente. Um jogo que a mim me tira todo o tesão possível. Senhoras e senhores, nunca façam isso se não se quiserem f#der antes de serem f#didos. Ele é bonito, muito bonito, um Deus grego esculpido a dedo que pouco ou nada me diz. (que azar!). É mais novo (o que complica um pouco as coisas) e é de outra nacionalidade (o que também implica ajustes). Digamos que não é um homem quente como são os latinos. Sinto-me um pouco desconfortável dadas as circunstâncias, mas não deixo de estar um bocadinho interessada nas diferenças. O sexo para mim costuma ser uma consequência do envolvimento gradual entre duas pessoas e não um ajuste directo que é feito para dar jeito a ambas as partes. Eu até gostava de simplificar a minha vida e aproveitar o que as apps me estão a oferecer, mas não sei se consigo ultrapassar o fosso que existe entre nós. Consigo perceber que ele é um homem bonito (foi por isso que fiz like). Consigo sonhar com aqueles braços à minha volta e aquelas mãos no meu rabo, mas (ainda) não consigo pensar nisso o suficiente para não pensar no resto. Não sei se é porque estou neste estado meio vegetal ou se porque ele efectivamente não colabora. 

 

Ele acaba por se destacar num panorama onde não há muita gente, mas prevejo que desista muito em breve uma vez que foi logo anunciando que o faria caso eu não me chegasse à frente. Um mau principio que eu até perdoo em troca de bom sexo. O problema é que eu não quero mais uma decepção nesta altura do campeonato. E pelo perfil dele e a idade, fico meio desconfiada que aqueles músculos todos escondem um sexo pobrezinho e pouco nutrido. Ou então estou muito enganada (adoraria) e ele é um puro sangue escondido. Os homens mais novos não tem normalmente muitos recursos para utilizar a não ser o físico e é por isso que se ele já usou tudo o que tinha para me dar e eu não fiquei impressionada, ele não vai continuar a investir nisso quando isso resulta com a maioria. Se bem que eu desconfio que ele ainda vai tentar mais algumas vezes, antes de abandonar o barco de vez. Morri a rir quando ele disse - por mensagem, após o encontro - que apesar de parecer reservado e calado, no quarto era bastante activo. Como podem ver, estou a lidar com uma criança que ainda não aprendeu que os homens a sério não precisam de se gabar. É obviamente prematuro tirar conclusões precipitadas, mas eu já sou um pouco rata nestas andanças: será que ele vale a pena a queca que promete?

 

Às vezes apetece-me soltar a louca que há mim, chegar lá e mostrar-lhe como se faz, mas depois fico com receio - nem sei bem se de mim ou se dele. Ele pode estar habituado a cenas muito hardcore e eu não me aguentar. Sinto que preciso ultrapassar este trauma que tenho com o sexo e com o não conseguir disfrutar do sexo e com o não me considerar uma boa queca. Desde a última vez (há sensivelmente 2 anos) que esses pensamentos me toldam o juízo e já não são para a minha idade. Tenho de me deixar de merdas, caso contrário nunca mais farei sexo na vida e eu quero muito fazer.  A verdade é que o meu histórico sexual não é muito feliz. Perdi a virgindade com um tipo que conheci na faculdade. Nem ele nem eu sabíamos o que fazíamos (mas ele achava que sim e na altura eu não tinha termo de comparação). Umas poucas quecas a sangue frio, horrorosas e ficámos por aí porque ele não estava apaixonado. A seguir namorei um francês. O melhor namorado que tive e o pior na cama. (nunca foi fácil). Tentei conversar com ele várias vezes sobre a nossa famigerada vida sexual, mas para ele estava "tudo trés bien". Nada de perliminares, nada de sexo oral, nada de erecções prolongadas e viris. Depois dele houve a fase das quecas ocasionais sem amor que também não foram melhores até que chegámos a um tipo com quem havia uma química engraçada. O sexo com ele parecia sempre uma aula de cycling, suava imenso, ofegava como se tivesse a ficar sem pulmões e também não sabia nada de preliminares, mas havia qualquer coisa que me fazia querer estar sempre em cima dele. Os beijos encaixavam na perfeição, eram melosos e suculentos. E ele tinha a delicadeza de me abraçar depois de pinarmos, o que ajuda bastante a criar a intimidade necessária para a pessoa se sentir minimamente confortável. Não houve oportunidade de explorarmos mais porque não durou muito. Isto tudo na casa dos vintes.

