Hoje tenho que vos falar do meu vizinho. Sim, vizinho. Devo ter contado - mais ou menos há um ano atrás - que mudei de casa, mas não vos contei que desde a Primavera deste ano passou a haver um vizinho. Fiquei muito empolgada com a ideia. Muito mesmo. Finalmente ia ter a quem pedir emprestado um abre garrafas. Sucede que o meu vizinho era quem? Um brazuca que andava lá no ginásio. Ele e a sua família - a mulher e duas criaturinhas. Durante uns tempos alimentei a esperança de me convidarem para um pagodinho ou para uma muquecazinha, mas a coisa não se deu. E não se vai dar infelizmente. Acabaram de se mudar, outra vez. Ou seja, já não há vizinho. Assim de repente até parece o resumo da minha vida amorosa, "falávamos, já não falamos".
Portanto, nada de pagode e nada de muqueca. Sempre que me via pedia imensa desculpa por causa do barulho que os filhos faziam. Super educado, super nota 10 mêmo. Criou-se todo um personagem à volta dele, moreno, musculado, óculos como os do Harry Potter , farda do trabalho e sorriso-abre-chacras (o segundo que eu vejo este ano por sinal). Quando chegava a casa eu ouvia os filhos perguntarem pelo intercomunicador quem era e ele respondia "é o amô da sua vida" . Resposta que me mexia sempre com as entranhas. Caraças.
Uma vez reparei que havia no lixo uma plantinha e pareceu-me ser deles. Tentei resgatá-la e colocar na entrada comum da casa. Não fui bem sucedida. A planta morreu. Envergonhada da minha tentativa de resgate mal sucedida, arranjei umas suculentas que sempre resistem mais e coloquei-as num vaso à porta de casa. Há uns dias, ao fim do dia, reparei que havia uma planta gigante, maravilinda ao lado das minhas suculentas. Deixei onde estava. Achei que era uma brincadeirinha da minha mãe. Tinha comentado com ela que queria comprar mais plantas e como andamos de candeias às avessas deduzi que ela me tivesse feito a surpresa. Não haviam muito mais hipóteses. A meio do jantar tocaram-me à campanhia. Quem era? O vizinho. Disse-me que se iam mudar, pediu desculpa pelo barulho todo (de facto, era muito) e agradeceu toda a paciência que tive dizendo "reparei que você gosta de plantas, queria deixá essa com você". Ooooh, morri. Digam lá se não é o gesto mais fofo do mundo... Fiquei tão feliz. Senti o coração a aquecer por dentro instanteneamente.
Sentei-me no sofá enquanto namorava a nova planta lá de casa e comecei a pensar em tudo o que foi este ano que ainda não acabou. Apaguei uma das apps. O mocinho deixou de reagir e de falar e eu também. Fui indemnizada em 27€ pela viagem que comprei e não cheguei a fazer. Apaixonei-me. Pelo menos uma vez. Quebrei o jejum. Continuo solteira. Ofereceram-me uma planta. Está tudo bem. A vida é tão boa, não é? Perante as notícias tristes que me chegam quase todos os dias, só posso sentir-me afortunada. Porque raio é que nós cismamos que a felicidade está nas coisas que não temos? Talvez eu não esteja à procura de um amigo colorido... Talvez eu esteja à procura de um vizinho. Talvez seja mais isso.