 

Aparece então o meu ex. Não era um sexo fenomenal, mas era aquilo que - perante os restantes - me pareceu mais consistente e funcional. Muito mecânico, muito vocacionado para o prazer dele. Bastante fraco ao nível do sexo oral, mas eu também nunca fui de lhe fazer muitos agrados. Não havia de facto desejo nem paixão entre nós, eu sentia que era um dever ter sexo com ele. Em 3 anos de relação, devem ter existido 3 orgasmos. Depois dele, adoeci e refugiei-me em casa. Descobri os prazeres das masturbação e acho que me rendi um bocado a isso. O que acaba por ser muito normal depois do que vos descrevi. Ninguém conhece melhor os nossos corpos do que nós próprios. Há dois anos atrás, quando me envolvi com aquele tipo com quem tentei ir para a cama, foi a primeira vez que senti que estava realmente "a fazer amor" embora já ninguém use esta frase para descrever o acto em si. Não havia confiança suficiente para disfrutar disso, mas havia química, tesão e acima de tudo, verdade. O gajo chupuõu-me da cabeça aos pés e dormiu o resto da noite agarrado a mim como se eu fosse o último tigre da savana. É de uma pessoa ir às lágrimas meus amigos.

 

Agora vocês estão a perceber-me, não estão? 

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Ando solenemente entediada. Um tédio assim da-que-les. Imensurável. Mas um entediada criativa e boa onda, pelo menos até à próxima TPM. Voltei a falar com o mocinho. Já vos tinha dito. Na altura não pensei muito no que fiz. Puxei conversa depois de uma semana sem comunicações. Na verdade pouco me importa o que ele anda a fazer - embora ele faça sempre questão de frisar o quão encalhado está e o quão pouco bem sucedido é no que diz respeito aos engates (uma coisa que eu acho muito estranha vivendo ele numa grande cidade). Falo quando me apetece e quando não me apetece, não falo. No entanto, as conversas mais recentes foram... FIXES. Quanto mais falo com ele, mais me parece um tipo porreiro. Com bons valores. E fofinho. Acho que podíamos ser amigos. Claro que me faz confusão falar há imenso tempo com uma pessoa à distância, mas euzinha - a que ousou proferir que se ele não falasse a coisa ia terminar - sou a que não deixa efectivamente de falar. Valha-nos Deus nosso senhor que isto não está nada bem encaminhado. Às vezes penso que o fazemos por defeito. Ou seja, não havendo outros candidatos, falamos um com outro para nos ocuparmos. O que não deixa de ser verdade, pelo menos da minha parte. O que acontece é que quando não recebo atenção fico un poquito chateada. Solo un poquito.

 

Será isto a versão digital dos penpals?  Falamos de tudo. De coisas importantes, sérias e de sexo também. Ou neste caso, da falta dele. E, a última vez que falámos, ele incentivou-me a voltar a ter sexo com alguém. Coisa que eu até apreciava, mas que não tem sido viável. Acabei por contar-lhe como tinha corrido a última vez e como não consigo disfrutar ou sentir-me completamente relaxada. Fui totalmente honesta. Acho que é isso que curto nas nossas conversas. Ele não se faz passar por um garanhão puro sangue e eu estou a tentar não me fazer passar pela mulher maravilha. E o cru disto é o que tempera a cena.  Há uns dias fui à manicura - a versão low cost dos psicólogos - e falei-lhe dele. A tipa disse-me assim "eu acho que lhe achas graça, mas não queres admiti-lo". Fiquei a pensar no assunto. Tanto que acabei por confessá-lo. A ele. Isso mesmo que vocês estão a ler, no meio de uma conversa ele perguntou se eu me envolveria com ele e eu respondi "que ele tinha qualquer coisa que eu achava graça, mas que não sabia se era o suficiente para me envolver com ele". Fiz bem? Fiz mal? A seguir arrependi-me. Arrependi-me porque me pareceu mal o "acho graça, mas não sei"... Sei lá. Pobre rapaz, o que ele atura. 

 

Que ele está efectivamente disponível para me ajudar a ultrapassar uma série de bloqueios, está. Fisica e psicologicamente, é só escolher a via que eu preferir. LOL. Na verdade, com a sua falta de jeito - aquela que eu achava que ele tinha - o gajo já sacou muitas coisas a meu respeito e eu ainda não saquei nada sobre ele. Com verdes e maduras, ele vai apalpando terreno e eu sinto que estou a perder pontos desde o dia um. Entretanto tenho uns 30 pedidos de amizade pendentes no face. Maioriatariamente casados. Ou reformados. E não me apetece adicionar nenhum. Não estou para grandes conversas. A única pessoa com quem tenho conversado é com o mocinho. Devo preocupar-me?

 

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Estou viva. Não sei se vos interessa muito, mas estou bem viva até. Sinto-o. Se há coisa que eu precisava muito era sentir-me assim: viva. Durante os últimos anos da minha vida - anos duríssimos por supuesto - não consegui acreditar em outra coisa senão na hipótese quase certa da vida não ter mais nada reservado para mim. Como poderia ela surpreender-me depois de me ter quase levado? Parecia-me bastante impossível. Ainda parece às vezes, confesso. A dor - com quem tenho mantido uma relação de diplomacia - foi a única coisa em que acreditei. Como se fosse possível viver sob este pacto: a vida não me fazia sofrer mais em troca de uma existência pacífica e pouco condimentada. Começo a suspeitar que se calhar eu não sou uma mulher assim tão pacífica, se calhar eu não me contento com uma vida assim tão pouco condimentada, se calhar eu quero mais e ao contrário do que eu pensava antes, não há nada de errado em desejá-lo muito sobretudo depois de ter sofrido tanto. Eu QUERO. Tudo a que tenho direito. Tudo o que (ainda) não tive e tudo o que tive e de que gostei (e não me importava de repetir). 

 

Gerir tanto sofrimento e tanta dor em simultâneo fez-me fugir de tudo e de todos, até de mim. Há momentos na nossa vida em que a única coisa que nos resta fazer é ligar o piloto automático e esperar que a turbulência passe. Foi mais ou menos isso que me aconteceu. Primeiro tratei de sobreviver e depois, quando houvesse tempo, se houvesse tempo, eu havia de chorar. Pensei, ingenuamente, que evitando a vida, evitaria também mais dores. Na realidade, habitei um corpo sem desfrutar muito dele. Não ter tido relações sexuais durante estes anos foi uma escolha minha. No fundo, não deixei que ninguém se aproximasse. Não sei se vocês já passaram por alguma situação semelhante, mas a sensação de impotência que nos invade quando se ordena ao corpo uma coisa e ele não responde, é horrível. Durante muito tempo, olhei para o meu corpo como a origem de toda a dor que me era impigida. Durante muito tempo o meu corpo pertenceu aos médicos e à medicina, (ainda pertence na verdade), e nesse processo, o meu sexo, o que me definia enquanto mulher, a minha sensualidade, foi-se perdendo. Não me sentia desejada e não me sentia muito sexual embora continuasse a ter muito desejo. Só comecei a resgatar de novo essa ideia quando percebi que estava a voltar a ter algum controlo sobre o meu corpo. Quando o submeti a alguns desafios e os resultados apareceram. O ginásio foi (e continua a ser) a minha terapia. Depois vieram as primeiras saídas, os olhares, as conversas, os dates, A pessoa. Ainda que o nosso caso tenha sido uma comédia americana foleira, devo-lhe um bocadinho isso. Acho que o gajo que escreve o guião o colocou na minha vida com essa finalidade: lembrar-me que era mulher e que o meu corpo continuava a ser desejado como já tinha sido antes provavelmente com a intenção de me preparar para quem viria a seguir. A única que na verdade via limitações era eu. É sempre sobre nós.   

 

Um dia, cansada de tentar estabelecer conexões e não conseguir, perguntei a um amigo meu dado às terapias alternativas se eu não teria um chacra qualquer bloqueado e ele respondeu-me com a sua voz de garantia que não, que a única coisa que eu precisava era acreditar mais em mim, que estava no caminho certo e que ia lá chegar levasse o tempo que levasse, o importante era não desistir. No fundo, foi um bocadinho isso que aconteceu. É isso que tem acontecido. Fui-me abrindo, aos poucos, e deixando a vida entrar. Sempre com medo claro, mas com mais vontade também. Eu disse-vos que sentia que 2022 era o ano, que estava próximo. E estava. O jejum está quebrado, o trauma ainda não. Acho que vou precisar de mais uns quilómetros até me sentir um bocadinho mais inteira. Ou mais segura. Ou mais confiante. O que eu sei melhor hoje é que se calhar nenhum de nós está assim tão inteiro como parece e que isso não é necessariamente uma coisa feia. Devíamos ser todos mais honestos, mais vulneráveis e mais maduros em relação aos nossos processos de reorganização emocional. Não há exercício mais bonito do que alguém a tentar ser feliz, cada um com as suas dores.

 

Quis escrever-vos na altura, no momento quente, mas não consegui. Deixei-me apenas sentir. Acho que isso foi realmente o mais importante: permitir-me sentir pela primeira vez em muito tempo. Permitir-me ser vulnerável, humana, real e deixarem-me ver, assim. Mesmo que eu o tenha tentando disfarçar, não consegui. E isso foi assustador... e raro. O bom de nos deixarmos viver um bocadinho é que tudo sabe a novo. Quando vos escrevi que foi muito mais do que sexo, é porque na realidade, toda a experiência teve o impacto de um meteorito. Mas um impacto bom. Quando uma amiga minha me perguntou como é que tinha sido a minha segunda primeira vez, eu respondi-lhe que agora é que tinha sido a primeira a sério! Tecnicamente não foi um sexo estrondoso, não podia ser, acho que nunca o é na primeira vez e muito menos depois de muito tempo sem. Não foi sexo. Foi outra coisa. Não vos consigo explicar. Foi qualquer coisa estranha. E boa. E estranha. E nova. E diferente. Qualquer coisa que me levou a pensar: "caramba, a minha vida, afinal, agora é que está a começar". Ainda bem que isto ainda me estava reservado. Ainda bem que depois de tantos fins, a vida me ofereceu, de novo, uma primeira vez. Valeu a pena esperar.

 

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Pois é meus amigos, adivinhem lá?! Isso mesmo... Continuo solteira! Solteiríssima. Confesso que começo a entrar numa zona em que sinceramente, olhem, quem não quer ningúem agora sou eu. Estou um bocado farta disto. (seja lá o que isto for). Estou farta de não estar farta de alguém. Talvez seja isso. Não há ninguém interessante, não aparece ninguém interessante e não sei onde vou descobrir alguém interessante. Às vezes eu própria não me sinto interessante e quanto mais tempo passo solteira, mais vezes essa ideia parva me passa pela cabeça. As aplicações não funcionaram, o resto (muito limitado por causa do Covid) não funcionou, nada funcionou, nada está a funcionar. Vou esquecer o assunto. Passo a escrever sobre o quê? Culinária?! Lo que sera, sera.

 

Tenho algumas amigas que se estão a divorciar agora ou que se divorciaram recentemente, (é o que dá a malta começar cedo demais), e optaram por curtir a fossa pela via do degredo. (nem vos conto). Mudaram radicalmente a sua postura, uma coisa que me faz muita espécie honestamente. Começaram a postar muitas fotos nas redes sociais, (a sensualizar, claro), assim como muitas frases (aquelas indirectas que são a primeira pista de que não estão tão bem como querem fazer parecer). Não é muito a minha praia se é que me entendem. As minhas fossas, quando as tenho, gosto muito de as curar em casa, recolhida no meu sofrimento. Essa coisa de curar a ferida de cão com pêlo de outro cão não é para mim. Aliás, não me parece que seja para ninguém porque o resultado pode acabar por ser, na maioira das vezes, bem pior. Quando a pessoa está carente, só faz merda. Os lutos fazem parte do crescimento. Não me parece que seja assim muito boa ideia passar por cima deles ou evitá-los. 

 

Outro dia, falava com uma colega do ginásio (instituição aonde eu não tenho ido ultimamente e convinha voltar pensar no assunto seriamente) sobre o luto. Ela, divorciada há 3 anos, reclamava do mesmo que eu: "onde é que estão os homens interessantes"? Senti-me um pouco mais amparada, afinal existem mais mulheres a passar pelo mesmo e a sentir o mesmo. Tamo juntas!  É importante reiniciar novas relações depois do luto, mais não seja para quebrar com o passado e pôr um ponto e vírgula nesse capítulo da nossa história, mas onde é que eles andam? Esses homens que supostamente se deveriam estar a divorciar agora das primeiras mulheres para pinar connosco?! Não sei! Vocês sabem? Acontece que ela, com um pouco mais de 40 e eu, com um pouco mais de 30, (lol), somos da velha guarda, gostamos daquele engate foleiro, convencional, protocolar e disso já não há muito.

 

O que é que há? Olhem, dezenas de miúdos, (que não se pode chamar outra coisa a estes exemplares), que ainda há bem pouco tempo aprenderam a fazer xixi no penico e agora enviam dick pics como convite para um programinha. Nunca me aconteceu, confesso, mas às minhas amigas sim. E a vocês? Valha-nos Nossa Senhora da Sensatez, isso é normal? Não me parece nada normal. Assim como não me parece nada normal que te perguntem, numa aplicação, depois do nome, donde és e o que fazes, se gostas de sexo. À partida toda a gente gosta, eu gosto muito, mas não é por isso que vou marcar um encontro com a primeira pessoa que me mostrar a pila, certo? Desisto. Estou velha demais para isto meus caros. 

 

Vou comprar um gato e reformar-me.

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Só para relembrar que o ano passado, assim logo nos primeiros dias de 2020, dei de caras, por mera casualidade, com um  horóscopo amoroso que vaticinava um reencontro, inesperado, com alguém do passado. Por acaso a minha cabeleireira, perguntou-me outro dia: "e um namorado ou affair antigo que não tenha dado certo na altura e agora até podia dar, não te ocorre ninguém?". A verdade é que não. E tenho cá para mim, com a sorte que tenho, que à segunda ia voltar a não dar certo.

 

Quer dizer, há um em quem penso sempre com muita estima - que foi assim uma espécie de lusco fusco - sei lá eu se a coisa tivesse durado mais tempo, não tinha descoberto, afinal, que o odiava...  Mas enquanto durou - uns míseros 3 meses muito mal aproveitados, diga-se de passagem - foi assim aquela química fácil, cheia de pica, que só acontece uma vez na vida. Pelo menos eu sentia isso. Da parte dele não sei. A criatura era tipo íman, só me apetecia atirar-me para cima dele a toda a hora e ele não era giro nem grande coisa na cama, dá para acreditar? Será que era da idade e das hormonas estarem a funcionar nos níveis normais? Eu sei lá, o que eu sei é que nem antes nem depois da dita criatura, me apeteceu jamais estar em cima de alguém como me apetecia estar em cima dele. Quer dizer, apetece-me bastante estar em cima de alguém, pelas razões óbvias. Mas não de qualquer um. A verdade é que nunca mais senti o mesmo. As ditas borboletas na barriga.

 

Era aquele tipo de química fácil, sabem? Não dava trabalho e fluía como óh caraças. Ele era muito bom de conversa. Dizem que o sexo começa no cérebro, não é verdade? Ora aí está. Era inteligente. Era pacífico. Se calhar um menino da mamã sem grande queda para bad boy. Combinávamos programas simples num abrir e fechar de olhos. Não precisávamos de grandes cenários. Corriam sempre bem. E com a sensação que estávamos ali os dois. A curtir o momento. Ou a cena. Não fizemos planos. Não nos levámos a sério. Não falámos do passado. Melhor, não falámos do presente. Era o que era. E enquanto foi assim, foi do caraças. Não apreciava muito o estilo dele, confesso. Fazia-o parecer mais velho e descuidado. E no sexo, acho que se preocupava demasiado com a performance, como se a coisa fosse uma prova olímpica, mas o beijo... aiiiii o beijo! Fazia-me levantar os pés do chão. Tinha os ingredientes todos e encaixava perfeitamente no meu. Era alto e tinha uns ombros grandes tipo o Cristo Rei. Sentia-me the only girl in the world quando o gajo me abraçava. Vixe Maria, que arrepio!

 

O que é que correu mal? A verdade é que eu não sei, desconfio. Um dia, cobrei um bocadinho mais do que era suposto. Mulheres, né? Sempre a mesma coisa. Dei a entender que não me bastavam só uns programinhas com queca a seguir. E? E foi aí que se deu o remake do Lost in Translation. Não entendi nada, só sei que a criatura desapareceu e eu nunca mais lhe pus a vista em cima. Uma história tão pouco original. Nunca mais pensei muito nisso, mas às vezes tenho curiosidade em saber se tantos anos depois - com tantas merdas em cima do lombo - como seria reencontrar-nos. Será que seria a mesma coisa? Provavelmente não. Cenas boas não se repetem muito.

 

Entre as relíquias do passado, há também um desgraçado a quem não dei a minima hipótese, mas era tão dedicado, tão dedicado, que tenho a certeza absoluta que deu um bom marido. Às vezes penso, "fogo, uma alma como a dele era tudo o que eu precisava agora", mas estou pagando pelos pecados de o ter usado e deitado fora. Bom, não foi bem assim. Ele gostava muito de mim e eu gostava muito de outro. Ele era super tímido e não se dava muito a conhecer, não dava aquela pica que alimenta um bocado a combustão da coisa, então eu sentia que quando estava com ele, estava sozinha comigo, porque não fazia grande diferença. Parecia mudo. Nunca dizia nada. Tinha de ser sempre eu a preencher os espaços vazios e isso é uma enorme canseira. Homens, por favor, vendam o vosso produto, mas sem exageros. Façam-se interessantes e demonstrem interesse, mas sem dar muito canal, tá? E nunca, mas mesmo nunca, fiquem calados, tá?! É claro que sou a primeira a admitir, que nunca, jamais, me devia ter metido com ele. Fiquei a sentir-me super, mega mal. E ainda por cima nunca houve uma conversa honesta sobre o assunto. Ficou assim uma grande nódoa no curriculum. Espero que não tinha ficado (muito) traumatizado. 

 

E pronto, tirando essas duas pessoas, e por razões diferentes, não penso em mais ninguém. Então não 'tou enxergando grande chance da profecia se concretizar. O que eu não dava para sentir aquelas borboletas na barriga outra vez... Será que elas existem mesmo ou são só um curto-circuito no sistema? De qualquer das formas, 'tou esperando, 'viu? O universo que me mande o que bem entender. Ou quem bem entender. Faltam 6 dias para o tal gajo que escreve o guião da minha vida se orientar. 

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